22.2.05

A "Economia Real" (portanto...paralela).

O pai, 51 anos e desde 1975 trabalhador da CP, reformou-se. Aufere uma pensão bastante superior à média geral das pensões dos operários (não especializado) que não foram bafejados pela sorte de trabalharem numa empresa do sector empresarial do Estado...

A mãe, 49 anos, inscrita no IEFP, recebe o subsídio de desemprego. Em paralelo, trabalha como empregada de limpeza e "dama de companhia", em várias casas de pessoas conhecidas que pagam os seus serviços informalmente, sem nada declararem. No fundo, nestes serviços, acaba por ser bem paga; recebe mais do que aquilo que previsivelmente receberia de ordenado, caso aceitasse (não aceita!) um dos vários trabalhos/empregos que já lhe têm sido propostos (agora, cada vez menos).

A filha, recém-casada, também ela trabalhadora (não qualificada) da CP ("filho de peixe sabe nadar"), está sistematicamente de "baixa" por doença, recebendo pela Segurança Social. No entanto, preenche o tempo livre (da "baixa") trabalhando como vigilante numa escola e recebendo uma remuneração sensivelmente equivalente ao ordenado que lhe confere o seu estatuto profissional "oficial"....sim, porque este, de vigilante, é naturalmente "clandestino" (nada é declarado).

O marido da filha - até há pouco tempo, um jovem saudável, ex-jogador de futebol no clube local ("Distritais") - encontra-se, também, de "baixa" (solidariedade conjugal?!), tentando, presentemente, percorrer os passos burocráticos necessários para beneficiar de uma reforma antecipada por invalidez (com a ajuda de um amigo que já trabalhou na junta de freguesia e que, também ele reformado antecipadamente por suposta doença cardíaca, explora um bar no bairro social onde reside, pagando 5 Euros de renda mensal).

Mas, bem vistas as coisas, tudo isto é normal; bem vistas as coisas, a actividade profissional da filha e respectivo estatuto (de "baixa"...para trabalhar) é comum a uma grande parte das raparigas vizinhas. Além disso, naquela zona e apesar do número elevado de trabalhadores inscritos no IEFP, quando alguém procura empregados para uma nova empresa/fábrica que tem o estranho projecto de pretender instalar-se por aqueles lados (sabe-se lá porquê...), invariavelmente, não consegue contratar ninguém...para além dos emigrantes ucranianos - que, provavelmente, daqui a mais algum tempo, serão quem suportará o que resta do tecido produtivo daquela zona do país, outrora pejada de micro, pequenas e médias indústrias têxteis, de atoalhados e de calçado....

Ah!....aquela família é (o pai é, logo, et pour cause....) votante da coligação que integra o partido de Odete Santos (desde 1975 e das sessões de esclarecimento político para os operários da CP)....