O primeiro choque parlamentar entre José Sócrates e Santana Lopes foi repleto de lugares comuns em que cada um descarregou no partido do outro a responsabilidade do triste estado em que estamos – ambos com evidente razão, convenhamos.
O mérito retórico da prestação do primeiro-ministro esteve em ignorar olimpicamente o Orçamento e ter acantonado Santana nos equívocos do seu percurso. Pouco mais. Os socialistas estavam excessivamente obcecados com Santana – venceu Menezes, por não estar lá.
No entanto, as análises políticas do costume juraram que o primeiro-ministro tinha arrasado.
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Muito mais do que Sócrates, foi esta interpretação que bateu Santana. A maioria dos comentadores políticos personificou a conclusão sarcástica dos que estão sempre à espera do “eu bem dizia”.
É natural – ‘eles’ também se sentiram derrotados quando Menezes ganhou o PSD. Alguns até vaticinaram uma série de pragas bíblicas caso esse absurdo acontecesse. Em Portugal, os que se crêem ‘elite’ nunca se enganam mesmo quando se enganam: essas versões do debate tresandaram ao desejo de confirmação retardada das suas próprias profecias.
O problema é que o povo não quer saber desses diagnósticos feitos de antemão. Quem errou nas Directas laranja não deve persistir nos mesmos desacertos. Melhor seria tentar perceber porque é que Menezes sobe nas sondagens enquanto Sócrates cai, apesar da boa imprensa que o ampara de forma tão atenta e veneranda.
* Publicado no Correio da Manhã de domingo