O Sindicato dos Jornalistas demorou menos de 6 horas a criticar a opção da Rádio Renascença de se colocar do lado do "não" no referendo à despenalização do aborto.
Dúvida: quantas horas demoraria o sindicato a reagir se uma qualquer emissora não católica anunciasse o seu apoio ao "sim"?
30.11.06
Senas Fiches
Na Visão, Pedro Norton desperdiçou um artigo inteiro por causa de um mal entendido. A crónica de hoje é uma crítica à educação dos últimos 30 anos, usando como leit-motiv um cartaz exibido por um chavalo na manif dos putos do secundário. O cartaz "Queremos Tipo Coisas Fixes", da fotografia ao lado, publicado na capa de um DN. Começa assim Pedro Norton:
Três deduções à pala deste artigo.
1. Pedro Norton é fã do Canta Por Mim.
2. O puto escreveu o cartaz de memória.
3. A qualidade da revisão de textos da Visão não é a melhor.
Para o Pedro Norton, o sketch das cenas fixes:
"O slogan não pode ser mais emblemático nem revelador. A inteligência é de um asno, a cultura de um primata e a boçalidade é, na melhor das hipóteses bovina. «Queremos Tipo Coisas Fixes.» A ígnara frase foi o melhor que a mente de um pobre estudante conseguiu arranjar..."###Pobre jovem. A única coisa que o rapaz fez foi homenagear os felinos empestados, e o sketch da manif, onde um dos gatos empunhava um cartaz onde se lia "Keremos Tipo, Cenas Fixes!"
Três deduções à pala deste artigo.
1. Pedro Norton é fã do Canta Por Mim.
2. O puto escreveu o cartaz de memória.
3. A qualidade da revisão de textos da Visão não é a melhor.
Para o Pedro Norton, o sketch das cenas fixes:
Leituras:
- «E eles que se detestam cordialmente....», por Sérgio Figueiredo;
- «Reino Unido diz não à extensão do copyright para 95 anos», no Remixtures;
- «Alemão condenado por tentar converter muçulmano»;
- «Reino Unido diz não à extensão do copyright para 95 anos», no Remixtures;
- «Alemão condenado por tentar converter muçulmano»;
Economia de mercado planeada por burocratas
Uma economia em que o consumidor se encontra totalmente protegido não podendo dessa forma fazer escolhas, cometer erros ou ser responsabilizado pelos seus erros sofrendo as consequências das suas escolhas não se distingue em nada de uma economia de planeamento central. Todas as escolhas são feitas pelos burocratas, o consumidor nunca aprende com os seus erros e as empresas têm que agradar ao regulador e não ao consumidor.
Flexigurança II
De acordo com a propaganda oficial e a opinião da oposição é um novo conceito de mercado de trabalho em que as pessoas podem passar menos tempo a trabalhar e mais tempo a viver de um subsídio de desemprego de valor escandinavo mas que não pode ser aplicado em Portugal porque não há dinheiro para isso.
MENEZES SOBRE MARCELO
«... Como uma espécie de "faz tudo" da corte, misto de comediante, declamador e cantor lírico, lá vai, domingueiramente, destilando banalidades com ar grandiloquente.
Com uma carreira politica completamente falhada, em que sobressaem a humilhação perante Sampaio em Lisboa, a fuga ao embate com Guterres em 1999, é a "loira platinada e bem torneada" do regime: todos gostam de tirar uma fotografia com ela, mas ninguém lhe confiaria um "Smart" para o fim-de-semana no Guincho.
Não há ninguém no "Portugal dos cocktails" que não conheça a história daquele conviva social com quem todos se esforçam para se levantarem da mesa em último lugar: única forma de não ter direito a 10 minutos de litros de veneno nas costas...»
Com uma carreira politica completamente falhada, em que sobressaem a humilhação perante Sampaio em Lisboa, a fuga ao embate com Guterres em 1999, é a "loira platinada e bem torneada" do regime: todos gostam de tirar uma fotografia com ela, mas ninguém lhe confiaria um "Smart" para o fim-de-semana no Guincho.
Não há ninguém no "Portugal dos cocktails" que não conheça a história daquele conviva social com quem todos se esforçam para se levantarem da mesa em último lugar: única forma de não ter direito a 10 minutos de litros de veneno nas costas...»
29.11.06
Aviso: Alteração à programação
Sua Excelência o Presidente da República (vénia) fará hoje às 20:00 uma comunicação ao país. Tendo em conta que as televisões estão obrigadas a cumprir os horários, tendo em conta que esta comunicação não foi anunciada com 48 horas de antecedência, tendo em conta que já se sabe o que ele vai dizer, tendo em conta que a transmissão em directo geraria atrasos em toda a programação, a comunicação de Sua Excelência só será transmitida pelas televisões na próxima Sexta Feira. Obrigado.
Garantia ao dia
Aqui há uns tempos o governo obrigou os parques de estacionamento a vender o seu produto em fracções de um quarto de hora. Desta forma, aqueles que querem comprar apenas 15 minutos não têm que pagar aquilo que não consomem. Ora, passa-se o mesmo problema com as garantias dos electrodomésticos. Actualmente os vendedores impingem uma garantia de 1 ou 2 anos com o produto vendendo tudo junto e sem discriminação de preços. Este procedimento obriga o cliente a comprar tempo de garantia em que não está interessado. Tratando-se de um procedimento pouco transparente, o cliente nem sequer é informado que parte do preço se destina a pagar a garantia. Para acabar com esta situação, totalmente inaceitável para o cliente, proponho que:
1. O preço da garantia passe a ser discriminado na factura;
2. O cliente possa comprar o tempo de garantia que desejar em fracções diárias.
1. O preço da garantia passe a ser discriminado na factura;
2. O cliente possa comprar o tempo de garantia que desejar em fracções diárias.
Há sempre alguém que pensa por nós!
«Por favor, não falem do que não sabem e deixem-nos trabalhar sobre a actualização da Terminologia, tirar conclusões da experiência em curso e tornar o ensino da gramática do português menos obsoleto e integrado nos programas actuais que, evidentemente, não sofrerão qualquer alteração. Maria Helena Mira Mateus, Professora catedrática da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa; co-autora da TLEBS» no PÚBLICO de hoje
a)"Por favor, não falem do que não sabem" - logo a Linguística fica para os linguistas, a Justiça para o advogados e magistrados, a OTA para os engenheiros, a política para os políticos...
b)«deixem-nos trabalhar sobre a actualização da Terminologia» - se trabalhar na Faculdade tudo bem. Acontece que a TLEBS é experimentada em milhares de alunos logo não é uma questão de «deixar trabalhar» uma equipa de linguistas nos seus gabinetes e com os seus alunos universitários. É deixá-los experimentar as suas teses em milhares de alunos dos ensinos básicoe secundário
c)«tirar conclusões da experiência em curso» - se a experiência em curso se revelar um desastre quem dá explicações de português às cobaias?
d) «tornar o ensino da gramática do português menos obsoleto» - não é uma questão de ser obsoleto. É de ser adequado. A tabuada é a mesma há quanto tempo?
e)«tornar o ensino da gramática do português menos obsoleto e integrado nos programas actuais que, evidentemente, não sofrerão qualquer alteração» - vai desculpar-me mas a frase não se percebe. O ensino da gramática não estava integrado nos programas actuais? Quanto ao facto da TLEBS não implicar uma alteração nos programas das duas uma: ou não implica e logo não faz falta alguma ou implica e o que temos de discutir é se essa alteração é boa ou má. Claro que implica uma alteração. Que infelizmente é péssima.
a)"Por favor, não falem do que não sabem" - logo a Linguística fica para os linguistas, a Justiça para o advogados e magistrados, a OTA para os engenheiros, a política para os políticos...
b)«deixem-nos trabalhar sobre a actualização da Terminologia» - se trabalhar na Faculdade tudo bem. Acontece que a TLEBS é experimentada em milhares de alunos logo não é uma questão de «deixar trabalhar» uma equipa de linguistas nos seus gabinetes e com os seus alunos universitários. É deixá-los experimentar as suas teses em milhares de alunos dos ensinos básicoe secundário
c)«tirar conclusões da experiência em curso» - se a experiência em curso se revelar um desastre quem dá explicações de português às cobaias?
d) «tornar o ensino da gramática do português menos obsoleto» - não é uma questão de ser obsoleto. É de ser adequado. A tabuada é a mesma há quanto tempo?
e)«tornar o ensino da gramática do português menos obsoleto e integrado nos programas actuais que, evidentemente, não sofrerão qualquer alteração» - vai desculpar-me mas a frase não se percebe. O ensino da gramática não estava integrado nos programas actuais? Quanto ao facto da TLEBS não implicar uma alteração nos programas das duas uma: ou não implica e logo não faz falta alguma ou implica e o que temos de discutir é se essa alteração é boa ou má. Claro que implica uma alteração. Que infelizmente é péssima.
31 anos a caminhar para o socialismo*
Habitualmente assume-se o 25 de Novembro de 1975 como o último dia do PREC, essa espécie de acne revolucionário que nos atacara serodiamente alguns meses após o 25 de Abril e se acentuara a 11 de Março de 1975. Consoante as convicções políticas de cada um assim se optará por definir o 25 de Novembro como o términus do sonho ou o final da deriva totalitária. Mas independentemente de tudo isso e de muito mais, o PREC foi também um tempo necessário. E desde o dia 11 de Novembro de 1975 que o PREC já não fazia falta alguma: na véspera, Leonel Cardoso, alto-comissário em Angola, declarara em Luanda 'Portugal entrega Angola aos angolanos'. Nessa mesma noite Agostinho Neto declarou a independência de Angola. Desde esse momento, em Portugal, as teses sobre os modelos revolucionários peruano e argelino em que nos deveríamos inspirar, as campanhas de dinamização cultural, as ocupações, as ameaças de julgamentos populares, enfim a própria revolução deixavam de ser necessárias como catadupa de factos que mantinham os portugueses em constante estado de atordoado sobressalto desde o 28 de Setembro de 1974.###
Não creio que Portugal no pós 25 de Abril tivesse estado seriamente à beira de ser a Cuba da Europa. A Geografia pesa e manter no extremo europeu do Atlântico um país comunista era caríssimo no sentido económico e também político do termo. E isto que já fora em parte válido para as mudanças na estratégia de Estaline para com os comunistas espanhóis, nos anos 30, era ainda mais óbvio para Brejnev em relação ao Portugal dos anos 70.
