1. O Tratado de Lisboa é quase igual à extinta constituição europeia. Então, se estava previsto um referendo para a obra ‘giscardiana’, o mesmo imperativo tem de subsistir. Até porque os dois partidos que se revezam no poder o prometeram na última campanha eleitoral – os deputados foram eleitos sob um compromisso que, politicamente, não os legitima para uma aprovação meramente parlamentar.
Infelizmente, muitos políticos julgam que a lógica da democracia é uma maçada. Mesmo um perigo: e se os povos europeus resolvem dizer que ‘não’? O mais seguro, acreditam, é adoptar decisões tomadas por supostos sábios, em ‘petit comité’, ratificadas em bando e de afogadilho por obedientes funcionários que ostentam o nome de deputados.
Nunca fomos consultados sobre a Europa. E, em política, a forma é importante. Sou um europeísta convicto – mas o modo desdenhoso como a vontade das pessoas está a ser desconsiderada afasta-me deste modelo vertical de construção europeia. A Europa não pode ser feita por líderes em risonhos abraços mas cheios de medo dos europeus.
2. Fala-se em ‘presidência bicéfala’ no PSD porque Santana Lopes é o novo líder do grupo parlamentar. Discordo. Isso serve os propósitos de Menezes na perfeição – será Santana a desgastar Sócrates (e vice-versa) no Parlamento, quinzenalmente. Seja qual for o desfecho, Menezes surgirá incólume, com pose de estadista, a sintetizar o que é importante. E será muito mais ouvido.
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* Publicado ontem no Correio da Manhã