14.3.07

Um Sonho Azul e Verde

O artigo de Domingos Amaral, publicado hoje no Diário Económico, tem o encanto próprio da ingenuidade dos sonhadores. Domingos Amaral tem um sonho. Um país azul e verde, livre da dependência petrolífera, sem betão à solta, sem o espartilho do euro, um país em que o governo dirige a economia nos investimentos para as novas indústrias, obriga-nos a usar etanol do Brasil e biodiesel de Benavente em vez de petróleo das arábias, educa os consumidores para a necessidade de comprarem carros híbridos ou a hidrogénio e força a aposta na economia do mar, na biologia e no turismo. Um país Second Life, moldado nos gabinetes dos ministros, a bem do povo.
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Mas para que Domingos Amaral consiga ver bem o país das maravilhas, convinha-lhe dar uma espreitadela no outro lado do espelho. É que, a certa altura, escreve DA:

"Assim sendo, os governos estão limitados na sua área de actuação. No fundo pouco mais podem fazer do que subir ou descer impostos. Se os ‘deficits’ crescem, os governos têm imediatamente de subir impostos, para cumprir as regras de Bruxelas".
Do outro lado do espelho, o chapeleiro mágico poderia explicar-lhe que:

1. Os 'deficits' crescem porque os governos os fazem crescer. Se os governos não aumentassem sempre a despesa pública, não haveria necessidade de aumentarem impostos.

2. Os governos não têm que subir impostos para controlar o défice. Podem cortar despesas. Subir impostos é a solução fácil.

3. Os governos não têm que subir impostos por causa das regras de Bruxelas. Têm que subir impostos porque é a única maneira que existe para suportar o crescimento das despesas que eles tanto gostam de anunciar a cada orçamento ou em cada campanha eleitoral. A alternativa ao aumento de impostos hoje é o aumento da dívida pública, o que vai resultar também num aumento de impostos, amanhã.

Pronto, era só isto. De resto, acho o sonho giro. Um estado inteligente a dirigir-nos e a mostrar-nos o caminho. Salazar também teve um sonho assim.