Em Novembro de 1975, resolvida a questão essencial e que era a afectação imediata ao bloco soviético dos novos países de expressão portuguesa, tornava-se absolutamente dispensável, quase contra-indicado, manter erguida, em Portugal, a tenda da revolução, tenda essa aliás onde os grupos esquerdistas por insânia própria ou porque devidamente instrumentalizados causavam estragos cada vez maiores. Após o 25 de Novembro de 1975 a revolução em Portugal tornou-se uma espécie de 'recuerdo': murais, posters, e muitas baladas cheias de ceifeiras, foices e espingardas ficaram por aí para a recordar.
Quando nesta semana alguns militares desfilaram fardados em Lisboa imediatamente se associaram estas contestações a esse outro tempo em que qualquer passeata castrense ou almoço de sargentos dava azo a especulações. Para ajudar a compor o flash back houve até quem desabafasse 'Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril!'
Mas a manifestação protagonizada esta semana pelos militares remete não apenas para as reivindicações que os levaram ao 25 de Abril mas também e sobretudo para os compromissos em que se fundou a sociedade portuguesa após o 25 de Novembro de 1975. E desses compromissos existe um que é incontornável. Primeiro chamou-se socialismo. Depois estado social.
Todos os partidos presentes na Assembleia Constituinte em 1975 defenderam a instauração do socialismo em Portugal nos projectos de constituição que apresentaram. O MDP-CDE propunha 'a instauração de uma sociedade socialista'. O PCP pretendia 'eliminar o poder dos monopólios e latifundiários e abrir caminho à transição para o socialismo'. O PS propunha-se também caminhar para 'o socialismo, entendido este como o poder democrático dos trabalhadores, com vista à instauração de uma sociedade sem classes'. O PSD dizia que Portugal devia 'construir uma sociedade socialista'. O CDS dizia defender uma 'via original para um socialismo português'. Curiosamente apenas a UDP destoa em tal consenso defendendo uma espécie de estado de luta permanente dirigido pela classe operária com vista 'à emancipação total e completa das massas exploradas'. Ou seja em 1975, fosse por razões instrumentais ou de convicção, a verdade é que desde a UDP ao CDS todos os partidos coincidiam em que a sociedade portuguesa devia ter o socialismo consagrado no artigo primeiro da sua Constituição. Já nos anos 80, a 'sociedade sem classes' passou a estado social ou 'sociedade livre, justa e solidária'.
Assim, os manifestantes civis e militares dos anos 70 após terem arrumado placidamente os cartazes e cortado as barbas, viveram na forte convicção de que o futuro seria uma espécie de aquisição permanente de direitos e benesses estatais. Entretanto os portugueses trocavam os comícios pelas telenovelas e viam em cada subsídio, regime especial, centro disto e daquilo... um indicador do progresso tão fiável mas bem mais palpável que as cenas de nudismo que iam animando os écrans e as praias nacionais.
Até agora nunca conseguimos e muito menos quisemos discutir se este modelo é viável e, mesmo que o seja, qual o preço que pagamos politicamente por ele. Mas vamos ter de o fazer porque agora os contestatários, os grevistas e os manifestantes não gritam palavras de ordem contra patrões ou empresas. Aliás, a não ser que anuncie o encerramento da empresa, patrão algum deste país se confronta hoje com a mais leve ameça de greve. As reivindicações de hoje não se dirigem aos capitalistas mas sim aos contribuintes porque são os contribuintes quem sustenta o ensino, a saúde, os transportes públicos, as forças armadas... ou seja, os sectores em que presentemente existe conflitualidade. O ex-libris desta transformação é sem dúvida aquela imagem dos membros da PSP disfarçados de assaltantes de bancos ou de terroristas numa conferência de imprensa em que davam conta das suas exigências. E agora fazemos o quê?
Para já pagamos impostos e assistimos à anatemização dos bodes expiatórios. Estes já não são nem o latifundiário abstencionista, nem o grande empresário ou capitalista como depreciativamente eram outrora tratados. Nem andam por aqui aquelas figuras tão úteis nos momentos difíceis como os sabotadores ou os intermediários. Agora os bodes expiatórios são aqueles que fogem aos impostos, a que posteriormente se juntaram os que pagam impostos mas não pagam tudo o que seria devido e aqueles que, como beneficiários, usufruíam de regimes especiais agora designados como benesses ou privilégios.E assim, com uns e outros devidamente expostos ao odioso da opinião pública, lá vão cumprindo a função de adiar a pergunta inevitável: mesmo que a evasão fiscal desaparecesse e que todos os regimes especiais fossem extintos é sustentável este sistema?
E sobretudo porque se há-de optar sempre pela solução que nos retira liberdade? Por exemplo, o que estava errado com o regime especial dos jornalistas era estes não terem de ir ao centro de saúde ou os outros utentes do SNS terem obrigatoriamente de se inscrever no centro de saúde da sua área de residência, centros esses que, tal como acontece com as urgências hospitalares, têm vindo a diminuir a sua oferta?
Triste país este em que a determinação do grau de privilégio passa pelo poder que o estado tem sobre nós. E vice-versa.
PÚBLICO 25 de Novembro
Não creio que Portugal no pós 25 de Abril tivesse estado seriamente à beira de ser a Cuba da Europa. A Geografia pesa e manter no extremo europeu do Atlântico um país comunista era caríssimo no sentido económico e também político do termo. E isto que já fora em parte válido para as mudanças na estratégia de Estaline para com os comunistas espanhóis, nos anos 30, era ainda mais óbvio para Brejnev em relação ao Portugal dos anos 70.
Em Novembro de 1975, resolvida a questão essencial e que era a afectação imediata ao bloco soviético dos novos países de expressão portuguesa, tornava-se absolutamente dispensável, quase contra-indicado, manter erguida, em Portugal, a tenda da revolução, tenda essa aliás onde os grupos esquerdistas por insânia própria ou porque devidamente instrumentalizados causavam estragos cada vez maiores. Após o 25 de Novembro de 1975 a revolução em Portugal tornou-se uma espécie de 'recuerdo': murais, posters, e muitas baladas cheias de ceifeiras, foices e espingardas ficaram por aí para a recordar.
Quando nesta semana alguns militares desfilaram fardados em Lisboa imediatamente se associaram estas contestações a esse outro tempo em que qualquer passeata castrense ou almoço de sargentos dava azo a especulações. Para ajudar a compor o flash back houve até quem desabafasse 'Não foi para isto que fizemos o 25 de Abril!'
Mas a manifestação protagonizada esta semana pelos militares remete não apenas para as reivindicações que os levaram ao 25 de Abril mas também e sobretudo para os compromissos em que se fundou a sociedade portuguesa após o 25 de Novembro de 1975. E desses compromissos existe um que é incontornável. Primeiro chamou-se socialismo. Depois estado social.
Todos os partidos presentes na Assembleia Constituinte em 1975 defenderam a instauração do socialismo em Portugal nos projectos de constituição que apresentaram. O MDP-CDE propunha 'a instauração de uma sociedade socialista'. O PCP pretendia 'eliminar o poder dos monopólios e latifundiários e abrir caminho à transição para o socialismo'. O PS propunha-se também caminhar para 'o socialismo, entendido este como o poder democrático dos trabalhadores, com vista à instauração de uma sociedade sem classes'. O PSD dizia que Portugal devia 'construir uma sociedade socialista'. O CDS dizia defender uma 'via original para um socialismo português'. Curiosamente apenas a UDP destoa em tal consenso defendendo uma espécie de estado de luta permanente dirigido pela classe operária com vista 'à emancipação total e completa das massas exploradas'. Ou seja em 1975, fosse por razões instrumentais ou de convicção, a verdade é que desde a UDP ao CDS todos os partidos coincidiam em que a sociedade portuguesa devia ter o socialismo consagrado no artigo primeiro da sua Constituição. Já nos anos 80, a 'sociedade sem classes' passou a estado social ou 'sociedade livre, justa e solidária'.
Assim, os manifestantes civis e militares dos anos 70 após terem arrumado placidamente os cartazes e cortado as barbas, viveram na forte convicção de que o futuro seria uma espécie de aquisição permanente de direitos e benesses estatais. Entretanto os portugueses trocavam os comícios pelas telenovelas e viam em cada subsídio, regime especial, centro disto e daquilo... um indicador do progresso tão fiável mas bem mais palpável que as cenas de nudismo que iam animando os écrans e as praias nacionais.
Até agora nunca conseguimos e muito menos quisemos discutir se este modelo é viável e, mesmo que o seja, qual o preço que pagamos politicamente por ele. Mas vamos ter de o fazer porque agora os contestatários, os grevistas e os manifestantes não gritam palavras de ordem contra patrões ou empresas. Aliás, a não ser que anuncie o encerramento da empresa, patrão algum deste país se confronta hoje com a mais leve ameça de greve. As reivindicações de hoje não se dirigem aos capitalistas mas sim aos contribuintes porque são os contribuintes quem sustenta o ensino, a saúde, os transportes públicos, as forças armadas... ou seja, os sectores em que presentemente existe conflitualidade. O ex-libris desta transformação é sem dúvida aquela imagem dos membros da PSP disfarçados de assaltantes de bancos ou de terroristas numa conferência de imprensa em que davam conta das suas exigências. E agora fazemos o quê?
Para já pagamos impostos e assistimos à anatemização dos bodes expiatórios. Estes já não são nem o latifundiário abstencionista, nem o grande empresário ou capitalista como depreciativamente eram outrora tratados. Nem andam por aqui aquelas figuras tão úteis nos momentos difíceis como os sabotadores ou os intermediários. Agora os bodes expiatórios são aqueles que fogem aos impostos, a que posteriormente se juntaram os que pagam impostos mas não pagam tudo o que seria devido e aqueles que, como beneficiários, usufruíam de regimes especiais agora designados como benesses ou privilégios.E assim, com uns e outros devidamente expostos ao odioso da opinião pública, lá vão cumprindo a função de adiar a pergunta inevitável: mesmo que a evasão fiscal desaparecesse e que todos os regimes especiais fossem extintos é sustentável este sistema?
