24.10.06

O país das invejazinhas

Somos um país pequenino. E o sentir geral assume que todos temos de ser assim. A bem ou a mal. Quem ouse escapar à lógica da mediocridade reinante fica automaticamente sob as suspeitas mais nauseabundas. Se enriquece tem de ser um "vigarista"; ou então é do "tráfico". Se alcança alguma posição de relevo a causa é, no mínimo, "estranha". Em Portugal respeita-se quem herda ou adquire por título outorgado. Desdenha-se quem se faz a si mesmo, à custa do seu próprio rasgo - a expressão "talento", por cá, tem ressonâncias sinónimas com "espertalhonice". Tudo se agrava se alguém recusa integrar as capelinhas do costume - o êxito sem as amarras da praxe é especialmente ofensivo entre nós.
Miguel Sousa Tavares escreve livremente, diz o que pensa e ignora as dependências rotineiras. Não é de modas na política e no futebol. E tem sucesso naquilo que faz. É muito, é demais para o país que somos. Por isso, quem não pode nem sabe fazer igual inventa atoardas e engendra malícias. Perante o gáudio de tantos, demasiados. Sempre sob a comodidade do anonimato (o cancro da blogosfera!). E sentenciando que o ónus de provar a verdade pertence ao acusado...
Não há nada de novo - andamos 300 anos a denunciarmo-nos uns aos outros de cara escondida, piamente. Não é por acaso que nos tornamos nisto que somos.