António de Sousa Franco morreu hoje, no auge de uma exposição mediática intensa, a poucos dias de um acto eleitoral que lhe daria provavelmente uma vitória muito expressiva, e o consagraria como uma referência incontornável no futuro da esquerda democrática portuguesa. Compreendendo-o, o povo socialista e de esquerda, em manifestação de empatia por um homem que se revelara muito para além de um vulgar candidato a eleições europeias, começou a encará-lo como possível sucessor de Jorge Sampaio em Belém, augurando-lhe final de carreira política de grande dimensão.
Sousa Franco morreu no desempenho público de funções políticas. A sua morte, nua e crua, exposta de forma brutal pelos media, choca pela forma como decorreu, pelo momento e pela imprevisibilidade. Não havia, desde o desaparecimento de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa, nenhum outro exemplo tão público, tão exposto, tão devassado e, por isso mesmo, tão violento e impressionante.
Se a política e o domínio público fazem algum sentido, será pelo exemplo que nos deixam os seus protagonistas. Em vida, como na morte. Sobretudo quando, ao impor-se de forma tão abrupta e brutal, esta última se encarrega de nos fazer ver aquilo que, por vezes, procuramos esquecer: tudo o que existe tem um fim e as paixões humanas, vãs por definição, não nos devem consumir ao ponto de fazer perder de vista esse supremo e inevitável mistério.