E sobretudo porque se há-de optar sempre pela solução que nos retira liberdade? Por exemplo, o que estava errado com o regime especial dos jornalistas era estes não terem de ir ao centro de saúde ou os outros utentes do SNS terem obrigatoriamente de se inscrever no centro de saúde da sua área de residência, centros esses que, tal como acontece com as urgências hospitalares, têm vindo a diminuir a sua oferta?
Triste país este em que a determinação do grau de privilégio passa pelo poder que o estado tem sobre nós. E vice-versa.
PÚBLICO 25 de Novembro
28.11.06
O Preço da Transparência (II)
São curiosos muitos dos comentários ao post do João Miranda "O Preço da Transparência", num tom de alguma indignação como se o 'post' contivesse alguma novidade vinda dos confins de um apocalíptico ultra-liberalismo que até pretende discutir coisas tão adquiridas como a necessidade permanente e absoluta de protecção do consumidor pelo estado e pela lei. Um comentador até sugere que se debata também 'O Preço da Honra', como se a honra não fosse tantas vezes vendida por tostões. O desconhecimento de alguns conceitos básicos da economia promove esta alegre debate conceptual, moldado por uma moralidade pouco fundamentada cerceado pelo axioma da transparência obrigatória e 'mai nada'.
O assunto não é novo. É até um clássico debate da micro-economia e a resposta está longe de ser óbvia. Quem deve ficar com a responsabilidade dos defeitos, o vendedor (caveat venditor), ou o comprador (caveat emptor)?###
A resposta comum nos tempos que correm é que a responsabilidade deve ser sempre do vendedor. Talvez por isso, as garantias obrigatórias associadas à aquisição de muitos bens tenha passado para dois anos. Também por isso se legisla contra os arredondamentos da banca, considerando o arredondamento como um defeito, algo que o comprador desconhecia. O mesmo acontece com a obrigação de existência de manuais traduzidos ou outra documentação anexa que acompanha alguns produtos por imperativos legais.
Este tipo de leis parecem ser uma grande ideia para o consumidor. Serão?
O legislador bem intencionado, esquece-se que o aumento das garantias implica sempre um aumento de preço, a curto ou a longo prazo. Quando a garantia aumenta de um para dois anos, o vendedor distribui o custo esperado da reparação das avarias no segundo ano de vida dos produtos pelo preço pago. Os preços aumentam.
Pode ser bom para a D. Adélia, mas pode ser mau para o Sr. Firmino. Se um dos consumidores têm grande conhecimento sobre o que compra (por exemplo, um técnico informático quando adquire um computador), terá toda a vantagem em comprar o produto sem garantia, porque a reparação é, para ele, fácil e barata. A compra é transparente. A D. Adélia não tem a mesma capacidade, a compra é inconsciente, quanto muito aconselhada, pelo que para ela a garantia é desejável.
Há outros incentivos que alteram este jogo de equilíbrios. Se a responsabilidade pelas avarias for do consumidor, este terá muito mais cuidado com o tratamento que dá aos produtos que adquire. Se o vendedor for obrigado a substituir-me o jeep em caso de avaria, estica-se o brinquedo até ao limite. Se a responsabilidade for minha, serei gentil nos terrenos que piso.
A existência de garantia promove a necessidade de utilização de garantia. Do lado do vendedor, os incentivos são opostos. Se a responsabilidade pelas avarias estiver do seu lado, o brinquedo será construído com muito mais cuidado e a custos maiores, para minimizar prejuízos futuros. Todos os clientes pagarão mais para suportar o estrago pelo excesso de má utilização ao abrigo da garantia.
Provavelmente, um fotógrafo profissional não necessita de mais um manual de uma máquina fotográfica igual a tantas outras, mas será obrigado a pagá-lo. Nesta situação, qual é a vantagem do consumidor?
Na prática, a solução ideal parece ser a divisão dos males. Em compras transparentes a responsabilidade deve estar do lado do comprador e nos casos em que o desconhecimento é grande, a garantia deve ser dada pelo vendedor.
Como o que é transparente para uns não é para os outros, há uma solução melhor. O consumidor escolhe qual das soluções prefere e o vendedor estabelece os custos da garantia/formação/informação à parte. O cliente ignorante pagaria mais do que o cliente esclarecido. Esta opção já é posta em prática por muitas empresas quando oferecem 'extensões de garantia'.
O mesmo se passa com os créditos bancários. Para quem passa a vida a negociar com bancos, as normas rígidas e as limitações legais à liberdade contratual só prejudicam os clientes esclarecidos. As regras em excesso são prejudiciais. A liberdade contratual é que dá mais vantagens, tanto aos consumidores como aos vendedores.
Um caso bem mais complexo relaciona-se com a prática médica. Poucos clientes dos médicos estarão em condições de avaliar o que lhes está a ser vendido. A lógica apontaria para 'caveat venditor'. Mas se os médicos tivessem que garantir o resultado dos tratamentos e indemnizar as vítimas ou os familiares em caso de insucesso, o preço dos tratamentos de doenças de difícil cura seria inacessível para grande parte da população. Poucos médicos estariam dispostos a arriscar uma operação complexa, com alto risco de vida.
Mas apesar de tudo, prefiro um médico a quem possa pagar do que um médico que me fique com a casa e com o carro em troca de um seguro milionário para os meus filhos. Será desejável que o estado legisle no sentido de 'caveat venditor' na prática médica, para lá dos casos óbvios de negligência? Parece óbvio que não...
Em Portugal, a moda actual é sempre 'caveat venditor'. E em todos os casos, o povo aplaude a medida, muitas vezes sem perceber que o preço da transparência e da responsabilidade do vendedor pode ser superior ao ganho de garantia.
E o debate é, evidentemente, bastante mais complexo que o nível de alguns comentários sugerem.
O assunto não é novo. É até um clássico debate da micro-economia e a resposta está longe de ser óbvia. Quem deve ficar com a responsabilidade dos defeitos, o vendedor (caveat venditor), ou o comprador (caveat emptor)?###
A resposta comum nos tempos que correm é que a responsabilidade deve ser sempre do vendedor. Talvez por isso, as garantias obrigatórias associadas à aquisição de muitos bens tenha passado para dois anos. Também por isso se legisla contra os arredondamentos da banca, considerando o arredondamento como um defeito, algo que o comprador desconhecia. O mesmo acontece com a obrigação de existência de manuais traduzidos ou outra documentação anexa que acompanha alguns produtos por imperativos legais.
Este tipo de leis parecem ser uma grande ideia para o consumidor. Serão?
O legislador bem intencionado, esquece-se que o aumento das garantias implica sempre um aumento de preço, a curto ou a longo prazo. Quando a garantia aumenta de um para dois anos, o vendedor distribui o custo esperado da reparação das avarias no segundo ano de vida dos produtos pelo preço pago. Os preços aumentam.
Pode ser bom para a D. Adélia, mas pode ser mau para o Sr. Firmino. Se um dos consumidores têm grande conhecimento sobre o que compra (por exemplo, um técnico informático quando adquire um computador), terá toda a vantagem em comprar o produto sem garantia, porque a reparação é, para ele, fácil e barata. A compra é transparente. A D. Adélia não tem a mesma capacidade, a compra é inconsciente, quanto muito aconselhada, pelo que para ela a garantia é desejável.
Há outros incentivos que alteram este jogo de equilíbrios. Se a responsabilidade pelas avarias for do consumidor, este terá muito mais cuidado com o tratamento que dá aos produtos que adquire. Se o vendedor for obrigado a substituir-me o jeep em caso de avaria, estica-se o brinquedo até ao limite. Se a responsabilidade for minha, serei gentil nos terrenos que piso.
A existência de garantia promove a necessidade de utilização de garantia. Do lado do vendedor, os incentivos são opostos. Se a responsabilidade pelas avarias estiver do seu lado, o brinquedo será construído com muito mais cuidado e a custos maiores, para minimizar prejuízos futuros. Todos os clientes pagarão mais para suportar o estrago pelo excesso de má utilização ao abrigo da garantia.
Provavelmente, um fotógrafo profissional não necessita de mais um manual de uma máquina fotográfica igual a tantas outras, mas será obrigado a pagá-lo. Nesta situação, qual é a vantagem do consumidor?
Na prática, a solução ideal parece ser a divisão dos males. Em compras transparentes a responsabilidade deve estar do lado do comprador e nos casos em que o desconhecimento é grande, a garantia deve ser dada pelo vendedor.
Como o que é transparente para uns não é para os outros, há uma solução melhor. O consumidor escolhe qual das soluções prefere e o vendedor estabelece os custos da garantia/formação/informação à parte. O cliente ignorante pagaria mais do que o cliente esclarecido. Esta opção já é posta em prática por muitas empresas quando oferecem 'extensões de garantia'.
O mesmo se passa com os créditos bancários. Para quem passa a vida a negociar com bancos, as normas rígidas e as limitações legais à liberdade contratual só prejudicam os clientes esclarecidos. As regras em excesso são prejudiciais. A liberdade contratual é que dá mais vantagens, tanto aos consumidores como aos vendedores.
Um caso bem mais complexo relaciona-se com a prática médica. Poucos clientes dos médicos estarão em condições de avaliar o que lhes está a ser vendido. A lógica apontaria para 'caveat venditor'. Mas se os médicos tivessem que garantir o resultado dos tratamentos e indemnizar as vítimas ou os familiares em caso de insucesso, o preço dos tratamentos de doenças de difícil cura seria inacessível para grande parte da população. Poucos médicos estariam dispostos a arriscar uma operação complexa, com alto risco de vida.
Mas apesar de tudo, prefiro um médico a quem possa pagar do que um médico que me fique com a casa e com o carro em troca de um seguro milionário para os meus filhos. Será desejável que o estado legisle no sentido de 'caveat venditor' na prática médica, para lá dos casos óbvios de negligência? Parece óbvio que não...
Em Portugal, a moda actual é sempre 'caveat venditor'. E em todos os casos, o povo aplaude a medida, muitas vezes sem perceber que o preço da transparência e da responsabilidade do vendedor pode ser superior ao ganho de garantia.
E o debate é, evidentemente, bastante mais complexo que o nível de alguns comentários sugerem.
Coincidências?
Há uns dias, o PS-Porto organizou um mega "jantar de desagravo" a Narciso de Miranda pela sua não indicação para a Comissão Política no recente Congresso do partido. Ontem veio a público um "oportuno" relatório do Tribunal de Contas sobre o Metro do Porto, do qual os media destacam basicamente a utilização de cartões de crédito por parte de administradores não executivos, entre os quais Narciso e Valentim.
