1ª Porque a democracia representativa em que vivemos tem, cada vez mais, um valor meramente negativo: só serve para afastar do poder quem não toleramos, em vez de eleger, de facto, quem nos represente e preste contas do que faz e do que não faz.
2ª Porque a liberdade individual não se deve impressionar com as ladainhas politiqueiras de que «votar é um dever cívico e uma obrigação de cidadania». A abstenção, o «sacrossanto direito de não ligar», como lhe chamava Pittigrilli, é um direito político tão importante como qualquer outro, e não diminui quem o exerce.
3º Porque, como em qualquer outro mercado, o cliente tem sempre razão: se a abstenção é cada vez mais elevada, a culpa não é certamente de quem não vota, mas de quem dá todas as razões para se não votar. Se a classe política quer votos, que os mereça!
4ª Porque ao longo da campanha eleitoral só se trocaram insultos em torno de questões pessoais e da política interna. Ninguém, ninguém rigorosamente, expôs, defendeu, atacou ou debateu uma ideia sobre a Europa.
5ª Porque os partidos desvirtuaram por completo a eleição a que se vão submeter: os de esquerda querem que ela seja um plebiscito condenatório da actuação do governo e os de direita que ela confirme o apoio ao governo da coligação. O PND não quer nem uma coisa nem outra, mas somente aproveitar uma eleição de grande margem de abstenção e pouca exigência material, para se conseguir afirmar como força política.
6ª Porque os deputados europeus pedem votos antes de serem eleitos, mas não prestam contas a ninguém sobre o que fazem durante os seus mandatos, nem sequer quando os terminam. Ninguém ouviu os Drs. Mário Soares ou Pacheco Pereira, entre muitos, darem uma singela explicação que fosse sobre o que por lá andaram a fazer todos estes anos.
7ª Porque ninguém sabe quem são, como se chamam e o que defendem (se é que defendem alguma coisa ou só se defendem a si) os candidatos imediatamente seguintes aos cabeças-de-lista.
8ª Porque vai ser aprovada brevemente uma «Constituição Europeia» sobre a qual nenhum candidato disse coisa alguma, a favor ou contra, que fosse devidamente fundamentada e se pudesse ouvir.
9ª Porque vivemos num Estado e num sistema onde, cada vez mais, os políticos usam os cidadãos nos actos eleitorais, esquecendo-se deles para além desses fugazes momentos. A política portuguesa é ilusoriamente democrática e participativa: de facto, ela é um sistema fechado aos cidadãos. As elites do poder, em Portugal, são uma verdadeira aristocracia dominada pelas máquinas partidárias, que se fecham ao exterior. Quem viver fora dessas estruturas e pensar que conta no Portugal político de hoje, vive uma perigosa ilusão.
1oª Porque ninguém explicou para que serve o Parlamento Europeu.
