Maria da Conceição Rita apresentou ontem o seu livro ‘Os meus 35 anos com Salazar’. Hoje com 78 anos, chegou a Lisboa com 6, enviada por uma mãe afogada na miséria, foi recebida em S. Bento pelo ditador (que a tratava por ‘Micas’) e aí viveu até se casar (1957).
As crónicas sobre a obra revelam muito do pior que Portugal era: não falava de política com o seu protector (que criava galinhas nos jardins do Palácio), cresceu isolada na santa ignorância de quase tudo, não se apercebeu do vendaval Delgado mas não acredita que o ditador soubesse do seu assassinato e não tinha noção de que a guerra em África fosse tão complicada.
Ficou contente com o resultado do concurso ‘Grandes Portugueses’ mas, a seguir a Salazar, preferia Aristides de Sousa Mendes – um paradoxo agridoce que é tão nosso: logo depois do ditador, escolheria aquele que este desgraçou por ter sido um justo entre as nações.
* Publicado no Correio da Manhã em 15.XI.2007
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