14.3.07

passes de mágica


No post abaixo, o PMF interroga-se acerca do que é que eu teria recomendado como alternativa à nossa adesão ao euro e às consequências nefastas que a adesão iria produzir - como eu previ e se comprovou (cf. post 15 anos depois) -, principalmente sobre as indústrias tradicionais dos texteis, vestuário e calçado, sobre a região Norte e sobre o país em geral.###
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Eu teria recomendado aquilo que recomendei na altura, e penso que fui o único economista em Portugal com exposição pública a fazê-lo. Recomendei que não se aderisse ao euro. Porque a adesão ao euro iria acabar com aquilo que nós sabíamos fazer, que eram, entre outras coisas, essas indústrias tradicionais. E iria acabar com elas sem que se vislumbrasse qualquer alternativa viável, como se verifica agora.
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Porém, a questão do PMF é interessante porque revela uma crença genuinamente portuguesa - a de que o nosso atraso económico, que é ancestral, se pode resolver através de passes de mágica. No início dos anos noventa, o passe de mágica por excelência era a adesão ao euro. Os políticos diziam, então, que com uma tal adesão, Portugal iria ser posto no pelotão da frente,
significando com isso que passaríamos a igualar os países mais ricos da União Europeia. Os resultados estão à vista.
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A origem do nosso atraso em relação à Europa remonta muito provavelmente ao século XVII - e um atraso secular não se resolve, obviamente, com passes de mágica, como é o de aderir a uma moeda única europeia. Durante estes três séculos, houve dois períodos da nossa história que se sucederam um ao outro e que, em conjunto, duraram quase duzentos anos, que cavaram um fosso enorme entre Portugal e o resto da Europa.
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O primeiro foi o do Marquês de Pombal, embora com origem anterior, e que se prolongou até à Revolução Liberal de 1820. Quando, em 1776, Adam Smith publicou A Riqueza das Nações, Pombal estava no poder há 26 anos. Eis o que o grande economista - e fundador da Economia - tinha para dizer acerca de Portugal: "A Espanha e Portugal, os países que possuem as minas (de ouro e prata)... são os dois países mais pobretanas da Europa (...). Embora o sistema feudal tenha sido abolido em Espanha e Portugal, o sistema que lhe sucedeu não foi muito melhor".
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O segundo foi o período que se iniciou com a Revolução Liberal de 1820 e se prolongou até à queda da República em 1926. Quando, ao longo do século XIX, todos os países da Europa se industrializavam a ritmo acelerado, Portugal, que já estava atrasado, ficou, então, drasticamente para trás. Curiosamente, o único periodo da nossa história nos últimos três séculos em que nós recuperámos do atraso face à Europa - e recuperámos substancialmente - é precisamente aquele que é o mais maldito no país, talvez por ser ainda recente. Refiro-me ao período do Esatado Novo.
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Desde então, como já tive oportunidade de mencionar em outras ocasiões, não recuperámos mais nada do atraso face à Europa, nem está à vista que o possamos fazer nos próximos anos. E certamente que não era com passes de mágica como o de aderir a uma moeda única europeia que o iríamos fazer.