8.2.05

A classe mais retrógrada

Não deve existir em Portugal classe tão retrógrada como a dos pequenos comerciantes. Será ainda difícil encontrar um sector como este, que mais tenha contribuído para o engrandecimento dos seus principais concorrentes, as grandes cadeias retalhistas. A luta dos pequenos comerciantes contra as grandes superfícies nunca passou nem passará por melhor qualidade, melhor atendimento, melhor design, melhores produtos, horários diversificados, criação de centrais de compras. A sua luta é a habitual das corporações mais arcaicas, o apelo ao "paizinho" Estado para condicionar a actividade dos concorrentes mais dinâmicos, como agora acontece com esta ridícula petição que o dito "Movimento Cívico pelo Encerramento do Comércio ao Domingo" pretende entregar na Assembleia da República.

O mais caricato é que, segundo os promotores do referido MCECD, pretende-se com aquela petição travar a perda sistemática de postos de trabalho no sector do pequeno e médio comércio (!!!). Não entra na cabeça desta gente que alargar o horário de funcionamento do pequeno comércio seria a melhor forma de criar empregos e aumentar as receitas. Jamais se lembrarão de tentar aferir as preferências dos consumidores em termos de horário. Nunca se interrogarão porque florescem as lojas nos centros comerciais suportando rendas entre 30 a 50 euros por m2 e as suas vão decaindo, apesar de pagarem rendas nulas ou quase.

Trabalho na baixa do Porto. Sempre que pretendo fazer alguma compra e tento para tal aproveitar a hora do almoço, deparo na Rua de Santa Catarina, o coração do pequeno comércio, com todas as lojas encerradas com excepção da FNAC e do Via Catarina, estas sempre apinhadas de gente. Ao fim da tarde, o panorama repete-se. O que é isto senão um convite directo para que os consumidores demandem as grandes superfícies?

Eu gostaria de ver as Associações de Defesa do Consumidor a apresentarem também uma petição na AR, mas defendendo a liberalização total dos horários do comércio, pequeno ou grande. Estou certo que rapidamente angariariam mais de 1 milhão de assinaturas e não necessitariam de um prazo de 3 anos como o MCECD para recolher umas míseras 15.000...