Já agora, seria interessante conhecer os critérios de remuneração de administradores não executivos em outras empresas públicas.
Entretanto, continua a propaganda governamental, com a decisão para 30 kms de novas auto-estradas para a área metropolitana de Lisboa, a solução mágica para todos os problemas de trânsito da capital e um investimento com impacto nacional (Sócrates dixit).
Já agora, seria interessante conhecer os critérios de remuneração de administradores não executivos em outras empresas públicas.
Entretanto, continua a propaganda governamental, com a decisão para 30 kms de novas auto-estradas para a área metropolitana de Lisboa, a solução mágica para todos os problemas de trânsito da capital e um investimento com impacto nacional (Sócrates dixit).
Palavra de bruxo
José Esteves confessou ter sido o autor da bomba de Camarate.
Depois desta confissão só fica por esclarecer um último mistério sobre o caso Camarate:
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Estará José Esteves a dizer a verdade?
Depois desta confissão só fica por esclarecer um último mistério sobre o caso Camarate:
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Estará José Esteves a dizer a verdade?
Lápiz azul
Exemplo de conteúdo informativo a censurar, nas próprias palavras do ministro Augusto Santos Silva:###
«Augusto Santos Silva garantiu ao Expresso que os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo,«no final de uma reportagem sobre uma manifestação da extrema-direita de natureza xenófoba o pivô se iniba de fazer comentários favoráveis à manifestação».(Expresso)
Portanto, fixado o critério político do que se pode ou não emitir, caberá a um diligente funcionário da ERC decidir no concreto o que seja «extrema-direita», «natureza xenófoba» e «comentário favorável» para cortar ou não a emissão. Ou então, simplesmente aguardar um telefonemazinho com instruções....
É aliás significativo como este e os governos antecedentes encaram a «tutela» da comunicação social. Não é encarada como uma actividade económica, nem como função social do Estado, nem como cultura, pois não está sob a tutela daqueles ministérios. Não. Tem tido a tutela dos ministros dos Assuntos Parlamentares. O que não é de todo inocente quanto ao papel da«comunicação social» do ponto de vista dos governos. É como o desporto: umas simples extensões e novas designações mais coloridas para o antigo «Secretariado Nacional da Propaganda».
«Augusto Santos Silva garantiu ao Expresso que os espaços informativos ficam salvaguardados desta legislação desde que, por exemplo,
É aliás significativo como este e os governos antecedentes encaram a «tutela» da comunicação social. Não é encarada como uma actividade económica, nem como função social do Estado, nem como cultura, pois não está sob a tutela daqueles ministérios. Não. Tem tido a tutela dos ministros dos Assuntos Parlamentares. O que não é de todo inocente quanto ao papel da«comunicação social» do ponto de vista dos governos. É como o desporto: umas simples extensões e novas designações mais coloridas para o antigo «Secretariado Nacional da Propaganda».
O preço da transparência
A transparência é um bem comercial como outro qualquer, que se vende e que até tem cotação no mercado. O preço da transparência pode ser estimado pela comparação entre os preço praticados por empresas com métodos transparentes e os praticados por empresas pouco transparentes. O caso das oficinas é um bom exemplo. As oficinas oficiais, certificadas pela marca, com facturas detalhadas, que devolvem as peças substituidas e que têm controlo de qualidade externo são mais caras que as oficinas de habilidosos que não passam factura, não têm controlo de qualidade nem devolvem as peças alegadamente substituidas.
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Mas o facto de estes dois tipos de oficinas existirem no mercado é positivo para o cliente. O cliente poderá escolher a que melhor lhe convém de acordo com as suas necessidades de transparência. Clientes que percebem de mecânica e que têm laços de confiança com donos de oficinas poderão poupar na aquisição de transparência. Clientes que não percebem nada de mecânica podem minimizar os riscos de serem enganados comprando transparência numa oficina oficial.
Qualquer tentativa do estado para impôr a transparência por decreto obrigará todas as oficinas a vender transparência, mesmo aos clientes que não precisam dela forçando uma subida generalizada dos preços cobrados.
O mesmo se passa no mercado de produtos financeiro. A oferta tem níveis diversificados de trnsparência. Por exemplo, o BPI tem neste momento uma campanha publicitária em que aposta na venda de transparência a quem não tem muita capacidade para distinguir os produtos bancários uns dos outros. Claro que esta aposta na transparência permitirá ao BPI vender os seus produtos a preços mais elevados do que o poderia fazer de outra forma porque para além de crédito está a vender transparência. Qualquer tentativa do estado para impôr transparência por decreto obrigará todos os clientes a comprar transparência, mesmo aqueles que percebendo como funciona o negócio bancário, ou tendo tempo para o estudar, não precisam de a comprar.
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Mas o facto de estes dois tipos de oficinas existirem no mercado é positivo para o cliente. O cliente poderá escolher a que melhor lhe convém de acordo com as suas necessidades de transparência. Clientes que percebem de mecânica e que têm laços de confiança com donos de oficinas poderão poupar na aquisição de transparência. Clientes que não percebem nada de mecânica podem minimizar os riscos de serem enganados comprando transparência numa oficina oficial.
Qualquer tentativa do estado para impôr a transparência por decreto obrigará todas as oficinas a vender transparência, mesmo aos clientes que não precisam dela forçando uma subida generalizada dos preços cobrados.
O mesmo se passa no mercado de produtos financeiro. A oferta tem níveis diversificados de trnsparência. Por exemplo, o BPI tem neste momento uma campanha publicitária em que aposta na venda de transparência a quem não tem muita capacidade para distinguir os produtos bancários uns dos outros. Claro que esta aposta na transparência permitirá ao BPI vender os seus produtos a preços mais elevados do que o poderia fazer de outra forma porque para além de crédito está a vender transparência. Qualquer tentativa do estado para impôr transparência por decreto obrigará todos os clientes a comprar transparência, mesmo aqueles que percebendo como funciona o negócio bancário, ou tendo tempo para o estudar, não precisam de a comprar.
Blogue a não perder
Hole Horror. "Esse" não é o nosso jcd. Mas a qualidade dos textos e imagens exigem a devida atenção.
Anjos entre nós?
Dito no French Kissin':
Mas de qual natureza humana é que devemos desconfiar, da dos membros do governo, ou da dos membros das autoridades reguladoras?
Ontem o Mário Crespo dizia ao ministro Santos Silva qualquer coisa como o seguinte: quem olha para a lista de membros da Entidade Reguladora da Comunicação Social não vê nenhum conjunto de sábios. Vê gente empenhada politicamente. Alguns até já foram assessores políticos.
Pode a selva política corrigir a selva televisiva?
Um dos debates mais interessantes actualmente no espaço público versa sobre o alcance e os limites da interferência do estado, através do governo ou de entidades reguladoras, nos media, principalmente na televisão.
E um dos aspectos mais curiosos é que muitos dos que bramam constantemente contra a selva televisiva, o baixo nível, são os primeiros a contestar agora qualquer poder de iniciativa estatal. Houve quem acordasse a acreditar (novamente?) na bondade da natureza humana. Comovente...
Mas de qual natureza humana é que devemos desconfiar, da dos membros do governo, ou da dos membros das autoridades reguladoras?
Ontem o Mário Crespo dizia ao ministro Santos Silva qualquer coisa como o seguinte: quem olha para a lista de membros da Entidade Reguladora da Comunicação Social não vê nenhum conjunto de sábios. Vê gente empenhada politicamente. Alguns até já foram assessores políticos.
Pode a selva política corrigir a selva televisiva?
???!
«En Irak, un espion français assassiné
Un agent de la DGSE a été tué «d'un coup de feu lors d'un contrôle à un check-point» le 21 novembre, à Bassorah, au sud de l'Irak.
Un agent de la DGSE a été tué au cours d'une mission dans le sud de l'Irak, le 21 novembre, a-t-on appris lundi auprès du ministère de la défense. Un sous-officier d'une trentaine d'années, appartenant au service Action est « mort en service » indique-t-on à la DGSE (Direction générale de la sécurité extérieure). Le militaire a été tué « d'un coup de feu lors d'un contrôle à un check-point » à Bassorah, la grande ville chiite du sud de l'Irak. Un autre aurait été blessé lors de l'accrochage. »
http://www.liberation.fr/actualite/monde/219677.FR.php
Un agent de la DGSE a été tué «d'un coup de feu lors d'un contrôle à un check-point» le 21 novembre, à Bassorah, au sud de l'Irak.
Un agent de la DGSE a été tué au cours d'une mission dans le sud de l'Irak, le 21 novembre, a-t-on appris lundi auprès du ministère de la défense. Un sous-officier d'une trentaine d'années, appartenant au service Action est « mort en service » indique-t-on à la DGSE (Direction générale de la sécurité extérieure). Le militaire a été tué « d'un coup de feu lors d'un contrôle à un check-point » à Bassorah, la grande ville chiite du sud de l'Irak. Un autre aurait été blessé lors de l'accrochage. »
http://www.liberation.fr/actualite/monde/219677.FR.php
Os anti-sociais e a justiça revolucionária
«Un centenar de personas condenó a la hoguera a un presunto antisocial, que encontró la muerte al ser sorprendido en una casa de Alto Mirador. (...) El intento de robo y la agresión a la mujer movilizaron a la turba que maniató al antisocial para darle una paliza y luego lo arrastró hasta un terreno despoblado, donde finalmente lo bañaron con alcohol de lata. El combustible es muy utilizado para encender los anafres de luz, porque el barrio no cuenta con energía eléctrica, reportó el encargado del grupo Gama de la UTOP, Elio Guzmán. Un grupo de policías de Quillacollo acudió al llamado de auxilio que recibió la central 911. Un sargento trató de apagar las llamas que envolvían al infortunado con ayuda de la chompa de la víctima, informaron fuentes policiales. Pero, cuando venció al fuego, unas personas lo apartaron de los hombros y otras rociaron más alcohol al linchado, además, lo amenazaron con quemarlo a él también. »
http://www.lostiempos.com/noticias/27-11-06/27_11_06_loc10.php
Notícias como esta não são invulgares na BOlívia e geralmente as vítimas acabam a ser apresentadas como culpadas. O partido de Morales e os chamados movimentos sociais não só toleram actos como estes - apresentando-os como uma forma de justiça ancestral - como os praticam. Veja-se o que aconteceu em Ayo Ayo, ao alcaide Benjamín Altamirano
http://www.lostiempos.com/noticias/27-11-06/27_11_06_loc10.php
Notícias como esta não são invulgares na BOlívia e geralmente as vítimas acabam a ser apresentadas como culpadas. O partido de Morales e os chamados movimentos sociais não só toleram actos como estes - apresentando-os como uma forma de justiça ancestral - como os praticam. Veja-se o que aconteceu em Ayo Ayo, ao alcaide Benjamín Altamirano
Phelan, o candongueiro
27.11.06
Selecções:
- «O governo ou o caos», por FJV;
- «Noticiar em causa própria», por Mário Pinto (ver também os comentários)
- «Noticiar em causa própria», por Mário Pinto (ver também os comentários)
OTA: o embuste!
