12.2.05

PRELÚDIO DE UMA RESPOSTA A RUI TAVARES

O Rui Tavares, do Barnabé, com implacável propriedade, pergunta-me:
Gostaria muito que o CAA do Blasfémias me explicasse por que carga d'água sendo o PND um partido liberal propõe que a Igreja Católica esteja isenta de impostos. É porque vamos ser todos isentos, ou trata-se de uma excepção?

Não quero, antes das eleições, dizer tudo o que me vai na alma sobre esta questão. O assunto é-me tão doloroso que não sei se mesmo após 20 de Fevereiro conseguirei escrever alguma coisa acerca do meu desalento.
Concretamente, neste momento, só posso apelar ao que escrevi no Semanário, no dia 3 de Janeiro de 2003, assegurando que ainda penso exactamente o mesmo:

«O Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, considerou numa homilia no primeiro dia do novo ano que não pagar impostos "é grave desordem moral e causa de perturbação social".
Todos devemos rejubilar com esta constatação. Principalmente se equacionarmos que a mesma foi produzida por um chefe de uma organização que se encontra isenta do pagamento desses mesmos impostos. Apesar de ser titular de avultadíssimos bens móveis e imóveis, empresas e estabelecimentos que exercem actividades económicas em diversos sectores, a Igreja Católica, como todas as suas congéneres, possui o privilégio de não pagar impostos. Através das declarações do Senhor Cardeal percebemos que esta isenção, pela sua tremenda injustiça, está a chegar ao fim. Nesta hora economicamente tão difícil para Portugal, os representantes da Igreja Católica, com toda a certeza, aprestam-se para dar o exemplo piedoso de se deslocarem às respectivas repartições de finanças a fim de serem notificados e, de imediato, procederem ao pagamento das dívidas auto-denunciadas nas Tesourarias.
Não pode ser outro o caminho depois de ouvirmos D. José Policarpo: "a fuga aos impostos é fruto do individualismo egoísta de pessoas e grupos pouco dispostos a sacrificar-se pelo bem comum".
O que, certamente, não será o caso dos senhores da Igreja Católica portuguesa...»