O que são as corridas de automóveis e de aviões senão populismo, supostamente requintado mas não menos espalhafatoso e por sinal bem caro?###Ao que contrapôs o PMS:
No caso dos aviões, 90% foi suportado pelo organizador do evento. E sem dúvida que os hotéis, restaurantes, cafés, transportes, etc, multiplicaram por muito o dinheiro investido pela câmara municipal. Este evento mais do que se pagou. Há coisas melhores para criticar.
Fundamentando então a minha crítica:
- Não tenho nada contra corridas de aviões ou de automóveis ou qualquer outro tipo de eventos. Se forem do meu agrado, pago o meu bilhete e assisto.
- O que não posso aceitar é que haja um tostão que seja de dinheiros públicos a financiá-los. E se eles são muito importantes para hotéis, restaurantes cafés e transportes, compete então a estas entidades fazerem o investimento na respectiva realização, dado que são quem tira imediato e quase integral retorno dos ditos eventos.
- O que não faz nenhum sentido é o Estado obrigar os contribuintes a pagarem tais eventos, apreciem-nos ou não, em benefício apenas de meia dúzia de entidades. É a velha técnica socialista de tirar pouco a todos para dar muito a alguns.
- Os investimentos do Estado fazem sentido em equipamentos ou estruturas que beneficiem tendencialmente toda a população (vg., uma rede de estradas, de esgotos e saneamento ou eléctrica).
- Quando o Estado investe em projectos cujos benefícios são concentrados neste ou naquele sector ou grupo, fica desde logo posta em causa a sua utilidade social e fica o Estado pressionado a apoiar igualmente grupos preteridos, também eles portadores de projectos de relevantíssimo interesse nacional capazes, por si só, de projectar a imagem do país, aquém e além fronteiras.
- Esta tendência doentia para o espalhafato bacoco e novo-riquista, sempre justificada com a promoção da imagem do país no exterior e dos benefícios de aparecer em não sei quantos canais de televisão, só tem gerado elefantes brancos. Os custos pagar-se-ão durante anos, mas os benefícios reais já foram apropriados pelas corporações do costume;
- As contas finais, naturalmente nunca se divulgam. Ainda hoje estou para conhecer a conta de resultados consolidada da Expo 98, do Euro 2004 ou das corridas da Boavista. E que quantifiquem, já agora, os ganhos do “prestígio” e da “imagem” do país, da região ou da cidade no exterior…
- O que me desiludiu profundamente foi a inversão da postura de Rui Rio. Soube marcar muito bem a diferença acabando com a promiscuidade entre a política e o futebol, enfrentou os interesses com este relacionado, recusou fazer as tristes figuras de outros figurões, sempre prontos a sentarem-se (e a mostrarem-se) à esquerda, à direita ou atrás do “bispo” da catedral em que se realiza o derby. Com isto não perdeu votos, mas convenceu-se que os irá ganhar aderindo à política do evento espalhafatoso, mediático e caro.
- Pode enganar-se e estar a pagar adiantado votos que nunca o beneficiarão. Muitos dos que trabalham na hotelaria e na restauração não votam no Porto, o mesmo acontecendo com milhares de consumidores do espectáculo, cuja utilidade se resume a 2 ou 3 horas de emoções que se esfumam e se esquecem rapidamente.
- Valentim Loureiro é bem mais eficaz na compra de votos com electrodomésticos. E com ganhos generalizados, pouco ou nenhum desperdício e benefícios sociais duradouros. Desde logo para si próprio, que consegue votações mais expressivas com muito menos “investimento”; sendo este menor, também será reduzido o esforço do contribuinte, pois assume-se que o “investimento” lhe será facturado, directa ou indirectamente; evita o desperdício, já que só oferece electrodomésticos a eleitores de Gondomar; finalmente, atribui bens de consumo duráveis, cuja utilização pelos felizes contemplados se prolongará seguramente por 2 mandatos.