Na sequência da notícia do Público de que o OTA iria ter um acrescento inicial de obras/custos, fomos bombardeados com uma barreira comunicacional que insistiu em meia dúzia de ideias chaves: «atraso» na constução e «adiamento da sua conclusão de 2012 para 2017», pelo que se justificaria a «antecipação de um investimento já previsto», de modo a «fazer face à procura». Tretas que muitos se deram ao cuidado de repetir à exaustão. Sem fazer o trabalhinho de casa:###
- Não há atraso nenhum: foi este governo que no ano passado tomou a decisão de construção do aeroporto.
- Não há adiamento nenhum da sua conclusão: o projecto do novo aeroporto foi apresentando no dia 22/11/05 sob o lema «Lisboa 2017, um aeroporto com futuro».
- O que há, passado um ano é a tentativa de correcção de um erro. É que ainda em Abril do ano passado Mário Lino dizia: «De acordo com o ministro, a solução da Ota, tal como está desenhada, dará uma capacidade anual de tráfego na ordem de 30 milhões de passageiros, ao passo que, com a extensão de capacidade prevista, o Aeroporto da Portela deverá atingir um valor próximo, 23 milhões.» (PD)
- Sucede que o projecto inicial da OTA apenas previa uma capacidade 20 milhões. O que na prática tornava a sua construção totalmente inútil. O que se fez agora, um ano depois da decisão inicial, foi alterar a capacidade inicial para uns «impressionantes» 25 milhões em 2017.
Para disfarçar o embaraço da coisa, alegaram-se então os tais «atrasos» e «adiamentos». Tudo um embuste.
Em 2005, na pressa de anunciar um novo aeroporto, pegou-se num projecto totalmente desfazado no tempo. Agora, tentam colocar-lhe uns remendos. Mas nunca será o famoso «hub», e de acordo com os dados do próprio governo estará obsoleto na data da sua finalização. Mais. A zona de implementação da OTA, não poderá suportar obras que lhe permitam ultrapassar significativamente os 30 milhões de passageiros. Já Rio Frio permitiria uma expansão futura muito mais significativa..
No entretanto: mantêm-se os 450 milhões de euros para a expansão da Portela, mais os 200 milhões para lá por o Metro. Quase o mesmo que custaram as obras em Barajas (Madrid) para passar de uma capacidade de 25 milhões para 70 milhões.....
Nota: Estudos inconvenientes
- Não há atraso nenhum: foi este governo que no ano passado tomou a decisão de construção do aeroporto.
- Não há adiamento nenhum da sua conclusão: o projecto do novo aeroporto foi apresentando no dia 22/11/05 sob o lema «Lisboa 2017, um aeroporto com futuro».
- O que há, passado um ano é a tentativa de correcção de um erro. É que ainda em Abril do ano passado Mário Lino dizia: «De acordo com o ministro, a solução da Ota, tal como está desenhada, dará uma capacidade anual de tráfego na ordem de 30 milhões de passageiros, ao passo que, com a extensão de capacidade prevista, o Aeroporto da Portela deverá atingir um valor próximo, 23 milhões.» (PD)
- Sucede que o projecto inicial da OTA apenas previa uma capacidade 20 milhões. O que na prática tornava a sua construção totalmente inútil. O que se fez agora, um ano depois da decisão inicial, foi alterar a capacidade inicial para uns «impressionantes» 25 milhões em 2017.
Para disfarçar o embaraço da coisa, alegaram-se então os tais «atrasos» e «adiamentos». Tudo um embuste.
Em 2005, na pressa de anunciar um novo aeroporto, pegou-se num projecto totalmente desfazado no tempo. Agora, tentam colocar-lhe uns remendos. Mas nunca será o famoso «hub», e de acordo com os dados do próprio governo estará obsoleto na data da sua finalização. Mais. A zona de implementação da OTA, não poderá suportar obras que lhe permitam ultrapassar significativamente os 30 milhões de passageiros. Já Rio Frio permitiria uma expansão futura muito mais significativa..
No entretanto: mantêm-se os 450 milhões de euros para a expansão da Portela, mais os 200 milhões para lá por o Metro. Quase o mesmo que custaram as obras em Barajas (Madrid) para passar de uma capacidade de 25 milhões para 70 milhões.....
Nota: Estudos inconvenientes
Arredondamentos
Juros no crédito à habitação sobem pelo 11º mês consecutivo.###
LT, n'O Insurgente, sugere ao Governo que pondere legislar sobre o valor máximo que a taxa de juro dos créditos à habitação poderá assumir. Sabendo que o Governo pondera impor limites máximos às taxas de juro no crédito ao consumo, é bem possível que a sugestão seja aceite.
LT, n'O Insurgente, sugere ao Governo que pondere legislar sobre o valor máximo que a taxa de juro dos créditos à habitação poderá assumir. Sabendo que o Governo pondera impor limites máximos às taxas de juro no crédito ao consumo, é bem possível que a sugestão seja aceite.
À Paulada.
Fiquei logo a tremer ao imaginar a resposta de um dos blogoexistos à minha posta sobre Milton Friedman no Chile. Estes tipos são uns senhores e fazem-me lembrar o cão (um cão fino, um Grand Danois, nada de rafeiros) de Pavlov: elogia-se-lhes um ódiozinho e põem-nos logo no nosso lugar, com uma rosnadela. Gente com classe é assim, está fadada para dar lições aos ígnaros. Altamente previsíveis.
Enfim, lá pensaram, como sempre fazem, que isto é gente de muito neurónio ebulitivo, e o que é que saíu? Isto, ou seja, uma merecida mistura de pauladas com liçoes de cátedra.###
Como seria de esperar, nem precisaram ler o que escrevi. Para quê? Quem já viu tudo, já pensou em tudo e já sabe tudo não perde tempo com minudências. O mundo está cheio de Counterpunchs, de onde se pode beber ciência e conhecimento. E é por isso que não só sabem o que sabem e que já é muito, mas também sabem o que os outros sabem e, mais ainda, sabem o que os que não sabem nada não sabem. Gente que pensa, bloga e existe.
Escrevi que Friedman teve um comportamenmto elogioso no caso do Chile e tentei justificar. Como responderam eles? Muito bem. Palerma. Ígnaro. Maluco. Misturador de vegetais. Assim não vale porque também falei em Cuba. E na China. E na Nike e no Vietname. E que o PNB não serve porque a Arábia Saudita também tem um, que ainda levamos uma tareia intelectual se quisermos discutir a Nova Zelândia e que etcetera e tal.
Estes grandes sabedores não nos deixam relativizar nada. Maldita liberdade de expressão.
Digam-me vocês se estes tipos não são geniais da cabeça? Não sei se vale a pena tentar continuar a debater aqui do manicómio, mas sempre vos direi duas ou três coisas, desculpem-me o atrevimento:
1. Ainda bem que são conhecedores a ponto de conseguirem interpretar o que é o PIB ou o PNB, essa coisa estranhíssima. Isto não é para qualquer um. E podem falar-nos mais na Nova Zelândia. Até aposto que querem falar no PIB. Estou certo que, com a vossa proficiência, não vos custará muito tentar ensinar-me.
2. Por muito estranho que vos pareça, eu estava convencidíssimo que o Chile nunca tinha sido o país mais rico da América Latina, nem antes nem depois dos blogoexistos nascerem, a não ser que eles sejam mais velhos que a invenção dos PNBs e dessas coisas para especialistas do sector. Mas agora que já fui elucidado, talvez possam ensinar aqui os leitores do Blasfémias e explicar-nos quando é que tal aconteceu. Estou curiosíssimo, sempre gostei de história antiga.
3. Como não são fanáticos, os blogoexistos reconheçem muitos méritos (e também alguns deméritos) como economista ao Milton Friedman, mas não era disso que tratava o post. Falaram de um comportamento vergonhoso, que não teve nada a ver com economia. E eu respondi com descaramento, aplaudindo o comportamento de Friedman, que, pensava eu, de vergonhoso nada teve. Na minha ignorância, acreditei que ajudar pessoas a enriquecerem, ter uma atitude didáctica perante os mistérios da economia e iluminar o caminho do desenvolvimento era meritório. Nada disso. Na resposta levei na cabeça dos blogoexistos, de cima de um palanque, com um pau de bicos. Parece que não sou equilibrado. O que vale é que eles são.
Estes não-fanáticos têm um grande método para promover um são debate de ideias. Matam o adversário à paulada, falam de cátedra e em bicos de pés Depois da pancada, esperam a rendição cabisbaixa perante tanta proclamada sapiência. Acho bem. É preciso que os grandes sapientes calem os que blasfemam em atitude casmurra.
Aguardo cheio de expectativa eventuais esclarecimentos. E se me ignorarem, que é o que eu mereço, fica pelo menos, desde já, um agradecimento pela atitude didáctica e aberta que demonstrou . Obrigado João.
Road to Freedom
«INTERVIEWER: In the end, the Chilean [economy] did quite well, didn't it?
MILTON FRIEDMAN: Oh, very well. Extremely well. The Chilean economy did very well, but more important, in the end the central government, the military junta, was replaced by a democratic society. So the really important thing about the Chilean business is that free markets did work their way in bringing about a free society.»
Entrevista completa, aqui.
MILTON FRIEDMAN: Oh, very well. Extremely well. The Chilean economy did very well, but more important, in the end the central government, the military junta, was replaced by a democratic society. So the really important thing about the Chilean business is that free markets did work their way in bringing about a free society.»
