"Não digas mal d’El-Rei, nem entre dentes, porque em todo o lado tem parentes" (ditado antigo)
Há um padrão nos gestos prepotentes do Governo – ao caso Charrua seguiram-se uma série de imitações. Agora, a polícia, não por conta própria certamente, tentou amedrontar um sindicato nas vésperas de uma manifestação junto de José Sócrates. À partida, este modelo de acção prejudica politicamente quem o pratica. Mas, pensemos melhor – o Governo não é inteiramente formado por gente destituída de senso.
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E os sicários que têm cometido aqueles actos foram apoiados em toda a linha, até por ministros. Portanto, a imagem que se quer passar é que quem intimidou os outros por pensarem diferente foi aplaudido por quem manda.
Os portugueses são dóceis face à autoridade. Culturalmente, desbarretam-se diante das hierarquias (usem ou não chapéu). Na verdade, as pessoas andam com medo. Um temor antigo, vagamente mascarado de respeito pelo chefe e de apreço pelo situacionismo. O Governo percebe-o bem. O que se está a passar não pode ser excesso de zelo ou simples erro: o seu propósito é precisamente criar esse medo. Pelos empregos e para escaparem a confusões, muitos dos que dependem do Estado, directa ou indirectamente, calam-se, aquietam-se.
Para quem governa, ensinava Maquiavel, é preferível “ser temido a ser amado”. Ainda hoje aceitamos sujeições que tornam esse conselho demasiado actual.