31.5.07

A moral descartável

«para não contaminar as relações é importante que ninguém comece por dar lições de moral seja a quem for» repondeu, segundo o JN, José Sócrates em Moscovo quando interrogado pelos jornalistas sobre a respeito (ou falta dele) pelos direitos humanos na Rússia.
Dando todos os descontos à linguagem diplomática obrigatória nestes encontros convenhamos que José Sócrates revelou um estranho entendimento sobre os direitos humanos ao usar um termo depreciativo como «contaminar» ao referir-se aos direitos humanos. Estes não são nenhum lixo radioactivo que contamine o ambiente. Sócrates podia ou não falar desse assunto mas não tem o direito de tratar os direitos humanos como coisa incómoda e contaminante.
Mas o pior é que Sócrates ele mesmo também se esqueceu desses direitos ao ir fazer jogging numa Praça Vermelha fechada aos cidadãos. Se as condições do Kremlin eram essas - Sócrates só poderia correr se a Praça Vermelha fosse fechada à população - educada e polidamente o gabinete de Sócrates deveria ter explicado que, para o povo que Sócrates governa, isso não é aceitável.
Ao contrário do que pensa Sócrates a moral não é um empecilho contaminante. Não temos o direito de impor a nossa moral aos outros. Mas temos a obrigação de não transformar a nossa moral num acessório que umas vezes é indispensável e outras descartável.