Entrevista completa, aqui.
Nem sempre os bens e serviços são pagos em dinheiro
Em muitos casos são pagos em atenção, quota de mercado, publicidade gratuita, outros bens e serviços, informação, fidelidade, favores, emprego futuro, rendimentos futuros ... A lista é infindável. Quase todos os mercados são incompreensíveis se este fenómeno não for tido em conta.
O preço do conhecimento
Quem se encontra há muitos anos no comércio automóvel adquiriu graças ao seu trabalho determinados conhecimentos sobre o funcionamento do negócio que são valiosissimos. Conhecimentos sobre os gostos dos clientes, sobre as variaçoes da procura, sobre o tempo de vida dos carros, as necessidades de reparação. O cliente está interessado em parte desse conhecimento, pelo que ou estuda o mercado em questão, ou se filia numa organização de consumidores ou paga o preço desse conhecimento comprando produtos que lhe ficam mais caros. Em nenhuma situação o detentor do conhecimento estará disposto a revelá-lo de borla. E isto é um facto que nenhuma ideologia política mudará. | Quem se encontra há muitos anos no comércio de produtos bancários adquiriu graças ao seu trabalho determinados conhecimentos sobre o funcionamento do negócio que são valiosissimos. Conhecimentos sobre os gostos dos clientes, sobre as variaçoes da procura, sobre o tempo de vida dos empréstimos e sobre os produtos complementares ao crédito à habitação. O cliente está interessado em parte desse conhecimento, pelo que ou estuda o mercado em questão, ou se filia numa organização de consumidores ou paga o preço desse conhecimento comprando produtos que lhe ficam mais caros. Em nenhuma situação o detentor do conhecimento estará disposto a revelá-lo de borla. E isto é um facto que nenhuma ideologia política mudará. |
Transações comerciais atípicas II
Numa transação comercial nem sempre é óbvio o que está a ser comprado. Quando alguém compra um carro não compra apenas o objecto carro mas também outros bens que lhe estão associados: os extra promocionais como o auto-rádio ou os 1000 km de gasolina paga, status, tempo, informação sobre o estado do carro e informação sobre o negócio de venda de carros. Cada um destes componentes do preço do carro tem um preço de mercado que se soma ao preço do objecto carro. O cliente pode não pagar apenas em dinheiro. Pode pagar em informação cedendo dados para a base de dados do vendedor ou em fidelidade à marca ficando obrigado, por força das circunstâncias de mercado, a usar as oficinas da empresa. | Numa transação comercial nem sempre é óbvio o que está a ser comprado. Quando alguém compra um crédito bancário não compra apenas o dinheiro mas também outros bens intangíveis que lhe estão associados: status, transparência, tempo e informação sobre o negócio bancário. Cada um destes componentes do preço do crédito tem um preço de mercado que se soma ao preço do dinheiro propriamente dito. O cliente não paga apenas em dinheiro. Pode pagar em informação cedendo dados para a base de dados do banco ou em fidelidade à marca comprometendo-se a comprar cartões de crédito do banco ou a depositar regularmente o seu ordenado no banco. |
Movida blogosférica
SERÁ QUE ISTO
«Será interessante acompanhar o nascimento, evolução (e, se se mantiver a tendência do passado, a morte por inanição) de blogues políticos que, pelos seus meios profissionais, se percebe terem financiamentos próprios cuja origem é desconhecida. É um fenómeno novo que mostra a importância crescente da blogosfera e do qual não vem nenhum mal, se existir um pouco mais de transparência. No fundo, trata-se de política pura e dura e não de qualquer actividade amadora e lúdica pelo que saber quem paga é relevante. Relevante e instrutivo.»
http://abrupto.blogspot.com/
TEM A VER COM ISTO
«No 31 da Armada prometemos ser, e seremos, comprometidos. Assumidamente comprometidos. Defenderemos causas, defenderemos amigos ? ou não - e criticaremos adversários. Estaremos de um dos lados em muitos conflitos, estaremos em vários lados noutros. Somos e seremos livres a pensar e absolutamente dependentes das nossas convicções a opinar. Não temos a ambição de ser isentos, mas tentaremos ser rigorosos e sérios. Fanaticamente sérios.»
http://31daarmada.blogs.sapo.pt/
«Será interessante acompanhar o nascimento, evolução (e, se se mantiver a tendência do passado, a morte por inanição) de blogues políticos que, pelos seus meios profissionais, se percebe terem financiamentos próprios cuja origem é desconhecida. É um fenómeno novo que mostra a importância crescente da blogosfera e do qual não vem nenhum mal, se existir um pouco mais de transparência. No fundo, trata-se de política pura e dura e não de qualquer actividade amadora e lúdica pelo que saber quem paga é relevante. Relevante e instrutivo.»
http://abrupto.blogspot.com/
TEM A VER COM ISTO
«No 31 da Armada prometemos ser, e seremos, comprometidos. Assumidamente comprometidos. Defenderemos causas, defenderemos amigos ? ou não - e criticaremos adversários. Estaremos de um dos lados em muitos conflitos, estaremos em vários lados noutros. Somos e seremos livres a pensar e absolutamente dependentes das nossas convicções a opinar. Não temos a ambição de ser isentos, mas tentaremos ser rigorosos e sérios. Fanaticamente sérios.»
http://31daarmada.blogs.sapo.pt/
Friedman e o Chile
No Blogoexisto, João Pinto e Castro gastou 7 posts a explicar que o comportamento de Milton Friedman em relação ao Chile de Pinochet foi vergonhoso, baseando-se na transcrição de um artigo publicado num boletim da esquerda americana, Counterpunch.
Confesso que esta análise me faz uma alguma comichão nos neurónios. Ignora o essencial: O Chile é hoje uma democracia consolidada, o país mais rico da América Latina, já está a par da Argentina no Índice de Desenvolvimento Humano e ainda é o primeiro no Índice de Liberdade Económica. E tudo isto foi conseguido com a assinatura dos Chicago Boys.
Vergonha, escreve João Pinto e Castro. Vergonha? Como é que alguém pode sentir vergonha em tamanho sucesso? Ao invés, imagino o profundo orgulho com que Friedman olhava para a obra dos seus alunos.###
É óbvio que o Chile era uma ditadura e que o regime de Pinochet conta com cerca de 3000 vítimas no cadastro. Mas depois da perseguição sanguinária aos adversários políticos, o regime soube reformar uma economia em cacos e permitir aos chilenos a melhoria gradual do seu nível de vida. E como gente rica educa-se e gente educada não aceita ditaduras, o Chile transformou-se numa democracia, sem recurso a mais golpes de estado predadores, numa transição pacífica que deveria servir de modelo a outros ditadores latinos.
Há uma estranha dualidade de análise nestas questões. Por exemplo, ao mesmo tempo que se exige o fim do "embargo" a Cuba, cujo efeito é praticamente nulo mas, argumenta-se, prejudica principalmente a população mais pobre, critica-se a abertura que enriqueceu os chilenos e quem ajudou a esse enriquecimento. De um lado, protesta-se com quem ajudou um país que vivia em ditadura. Do outro critica-se quem não ajuda um país que vive em ditadura.
Não é só em relação ao Chile que esta atitude se faz notar. Ao mesmo tempo que se crucifica o investimento estrangeiro que tem permitido a centenas de milhões de chineses abandonar uma vida nos limites da subsistência, não se notam quaisquer protestos contra os investimentos no turismo em Cuba, apesar do regime de Fidel contar um rol de vítimas bem mais extenso que o regime de Pinochet.
Lêem-se por aí mais censuras a investimentos como os da Nike e da Intel no Vietname, investimentos que permitem melhorar a vida de milhões de vietnamitas, do que reprimendas ao regime comunista que ajudou a espalhar e a manter na miséria a quase totalidade da população. O silêncio acompanhou a fase de empobrecimento, os protestos acompanham as tentativas de recuperação.
No Chile, Allende, democraticamente eleito, destruiu a economia em menos de 3 anos. Os Chicago Boys, protegidos por uma ditadura, demoraram bastante mais tempo a reconstruí-la. Hoje, o Chile tem a economia e a democracia. Podemos culpar Allende pela tragédia económica e social e obviamente, muito mais devemos criticar Pinochet pela repressão e pelos assassínios. Mas se no meio disto tudo há motivo para vibrantes aplausos, estes devem ir justamente para Milton Friedman e para os Chicago Boys.
Confesso que esta análise me faz uma alguma comichão nos neurónios. Ignora o essencial: O Chile é hoje uma democracia consolidada, o país mais rico da América Latina, já está a par da Argentina no Índice de Desenvolvimento Humano e ainda é o primeiro no Índice de Liberdade Económica. E tudo isto foi conseguido com a assinatura dos Chicago Boys.
Vergonha, escreve João Pinto e Castro. Vergonha? Como é que alguém pode sentir vergonha em tamanho sucesso? Ao invés, imagino o profundo orgulho com que Friedman olhava para a obra dos seus alunos.###
É óbvio que o Chile era uma ditadura e que o regime de Pinochet conta com cerca de 3000 vítimas no cadastro. Mas depois da perseguição sanguinária aos adversários políticos, o regime soube reformar uma economia em cacos e permitir aos chilenos a melhoria gradual do seu nível de vida. E como gente rica educa-se e gente educada não aceita ditaduras, o Chile transformou-se numa democracia, sem recurso a mais golpes de estado predadores, numa transição pacífica que deveria servir de modelo a outros ditadores latinos.
Há uma estranha dualidade de análise nestas questões. Por exemplo, ao mesmo tempo que se exige o fim do "embargo" a Cuba, cujo efeito é praticamente nulo mas, argumenta-se, prejudica principalmente a população mais pobre, critica-se a abertura que enriqueceu os chilenos e quem ajudou a esse enriquecimento. De um lado, protesta-se com quem ajudou um país que vivia em ditadura. Do outro critica-se quem não ajuda um país que vive em ditadura.
Não é só em relação ao Chile que esta atitude se faz notar. Ao mesmo tempo que se crucifica o investimento estrangeiro que tem permitido a centenas de milhões de chineses abandonar uma vida nos limites da subsistência, não se notam quaisquer protestos contra os investimentos no turismo em Cuba, apesar do regime de Fidel contar um rol de vítimas bem mais extenso que o regime de Pinochet.
