Um dos mais evidentes sintomas de desequilíbrio da personalidade é a rápida oscilação de humores entre a euforia e a depressão profunda.
Ontem, Portugal passou, num breve espaço de noventa minutos, de uma tresloucada exaltação das suas imaginárias virtudes, para um estado de suicídio colectivo.
Alguém nos convencera que, «bons como somos» e «na moda» como estamos, o Euro-2004 estava no papo. Essa ideia pairava no espírito colectivo nacional, e ondolava nas patrióticas bandeirinhas vendidas a um euro ou oferecidas pelos jornais «de referência».
O simbolismo dos acontecimentos não poderia ter sido, porém, mais aterrador: um jogo que ninguém levava a sério com a Grécia, a nossa eterna rival pelo último lugar do pelotão europeu, realizado na véspera de umas eleições europeias a que ninguém liga, perdido em solo pátrio.
Batida por uma equipa medíocre, de frágil talento atacante e de enorme aplicação defensiva, a selecção nacional limitou-se a continuar a fazer o que tem feito desde o último mundial: não é verdadeiramente uma equipa, não tem fio de jogo, nem estratégia. Vive de alguns talentos individuais que fazem longas e esforçadas maratonas, que terminam invariavelmente com remates frouxos à baliza adversária ou com a perda da bola.
No fim de contas, a selecção incorporou o estado de espírito da colectividade que representa: não se pode esperar que um país deprimido, pobre e triste, amargurado por uma vida sem qualidade, por uma crise económica e moral sem fim à vista, atormentado por questões públicas sem grandeza nem mérito, possa produzir uma equipa de futebol que não seja a expressão dessa depressão colectiva.
O que se passou ontem com a Grécia, dificilmente poderia ter sido diferente. O que aí vem agora, já não dá espaço a muitas dúvidas ou ilusões: somos o que somos, valemos o que valemos. Por ora, muito pouco. Seja na Europa do futebol, seja na Europa política ou noutra qualquer.