17.5.07

O direito de dar sangue

Não é nada óbvio que a exclusão de homossexuais da lista de dadores seja ultrajante. Para começar, dar sangue não é um direito. E depois, um sistema de recolha de sangue não se pode basear apenas em análises pós-recolha. Por um lado porque as análises são falíveis e por outro porque as análises não detectam novas doenças ou novas estirpes das doenças antigas. É por isso que um sistema de recolha de sangue tem que ter uma barreira secundária de segurança baseada em heurísticas que excluam os dadores de maior risco. Trata-se de um problema de engenharia (sanitária -- alô Eng Socrates?) e não de uma questão de direitos que, volto a lembrar, não existem. A priori, a exclusão de homossexuais é tão violadora de direitos como a exclusão de toxicodependentes, de pessoas com menos de 50 kg ou de pessoas que declaram ter muitos parceiros sexuais. Todas estas heurísticas eliminam dadores viáveis.
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Outra questão, que se poderia discutir, é se a exclusão de homossexuais é, nos dias de hoje, uma boa heurística. Mas esse é um problema técnico e não político. Vale a pena lembrar que a história recente dá razão a quem defende a exclusão de homossexuais das listas de dadores. É possível que a SIDA tenha mudado os comportamentos e a prevalência de determinadas doenças na comunidade homossexual. É possível que a comunidade homossexual já não seja um grupo de risco relevante. Mas a discussão tem ir por aí e não pela questão dos direitos.