Lêem-se por aí mais censuras a investimentos como os da Nike e da Intel no Vietname, investimentos que permitem melhorar a vida de milhões de vietnamitas, do que reprimendas ao regime comunista que ajudou a espalhar e a manter na miséria a quase totalidade da população. O silêncio acompanhou a fase de empobrecimento, os protestos acompanham as tentativas de recuperação.
No Chile, Allende, democraticamente eleito, destruiu a economia em menos de 3 anos. Os Chicago Boys, protegidos por uma ditadura, demoraram bastante mais tempo a reconstruí-la. Hoje, o Chile tem a economia e a democracia. Podemos culpar Allende pela tragédia económica e social e obviamente, muito mais devemos criticar Pinochet pela repressão e pelos assassínios. Mas se no meio disto tudo há motivo para vibrantes aplausos, estes devem ir justamente para Milton Friedman e para os Chicago Boys.
Notícia do El Mundo ao cuidado do prof. Boaventura
«VERSIÓN EN MAPUNDUNGUN DE WINDOWS
Guerra idiomática entre los indígenas mapuches de Chile y Microsoft
SANTIAGO.- Indígenas de la etnia mapuche en Chile quieren llevar a los tribunales al gigante del 'software', Microsoft, en una batalla en la que se cuestiona sobre si alguien puede ser 'dueño' del idioma que habla.
La polémica comenzó cuando la compañía de Bill Gates tomó la decisión de lanzar en octubre su paquete de Windows en versión mapudungun, lengua que hablan unos 400.000 mapuches chilenos, que viven principalmente en el sur del país. (...) Pero los mapuches se han revelado y acusan a la firma estadounidense de violar su herencia cultural y colectiva con la traducción del 'software' a su idioma sin su permiso. Incluso, han enviado una carta al fundador de Microsoft, el multimillonario Bill Gates, en la que culpan a la compañía de 'piratería intelectual'. »
Guerra idiomática entre los indígenas mapuches de Chile y Microsoft
SANTIAGO.- Indígenas de la etnia mapuche en Chile quieren llevar a los tribunales al gigante del 'software', Microsoft, en una batalla en la que se cuestiona sobre si alguien puede ser 'dueño' del idioma que habla.
La polémica comenzó cuando la compañía de Bill Gates tomó la decisión de lanzar en octubre su paquete de Windows en versión mapudungun, lengua que hablan unos 400.000 mapuches chilenos, que viven principalmente en el sur del país. (...) Pero los mapuches se han revelado y acusan a la firma estadounidense de violar su herencia cultural y colectiva con la traducción del 'software' a su idioma sin su permiso. Incluso, han enviado una carta al fundador de Microsoft, el multimillonario Bill Gates, en la que culpan a la compañía de 'piratería intelectual'. »
A corporação dos eleitos
A propósito das presidencias francesas... vamos falar de "parrainages". É isso mesmo: apadrinhamento. Para se ser candidato às presidenciais em França são necessárias 500 assinaturas recolhidas entre cidadãos eleitos. Procura-se assim oficialmente evitar
a apresentação de «candidaturas fantasistas»
Inicialmente eram apenas necessárias 100 assinaturas. Posteriormente passou-se para 500. Agora discute-se se o nome dos padrinhos de cada candidatura será ou não revelado. SEgundo o Conselho Constitucional nas presidenciais de 2007 o nome dos padrinhos de cada candidato presidencial não será revelado.
A ler e procurar entender em
http://www.conseil-constitutionnel.fr/
a apresentação de «candidaturas fantasistas»
Inicialmente eram apenas necessárias 100 assinaturas. Posteriormente passou-se para 500. Agora discute-se se o nome dos padrinhos de cada candidatura será ou não revelado. SEgundo o Conselho Constitucional nas presidenciais de 2007 o nome dos padrinhos de cada candidato presidencial não será revelado.
A ler e procurar entender em
http://www.conseil-constitutionnel.fr/
algum pudor
"O Governo tem cortado no rol de beneficiados do Estado. Corta-lhes nas pensões excepcionais e nos subsistemas de Segurança Social dotados de regimes de comparticipações muito acima do regime geral.
Eu senti entre os jornalistas tanto júbilo por estas medidas como entre os cidadãos em geral. Nalguns casos, os jornalistas - eles próprios - se armaram em justiceiros e procuraram denunciar os privilegiados. Fizeram-se manchetes sobre políticos, funcionários e gestores públicos. Foram feitas críticas acesas contra estes sorvedouros legais do escasso dinheiro do Estado. Eu própria vociferei contra as benesses.###
Neste frenesim, os jornalistas calaram cobardemente - incluindo eu - os seus próprios benefícios no sistema de saúde. Os jornalistas usufruem de um regime de excepção - a Caixa de Previdência dos Jornalistas - que lhes dá das mais elevadas comparticipações nos serviços de saúde.
Utentes do Serviço Nacional de Saúde, os jornalistas podem recorrer ao sector privado e são ressarcidos das despesas, nalguns casos pela totalidade (v.g., cirurgias). Um caso que fala por si: um cidadão normal que precise de óculos recebe do Estado 75 cêntimos pela armação e 20 cêntimos por cada lente; um jornalista pode comprar a dita armação e as respectivas lentes sem limite de preço e recebe do Estado 80% da despesa (há armações que chegam a custar 5 mil euros).
Calaram-se os jornalistas porque sempre pensaram que o Governo não teria coragem para mexer nos privilégios da 'classe' que o 'fiscaliza'. Mas o Governo decidiu mesmo acabar com a dita Caixa de Previdencia dos Jornalistas já em Janeiro. Não creio que seja um gesto de coragem. A decisão foi baseada na presunção de que os jornalistas não iriam ter a coragem ou o desplante de criticar uma medida que, eles próprios, aplaudem noutros sectores.
Presunção errada. O Sindicato dos Jornalistas saiu em defesa do que classificou de 'património' jornalístico e, num manifesto que já recolheu mil assinaturas, justifica assim a manutenção dos privilégios para os profissionais da comunicação social:
'Jornadas (de trabalho) intensas e prolongadas e informalidade de horários, com fortes impactos na saúde e na qualidade de vida destes profissionais, como demonstra a significativa prevalência de stress e de doenças do foro cardíaco, desgaste rápido e até morte precoce. Esta situação agravou-se nos últimos anos com a crescente precariedade (do emprego), um extraordinário aumento dos níveis de exigência, polivalência e de disponibilidade'.
Quantos profissionais de outras áreas podiam subscrever este diagnóstico - e, não sendo jornalistas, estão excluídos do regime de excepção?.
Alguns dirigentes do Sindicato e alguns jornalistas que subscreveram o dito manifesto dizem-se de esquerda. Uma esquerda que defende o Serviço Nacional de Saúde universal, gratuito e exclusivamente público. E, pensava eu, igualitário.
Calámo-nos cobardemente. Porque foi bom enquanto durou - até para os que se batem pela igualdade. A partir de agora, porém, ficaria bem algum pudor."
(Paula Sá, comentário ao post A esfera pública; editado).
26.11.06
A esfera pública
Por onde quer que os ingleses tenham colonizado, eles deixaram bens, ideias e instituições públicas: a ideia de democracia, a atitude constitucional, a respeitabilidade do Estado, as instituições da sociedade anónima e da bolsa de valores e várias outras. Foi assim nos EUA, no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia, até na India.###
Pelo contrário, por onde os portugueses (e os espanhóis) colonizaram, nenhuma instituição pública respeitável ficou de pé, menos ainda qualquer ideia. Ficaram apenas a língua e a Igreja Católica. Basta olhar a América Latina. Basta olhar as mais recentes heranças da colonização portuguesa: Angola, Moçambique, Cabo Verde, a Guiné e Timor possuem hoje a dúbia distinção de se encontrarem entre os vinte países mais pobres do mundo.
A diferença reside numa visão distinta da esfera pública da sociedade. Num caso, a esfera pública da sociedade - no sentido dos bens públicos, das instituições públicas e das ideias que as suportam - é vista como um capital precioso que deve ser preservado e aumentado para promover a melhoria de vida das pessoas no presente e para o futuro. No outro caso, a esfera pública da sociedade é vista como um conjunto de bens destinado a consumo imediato e a ser repartido imediatamente.
Nos países onde prevalece a primeira concepção, a discussão política tende a centrar-se nas formas de preservar e aumentar o capital público para benefício indeterminado da geração presente e das gerações futuras. Quando estes países deixam de colonizar, eles deixam também um legado nas suas ex-colónias - um legado de bens públicos, de instituições públicas e de ideias que suportam essas instituições.
Pelo contrário, nos países onde prevalece a segunda concepção, a discussão política tende a centrar-se na forma de distribuir os bens que pertencem à esfera pública entre os vários grupos de interesses que, entretanto, se organizaram expressamente para o efeito. Quando estes países abandonam as colónias, a esfera pública dos países colonizados fica fazia - os bens públicos, se alguns ainda existem ou se alguma vez foram criados, encontram-se delapidados e, quanto às instituições públicas e às ideias que as suportam, isso são coisas que, em primeiro lugar, nunca interessaram aos colonizadores.
Esta gente vai às compras?
Segundo o PÚBLICO de 24 de Novembro
«Uma das recomendações estratégicas do estudo sobre o futuro do comércio de Lisboa, elaborado no âmbito da revisão do PDM, consiste na "interdição das grandes superfícies generalistas". O trabalho, coordenado por Margarida Pereira, da Universidade Nova de Lisboa, e do qual apenas se conhecem as recomendações e orientações estratégicas, defende também a interdição da "instalação desordenada e dispersa de galerias e espaços comerciais". A "valorização da rua e do comércio de proximidade dos mercados municipais e dos centros locais" é outra das recomendações, tal como a "consolidação da hierarquia das polaridades comerciais existentes". O estudo sugere igualmente a "promoção da frente ribeirinha como espaço lúdico e de comércio e restauração, em articulação com o lazer e a cultura". Outra proposta prende-se com a concentração de comércio e restauração em "locais de maior tradição e/ou acessibilidade".»
