Publicado, hoje, no «Domingo Liberal»:
«Aqui seguem os efeitos mais prováveis das eleições de hoje:
1. SANTANA
Uma pesada e provavelmente irrecuperável, derrota política e pessoal de Santana Lopes, da qual, em boa verdade, este acto eleitoral será somente um previsível epílogo. Este desenlace foi marcado no momento em que, contrariando toda a sua «lenda política», Santana aceitou herdar o poder no governo e no PSD, em vez de ir à luta e de o conquistar nas urnas e em congresso. Na altura, por várias razões, teria sido possível ganhar as eleições a Ferro Rodrigues e, desse modo, adquirir uma legitimidade que Santana nunca teve ao longo destes seis meses de governo, facto que ele compreendeu tardiamente e que o tornou inseguro e asneirento, transformando um político carismático e incisivo num verdadeiro «zombie». Há um ano atrás, Santana era detentor de um invejável capital político pessoal, conquistado com esforço, talento e um enorme sentido do risco. Presidente da Câmara de Lisboa, número dois do PSD sem ter de se expor e desgastar no governo de Barroso, putativo candidato da direita a Belém, Santana parecia ter o céu por limite. Em Julho do ano passado, ao precipitar-se a aceitar o presente envenenado de Sampaio, perdeu a «alma» e a identidade. Hoje perderá as eleições e, provavelmente, terminará da pior maneira a sua carreira política, arrastando-se em disputas internas pelo poder no PSD. Bem se pode dizer que o que é barato sai caro.
2. SÓCRATES
Uma vitória pirrica para José Sócrates que, com maioria absoluta ou relativa, terá sempre o seu governo condicionado pela actuação futura do próximo Presidente da República. A dissolução da Assembleia que o levou ao poder bem poderá ter sido o marco do início de uma nova era de protagonismo presidencial. Efectivamente, o presidente tem, à luz da actual Constituição, poderes suficientes para influir na condução política do país e na actuação do governo. Por outro lado, esta Assembleia foi dissolvida por razões de discordância política entre o presidente e o governo, e não propriamente por estar em causa o regular funcionamento das instituições, segundo a intencionalmente ambígua fórmula constitucional. Qualquer outra, no futuro, poderá seguir o mesmo caminho, sobretudo se ocorrerem fortes desentendimentos entre o governo e a presidência. Por isso mesmo, e não tanto para «promover reformas», Sócrates pede obsessivamente uma maioria absoluta, que, ainda que lhe seja dada, poderá não ser suficiente. Sobretudo, se o próximo inquilino de Belém se chamar Aníbal Cavaco Silva.
3. CAVACO
Entrada imediata das eleições presidenciais na agenda política, como ponto quase único e de muito maior relevo do que as eleições autárquicas. Sócrates sabe que uma coisa será governar com Guterres, ou mesmo com Freitas, em Belém e outra bem distinta será ter de co-habitar com Cavaco. Por isso, veremos, no momento imediatamente seguinte à vitória, o PS a investir violentamente contra o antigo primeiro-ministro, na esperança de que ele se incomode e não chegue sequer a candidatar-se. Se, pelo contrário, o fizer, ganhará as eleições à primeira volta, qualquer que seja o candidato que se lhe oponha. E vai ganhá-las porque o eleitorado tem dele a imagem de um bom governante, não propriamente de um homem de consensos e de equilíbrios. O povo que o elegerá, não espera dele «presidências abertas», ou vê-lo em almoçaradas e inaugurações. Quer, isso sim, que ele faça na presidência o que provou saber fazer no governo: governar. Por isso, e porque a Constituição lho permite e o precedente de Sampaio o legitimou, Cavaco terá de aceitar a sua natural condição sebastianista e contribuir para «pôr o país na ordem». Provavelmente, lá para a segunda metade da legislatura, contra Sócrates e o governo do Partido Socialista».
«Aqui seguem os efeitos mais prováveis das eleições de hoje:
1. SANTANA
Uma pesada e provavelmente irrecuperável, derrota política e pessoal de Santana Lopes, da qual, em boa verdade, este acto eleitoral será somente um previsível epílogo. Este desenlace foi marcado no momento em que, contrariando toda a sua «lenda política», Santana aceitou herdar o poder no governo e no PSD, em vez de ir à luta e de o conquistar nas urnas e em congresso. Na altura, por várias razões, teria sido possível ganhar as eleições a Ferro Rodrigues e, desse modo, adquirir uma legitimidade que Santana nunca teve ao longo destes seis meses de governo, facto que ele compreendeu tardiamente e que o tornou inseguro e asneirento, transformando um político carismático e incisivo num verdadeiro «zombie». Há um ano atrás, Santana era detentor de um invejável capital político pessoal, conquistado com esforço, talento e um enorme sentido do risco. Presidente da Câmara de Lisboa, número dois do PSD sem ter de se expor e desgastar no governo de Barroso, putativo candidato da direita a Belém, Santana parecia ter o céu por limite. Em Julho do ano passado, ao precipitar-se a aceitar o presente envenenado de Sampaio, perdeu a «alma» e a identidade. Hoje perderá as eleições e, provavelmente, terminará da pior maneira a sua carreira política, arrastando-se em disputas internas pelo poder no PSD. Bem se pode dizer que o que é barato sai caro.
2. SÓCRATES
Uma vitória pirrica para José Sócrates que, com maioria absoluta ou relativa, terá sempre o seu governo condicionado pela actuação futura do próximo Presidente da República. A dissolução da Assembleia que o levou ao poder bem poderá ter sido o marco do início de uma nova era de protagonismo presidencial. Efectivamente, o presidente tem, à luz da actual Constituição, poderes suficientes para influir na condução política do país e na actuação do governo. Por outro lado, esta Assembleia foi dissolvida por razões de discordância política entre o presidente e o governo, e não propriamente por estar em causa o regular funcionamento das instituições, segundo a intencionalmente ambígua fórmula constitucional. Qualquer outra, no futuro, poderá seguir o mesmo caminho, sobretudo se ocorrerem fortes desentendimentos entre o governo e a presidência. Por isso mesmo, e não tanto para «promover reformas», Sócrates pede obsessivamente uma maioria absoluta, que, ainda que lhe seja dada, poderá não ser suficiente. Sobretudo, se o próximo inquilino de Belém se chamar Aníbal Cavaco Silva.
3. CAVACO
Entrada imediata das eleições presidenciais na agenda política, como ponto quase único e de muito maior relevo do que as eleições autárquicas. Sócrates sabe que uma coisa será governar com Guterres, ou mesmo com Freitas, em Belém e outra bem distinta será ter de co-habitar com Cavaco. Por isso, veremos, no momento imediatamente seguinte à vitória, o PS a investir violentamente contra o antigo primeiro-ministro, na esperança de que ele se incomode e não chegue sequer a candidatar-se. Se, pelo contrário, o fizer, ganhará as eleições à primeira volta, qualquer que seja o candidato que se lhe oponha. E vai ganhá-las porque o eleitorado tem dele a imagem de um bom governante, não propriamente de um homem de consensos e de equilíbrios. O povo que o elegerá, não espera dele «presidências abertas», ou vê-lo em almoçaradas e inaugurações. Quer, isso sim, que ele faça na presidência o que provou saber fazer no governo: governar. Por isso, e porque a Constituição lho permite e o precedente de Sampaio o legitimou, Cavaco terá de aceitar a sua natural condição sebastianista e contribuir para «pôr o país na ordem». Provavelmente, lá para a segunda metade da legislatura, contra Sócrates e o governo do Partido Socialista».