3.2.05

Choque de iliteracia económica

A ideia é à primeira vista magnífica. Vamos lá contratar 1000 licenciados para as pequenas e médias empresas. Os licenciados ficam contentes, os pais dos licenciados que tantos sacrifícios fizeram ficam contentes, os empresários das PME ficam contentes e os professores universitários ficam contentes.

O pior é quando alguém se lembra de perceber como é que os 1000 licenciados vão parar às empresas. Note-se que são 1000 e não 999 nem 1001. São 1000 licenciados, ninguém sabe muito bem em quê.

As PMEs já contratam licenciados. Formam-se dezenas de milhar de licenciados todos os anos, e os que não vão trabalhar para o estado, ou vão para o desemprego, ou vão para as PMEs. Normalmente as PMEs contratam licenciados porque os seus gestores acreditam, mal ou bem, que essa é uma opção lucrativa. Se não são contratados mais é porque não são considerados uma mais valia ou uma prioridade para as empresas.

Note-se que a competitividade de uma empresa depende muito mais da organização dos processos no interior da empresa do que de um licenciado estagiário.

Poderão existir empresas que não contratam licenciados porque são mal geridas, mas essas, num mercado livre são punidas pelas suas opções. Estas empresas não devem ser sustentadas artificialmente por subsídios do estado. O estado deve deixá-las falir para que os recursos que elas consomem sejam alocados às empresas competitivas.

José Sócrates pretende mandar 1000 licenciados para as PMEs. Estes licenciados ou vão para PMEs que iriam contratar licenciados por sua própria iniciativa ou vão para PMEs que não estariam interessadas em licenciados. No primeiro caso, a medida é desnecessária. No segundo, o governo terá que subsidiar as empresas para que elas contratem novos licenciados. Mas como não é possível distinguir as PMEs do primeiro caso das PMEs do segundo, o estado vai subsidiar todas, incluindo aquelas que iriam contratar licenciados com ou sem subsídio.

O subsídio não cai do céu. Os subsídios são pagos pelos impostos de toda a gente, em especial dos mais competitivos, e são pagos a algumas empresas. As empresas que mais precisam de licenciados são as menos competitivas, pelo que se o sistema funcionasse bem, este esquema serviria para o estado transferir recursos dos cidadãos e das empresas mais competitivas para as menos competitivas.

Ao interferir desta forma na economia o estado destrói todos os mecanismos de autoregulação da economia. A competitividade é punida e a incompetência é premiada. Alguns licenciados serão contratados por empresas que não precisam deles e muitas empresas só serão competitivas porque estarão a ser subsidiadas pelos seus concorrentes.


Nota: Esta medida deve ser comparada com uma descida de IRC de valor igual ao dos subsídios. Nessa perspectiva ela não acelera a modernização das empresas nacionais porque atrasa a falência de empresas pouco competitivas e reduz o crescimento das mais competitivas.