Esther Mucznik, cujos textos já viram melhores dias, irrompe contra aquilo que designa de “laicidade radical”.
Sem dúvida por culpa minha, nunca percebi o que isso é – nomeadamente, se a partir desse conceito impreciso devemos presumir a existência de uma laicidade frugal, ‘light’, ou tão correcta e artificialmente compensada que deixe de ser... laicidade.
O que vejo, cada vez mais, são os acólitos do sobrenatural a imaginarem perseguições (o omnipresente desejo de martírio) mal suspeitam que os seus privilégios e isenções, sempre muito materiais, podem vir a ser bulidos nem que seja ao de leve.
Percebe-se melhor o que quer Mucznik quando cita T. S. Eliot (fora do contexto): “Se não tiveres Deus terás de te prostrar perante Hitler ou Estaline”. Eis a suprema falácia feita de escolhas impossíveis, reduzidas à sua expressão inconcebível - ou Deus ou o Diabo, não pode haver terceira via, foi sempre o adágio dos adeptos do oculto organizado.
Para um liberal, como eu me sinto, a opção é muito mais simples – nunca te ajoelhes perante ninguém, homem, estátua ou simples pressentimento do desconhecido.