A Câmara do Porto aprovou por unanimidade a oferta de uma série de bens à cidade da moçambicana da Beira – aconchegando, assim, as consciências dos que se julgam no 1.º Mundo.Só que houve um ligeiro problema: algumas dessas prendas foram recusadas. Um camião do lixo, velho e desarranjado, 150 casacos de trabalho que já não serviam para o Porto e que o presidente da Beira, Daviz Simango, considerou “desajustados”, concluindo que “não é por sermos subdesenvolvidos que temos de aceitar toda a oferta”.
Arrumamos os ‘outros’ como coitadinhos e oferecemos inutilidades, festivais de música muito alardeados, comida que não se consegue distribuir, viaturas de sucata, enfim, desperdícios e ‘politicamente correcto’ para agradar a quem dá e não a quem recebe.
A grande lição que a Beira nos deu é que o primeiro passo para o progresso é dizer ‘não’ a paternalismos.
* Publicado no Correio da Manhã em 2. XI. 2007