A irracionalidade das campanhas serôdias...
JPP escreve, hoje, no Público sobre aquilo que poderemos designar por tradicional estafa (perdão, modo de fazer "campanha eleitoral") política-partidária.
O seu texto é ainda motivado pela trágica morte de Sousa Franco, em Matosinhos e em plenos trabalhos de "campanha". É, em certa medida, uma homenagem àquele que, sem dúvida, era o melhor cabeça-de-lista às Europeias do próximo domingo, pelo menos das principais forças concorrentes. Sousa Franco estava seguramente cansado. Muito cansado! diz JPP....
Na realidade, desde há muito que também me questiono sobre a utilidade das campanhas tradicionais, à anos 70 (do século passado), com gastos em folclore imediatista e vazio de conteúdo, enfim, sobre a utilidade das campanha tipo arraial (popularucho) em movimento.
Julgo que se torna mesmo ridícula, hoje em dia, em plena era da sociedade técnica da informação, a persistência que os nossos principais partidos mantêm nesse tipo de fogueira vácua de dinheiro, de energias, de esforço humano (e quase nada político), nessa espécie de excursão pelas feiras e supostos conglomerados de população desfavorecida, nesse tipo de roteiro - pleno de sobranceria e hipocrisia !- pelos locais frequentados por essa entidade abstracta denominada "povo" que, implicitamente e a avaliar pelo tipo de abordagem e prebendas disponibilizadas pelos senhores políticos que o visitam, é considerado atrasado mental ! Ainda por cima, torna-se cada vez mais frequente que, no decurso desse circo apelidado de "campanha eleitoral", como nota o Rui A. a propósito das eleições que agora se aproximam (ver post anterior do Blasfemo Rui A), a mensagem e a discussão políticas propriamente ditas sejam cada vez menos difundidas, praticamente inexistentes (note-se, a título de exemplo, que há cada vez menos debates radiofónicos e televisivos, durante as ditas "campanhas").
Subscrevo o que refere JPP. Permitia-me, porém, sublinhar um aspecto que me parece pouco enfatizado, designadamente, na exposição de JPP: o velho e melindroso problema do financiamento partidário.
Com efeito, é este tipo de campanha (em que é frequente os principais partidos gastarem ilegalmente somas astronómicas de dinheiro) que serve de principal justificação para a angariação de fundos, para a criação de esquemas de financiamento (extra-institucional) dos partidos. Ora, suspeita-se que, a reboque e a coberto desses esquemas, sucedam muitas coisas pouco claras e (também) em benefício próprio, pessoal, de alguns políticos e respectivas clientelas - sob a capa do interesse (alegado benefício) do partido.
Assim, isto mesmo, ou seja, a teia de interesses e o véu opaco que, a propósito do financiamento partidário, os cobre, será outra das justificações (quiçá, uma das mais fortes e imperativas) para a insistência neste tipo de campanha eleitoral serôdia.