14.3.07

15 anos depois


"Desemprego, falências e emigração são os principais custos da adesão recente de Portugal ao Mecanismo das Taxas de Câmbio (MTC) do Sistema Monetário Europeu (SME)". (O SME era, na altura, o sistema preparatório da criação da futura moeda única, o euro). ###
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"As indústrias têxtil, do vestuário e do calçado serão as principais vítimas da adesão de Portugal ao (euro)".
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A região Norte - a grande distância de todas as outras - será a região mais afectada pela adesão (...). É do Norte que se verificarão os principais fluxos migratórios de pessoas em busca de oportunidades de emprego. Algumas delas emigrarão para o estrangeiro. Outras migrarão internamente. Para onde? É a esta questão que me proponho responder a seguir."
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"A região de Lisboa - Vale do Tejo é a região que, em termos relativos, sofrerá menos com a adesão. A região Norte a que sofrerá mais. O destino dos emigrantes nortenhos será, por isso, predominantemente, Lisboa."
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"Neste sentido, a adesão de Portugal ao (euro) representa, a prazo, um impulso considerável à centralização da actividade económica na região de Lisboa, em detrimento, principalmente, da região Norte. Não surpreende. A adesão foi um acto político, e os políticos são sempre centralizadores. Se a região Norte era já considerada uma região em declínio, ela sê-lo-à cada vez mais no futuro."
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"Os políticos argumentam que a adesão é uma maneira de pôr Portugal no pelotão da frente. (...) Todavia, a forma como eles põem o país no pelotão da frente é uma forma muito peculiar. Fazem-no, não pondo os mais atrasados da equipa - os trabalhadores não qualificados (do Norte) - a correr mais depressa mas, outrossim, impedindo-os de participar na corrida - isto é, pondo-os no desemprego."
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Em conclusão, eu gostaria de traçar o perfil do cidadão português sobre o qual vai incidir o maior fardo da adesão de Portugal ao (euro). Ele habita no Norte, é um trabalhador industrial não qualificado (geralmente com um baixo nível de educação formal e pobre) e opera predominantemente na indústria têxtil, do vestuário ou do calçado."
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"Se o perfil fosse outro - habitante de Lisboa, trabalhador qualificado dos serviços (geralmente com um alto nível de educação formal e nível de rendimento médio/alto e operando predominantemente na administração pública (incluindo a política) - eu não estou certo que os políticos e burocratas do Estado fossem tão entusiastas da adesão como, na realidade, são."
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(P. Arroja, "Os Custos estão a Norte", Jornal de Notícias, 25 de Abril de 1992; reimpresso em P. Arroja, Abcissas, Porto: Areal Editores, 1993, pp. 96-99)