2.11.07

Cheque ensino e Ensino Público II

Acho este parágrafo de Pedro Sales particularmente revelador:

Em resposta aos posts aqui publicados sobre os rankings, o João Miranda diz que eu respondi à sua critica da incapacidade da escola pública para “anular os efeitos do meio socioeconómico” tentando demonstrar que as escolas privadas também não o conseguem. Vamos por partes. São os defensores do cheque ensino quem, de há seis anos a esta parte, chamam a atenção para a dicotomia entre os resultados do privado e do público para dizer que primeiras são melhores e mais exigentes. Uma barulheira danada por causa de uma diferença de 0,7 valores. Uma assimetria menor do que a revelada entre as escolas do interior e litoral, ou entre escolas grandes e pequenas. E isto, num sistema que escolhe os seus alunos à partida e, desses, os que leva a exame nas suas instalações.


Eu falo do fracasso do Estado quando tenta ultrapassar os efeitos do meio socioeconómico. Pedro Sales quer falar de um assunto que pode andar muito na moda mas que eu não discuti. Tenta levar o assunto para a comparação entre o ensino privado e o público. É irrelevante. O privado pode ser muito melhor ou muito pior que o público. Não interessa. O que interessa é saber se o Estado está a cumprir o que promete. Pedro Sales ainda não conseguiu mostrar que está. Tudo o que Pedro Sales tem escrito aponta para o reconhecimento de que o Estado falha quer quando actua como prestador de serviços quer quando actua como contratante. Outra coisa que não percebo é a relação do cheque-ensino com o ensino privado. O cheque ensino é em primeiro lugar uma solução para o ensino público. Serve para levar mecanismos de mercado ao ensino público. Serve para forçar as escolas públicas a funcionar de acordo com as preferências dos clientes em vez de funcionarem de acordo com as preferências dos burocratas e dos professores. Serve para tornar a gestão das escolas públicas mais eficiente. O cheque-ensino seria uma boa ideia mesmo que só se aplicasse ao ensino público.