6.2.05

Mudança: para quê e para onde?

Hoje começou a campanha eleitoral. Uma campanha que nos conduzirá a uma eleição que visa escolher quem nos vai governar nos próximos anos. Quem vai assumir a responsabilidade de alinhar o país por metas que nos conduzam ao Futuro?

De um lado, temos o PSD. Partido que governou nos dois últimos anos, com dificuldades, e por vezes, com alguma inabilidade à mistura; mas que nunca esqueceu que o país necessita de reformas profundas. E que, dentro de certas limitações, as promoveu; outras, ficaram por lançar, na sequência de uma decisão do P.R., pioneira, que entendeu ser necessário reiniciar um ciclo político.

Do outro lado, temos o PS. Com um líder jovem, ambicioso, o Partido Socialista de sempre procura fazer passar a mensagem aérea de que é o único capaz de agarrar o futuro, arremessando aos portugueses chavões tecnológicos e as frases vazias, mas dinâmicas. Lendo o programa de governo e as pessoas que rodeiam JS, não é difícil concluir que o PS de hoje é, sobretudo, o mesmo PS que, de 1995 a 2001, conduziu o país ao que António Guterres definiu como "pântano" político. Ora, o PS não teve tempo de se renovar pela precipitação presidencial, refugiando-se no Guterrismo; mudou de rótulo; o conteúdo é o mesmo.

O eleitorado tem tido esta percepção: por um lado, tem reservas em votar em Pedro Santana Lopes, embora reconheça fortes méritos ao PSD e aos seus governantes; a generalidade do país tem consciência que o PSD é, historicamente, a força política mais apta para promover reformas; por outro, simpatiza com José Sócrates, de modos suaves, rodeado de uma áurea de modernidade; mas desconfia dos que o acompanham.

Neste cenário, surgem nos extremos lideranças fortes: PP e FL consolidam e ganham até espaço político: no dia 20 de Fevereiro, veremos se ele se concretiza - ou não - em votos.

O país tem de ter consciência que o que se está a discutir, nestas eleições, é a continuidade de uma linha governativa que - retirando os fait divers próprios de uma personalidade excêntrica como a de PSL, bem explorada por uma certa esquerda bem implantada nos media - tem sabido, paulatinamente, e de uma forma razoável, promover reformas - ou uma viragem ao centro-esquerda (sem BE) ou mesmo à esquerda (com BE) - que, a reformar - o que me levanta dúvidas - apontará o país para um modelo socialista - no sentido de uma persistência do papel do Estado - que está esgotado, e que nos atrasará ainda mais na conquista do futuro.

Passar esta mensagem não é fácil, pois o PSD, também por culpa própria, deixou-se enredar por uma teia de questões menores que marcaram a agenda política; enquanto procura sair dela, o PS vende aos portugueses a sua produção cinematográfica, starring JS, mas com os figurantes de sempre.

Até ao início da presente campanha, houve momentos em que me deu vontade de castigar o PSD - tendo até conhecido instintos que desconhecia existirem na minha pessoa! - tal a inabilidade demonstrada nas lides mediáticas. Houve momentos, porém, em que me senti um verdadeiro militante do PSD - que não sou! - quando vi alguns dos seus líderes históricos - como Marcelo, Cavaco e Pacheco Pereira - aliarem-se à demagogia jornalística e de uma certa opinião pública para promoverem as suas pequeninas vinganças (para mim, pelo umbigo morreram os mitos); com o correr do tempo, porém, e ultrapassadas estas questões menores, rapidamente concluo que, neste momento, nada disto tem relevância.

E por isso aconselho todos que me lêem a votarem, serenamente, longe das emoções; e que percebam a importância do seu voto.

Traçar Novas Fronteiras, pregar a Confiança, a Alegria, ser o Profeta da Mundança, alimenta-nos os sonhos, permite que nos possamos alienar da realidade.

Mas não nos vai resolver os problemas, nem trazer progresso económico.