4.2.05

DISPARATE DO DIA (2)

Apesar de hoje em dia, fruto da mole de imbecilidades a que vamos sucessivamente assistindo, a capacidade para nos indignarmos ter quase desaparecido, ainda se nos deparam situações que despertam a nossa justa ira. A mim, isso aconteceu-me, hoje, quando, atónito, li o título da entrevista que Agustina Bessa Luís deu ao Independente:
- "Só as mulheres é que deviam ter opinião num referendo sobre o aborto"!!!!!
Passando ao largo a discussão sobre a credibilidade da autora, (que num exercício de pura lucidez, também acha que já devia ter recebido o Nobel), assusta-me o facto de a maior parte das pessoas ler a frase e achar normal.

Sem querer discutir a falácia que constitui a eventualidade de se poder circunscrever o debate sobre uma questão tão grave a um grupo de pessoas, a verdade é que não há qualquer sector da sociedade cuja opinião possa ser afastada. E muito menos, porque é horrendo, se pode afastar a opinião dos homens.
Porque raios é que algo que para acontecer necessitou de uma mulher e de um homem, a decisão sobre as suas consequências há-de ser atribuída a apenas um dos sexos?
É a total e completa marginalização da figura paternal. O progenitor masculino passa por ser uma figura meramente decorativa. Numa sociedade que defende ferozmente a igualdade de direitos entre sexos, é gritante o desprezo a que são votados os Pais. A possibilidade de terem ou não um filho é algo cuja decisão parece ser importante demais para que o sexo masculino, esse conjunto de macacos insensíveis e boçais, tenha direito a participar.


(Carlos Osório)