«Uma das recomendações estratégicas do estudo sobre o futuro do comércio de Lisboa, elaborado no âmbito da revisão do PDM, consiste na "interdição das grandes superfícies generalistas". O trabalho, coordenado por Margarida Pereira, da Universidade Nova de Lisboa, e do qual apenas se conhecem as recomendações e orientações estratégicas, defende também a interdição da "instalação desordenada e dispersa de galerias e espaços comerciais". A "valorização da rua e do comércio de proximidade dos mercados municipais e dos centros locais" é outra das recomendações, tal como a "consolidação da hierarquia das polaridades comerciais existentes". O estudo sugere igualmente a "promoção da frente ribeirinha como espaço lúdico e de comércio e restauração, em articulação com o lazer e a cultura". Outra proposta prende-se com a concentração de comércio e restauração em "locais de maior tradição e/ou acessibilidade".»
dois maus sinais
Uma democracia trata bem os seus militares. Concede-lhes honras, dignidade e distinção. E trata bem não apenas os vivos - trata bem também os mortos para lembrar os vivos que, se eles morrerem em nome dos seus concidadãos, estes estarão cá para os relembrar.###
Os militares, tal como os polícias e os juizes, são o espelho de uma nação democrática e constitucional. E os militares, provavelmente, acima de todos porque, em última instância, a ordem democrática está nas mãos deles.
Porém, em Portugal, desde que os militares deixaram de ser necessários para fazer a guerra no ultramar e para implantar a democracia, instalou-se a opinião de que eles não servem para nada. E, segundo certa corrente de opinião, eles devem ser tratados como quaisquer funcionários públicos tornados desnecessários em qualquer ministério governamental.
Mas não devem. Os militares constituem uma das poucas classes de servidores públicos (as outras são a polícia e a judicatura) que deve ser paga simplesmente para estar lá, e não necessariamente para fazer alguma coisa. E, no caso dos militares, é o pior dos sinais para eles e para o público se eles tiverem de fazer alguma coisa.
Porém, num Estado que assumiu todas as funções possíveis e imaginárias na sociedade, o resultado inevitável foi a perda do sentido de Estado. E, numa época de cortes orçamentais, cortam-se aos militares os benefícios de saúde e outros que eles possuíam no mesmo plano em que se cortam os benefícios de saúde aos jornalistas.
Os militares manifestam-se agora nas ruas de Lisboa perante uma certa apatia da opinião pública portuguesa. São dois maus sinais - a manifestação dos miliares e a apatia da opinião pública.
25.11.06
Tá mal:
O ministro do Interior da República Checa dissolveu um partido político KSCM (União dos jovens comunistas), por estes se oporem à propriedade privada e pretenderem instaurar uma «democracia socialista», o que será contrário à actual Constituição Checa.
###Ora, uma das características das sociedades abertas (em pleno contraste com as que o não são), é a liberdade de se colocar em causa o estabelecido, o de poder fazer propostas de mudança da sociedade, quaisquer que elas sejam. A liberdade de as propor deverá ser total. Caso contrário não haverá liberdade. Daí não fazer sentido a proibição de partidos que defendam a monarquia quando o regime é constitucionalmente republicano, (ou vice-versa), partidos comunistas, fascistas, nazis, independentistas, secessionistas, religiosos, etc. Os fins ou objectivos de um partido político não devem ser sancionados/avalizados previamente pelos demais, nem pelo Estado (o que sempre implicaria uma forma de limitação da liberdade). Mas já deverá ser exercido um controle quanto aos meios porque pretendem alcançar esses objectivos. O respeito da legalidade, nomeadamente democrática, no que diz respeito à forma e meios porque apresentam ou defendem os seus propósito é que é sindicavel, pois que em caso de violação, (por exemplo a luta armada, ocupações, etc.), colocam em causa os direitos dos demais.
###Ora, uma das características das sociedades abertas (em pleno contraste com as que o não são), é a liberdade de se colocar em causa o estabelecido, o de poder fazer propostas de mudança da sociedade, quaisquer que elas sejam. A liberdade de as propor deverá ser total. Caso contrário não haverá liberdade. Daí não fazer sentido a proibição de partidos que defendam a monarquia quando o regime é constitucionalmente republicano, (ou vice-versa), partidos comunistas, fascistas, nazis, independentistas, secessionistas, religiosos, etc. Os fins ou objectivos de um partido político não devem ser sancionados/avalizados previamente pelos demais, nem pelo Estado (o que sempre implicaria uma forma de limitação da liberdade). Mas já deverá ser exercido um controle quanto aos meios porque pretendem alcançar esses objectivos. O respeito da legalidade, nomeadamente democrática, no que diz respeito à forma e meios porque apresentam ou defendem os seus propósito é que é sindicavel, pois que em caso de violação, (por exemplo a luta armada, ocupações, etc.), colocam em causa os direitos dos demais.
Leituras:
A reportagem sobre a Coreia do Norte, «Um turista no país dos kims» de Carlos Ribeiro, no Fugas/Público. E também o excelente blog/reportagem de Rita Colaço.
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25 de novembro, sempre!*
Farto de aturar os desvarios e os desmandos dos capitalistas portugueses, o brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante supremo do COPCON (o zeloso Comando Operacional do Continente), função que acumulava, graças à sua inesgotável capacidade de trabalho e a um enorme talento, com a de Comandante da Região Militar de Lisboa, resolveu ordenar a prisão de uns tantos exploradores do bom povo trabalhador, na noite de 13 de Dezembro de 1974, sob a suspeita do terrível crime de «fascismo».
A medida compreendia-se e era sensata. Os detidos conspiravam contra a boa ordem revolucionária e, cobardemente, sabotavam a economia nacional. Eles que, donos de fábricas, bancos e empresas, invejosos e arrogantes, não eram capazes de tolerar as oportunidades criadas pela nova ordem estabelecida e pelo novíssimo regime democrático e popular. Vai daí, antes que causassem mais mossa à economia nacional, antevendo as muitas dificuldades económicas que a «pesada herança» havia de trazer ao país, o brigadeiro engavetou-os sem apelo nem agravo. E sem que lhes fosse dito porquê, obviamente. Ao tempo, a palavra de um revolucionário ainda tinha valor. E se Otelo dizia que aqueles verdugos queriam mal à economia, ao povo e à pátria, estava o assunto encerrado, encerrando os cavalheiros em lugar conveniente.###
Uns dias mais tarde, passado já o Natal e o Ano Novo, em meados do primeiro mês do ano seguinte, o governo patriótico do coronel Gonçalves iniciou, paulatina e sensatamente, como era seu timbre e feitio, uma ordeira vaga de nacionalizações. Pois, se os grandes capitalistas conspiravam contra a economia nacional, o povo e a pátria, a pátria e o povo que lhes ficassem com os bancos, as seguradoras e as empresas em geral. Assim foi feito, a bem da Nação, com os notáveis resultados de que todos ainda hoje beneficiamos.
Nesse compasso de tempo e após a tentativa golpista do errático general Spínola, o general Costa Gomes ascendera à mais alta magistratura da Nação. Estávamos a 30 de Setembro de 1974 e o velho general do monócolo aristocrático e vaidoso enredara-se num bizarro golpismo anti-democrático, que envolvia maiorias silenciosas, touradas e apupadelas públicas ao Sr. Primeiro-Ministro Gonçalves. Coisas que não se fazem, caem mal às nações civilizadas e não se podem tolerar. Vai daí, uns dias mais tarde, nos idos do 11 de Março de 75, novo golpe. O homem não se cansava de golpear deslealmente os seus camaradas de armas que, esgotada a tolerância, lhe deram guia de marcha e o deixaram abalar para Madrid.
Estava, pois, reposta a ordem democrática e o Estado de Direito: Costa Gomes, Presidente, Vasco Gonçalves, Primeiro-Ministro e Otelo, Grande Comandante. A Salvação Pública vinha a caminho pela mão deste fascinante Comité e, para Otelo, apreciador das boas tradições, a «salvação pública» deveria ter começo no Campo Pequeno.
Assim se reuniram, de forma expedita, as condições ideais para concretizar os três «D?s» de Abril: «Democratizar», «Descolonizar» e «Desenvolver». Este último fora cumprido com a prisão do grande capital e as nacionalizações. O primeiro, asseguradíssimo pelos elevados sentimentos democráticos das ilustres autoridades do Estado. Faltava «Descolonizar». Foi do que se tratou, expeditamente também, a partir daí, com os resultados que todos conhecemos. Libertado Moçambique em 25 de Junho de 75, resolvida a Guiné em 10 de Setembro, restava Angola, tornada independente dois meses depois, a 11 de Novembro.
A partir de então, misteriosamente, o empenho pessoal do Dr. Álvaro Cunhal pelo rectângulo pareceu ter esmorecido. Ainda tolerou o cerco da «Constituinte» em 12 de Novembro, onde, de resto, os senhores deputados da sua bancada tiveram um comportamento democraticamente exemplar, mas já não era a mesma coisa. Os ventos da história sopravam mais suaves. O Dr. Cunhal não estava, de facto, fadado para apparatchik regional do Império Soviético. Ele fora um dos mais fiéis intérpretes e executores do internacionalismo proletário e, um dia, o seu mérito seria reconhecido na fraternidade universal que o Grande Império instauraria na Ásia, na Europa, em África e na América. A Oceânia, onde habitavam mais cangurus do que operários, podia esperar e o nosso pequeno rectângulo era já uma insignificância na marcha socialista da humanidade.
Até que no dia 25 de Novembro de 1975, um grupo de desordeiros depôs pela violência das armas o regime e a ordem instituídos. Fascistas e golpistas ligados a Spínola (já a banhos no Rio) e ao MDLP, como Jaime Neves, Tomé Pinto, Ramalho Eanes, Vasco da Rocha Vieira e Loureiro dos Santos, depuseram as autoridades legitimamente constituídas e destruíram o sonho cubano português. Otelo bem avisara que, tivesse um pouco mais de cultura e seria o nosso «Comnadante», o nosso Fidel. Dois dias depois foi corrido das suas altas funções, o que não deixou de ser merecida punição: para a próxima, que se aplique mais nos estudos!
Falando, agora, seriamente, é a estes e a outros homens que, faz hoje trinta anos arriscaram as suas vidas, que devemos a liberdade. Ela teria, certamente, vindo mais tarde ou mais cedo. Mas, não fossem eles, Portugal não teria escapado a um banho de sangue de que esteve muito próximo e a que hoje ainda estaríamos a fazer contas.
Dos bonzos arvorados em pretorianos tutelares do regime, só mais tarde nos livraríamos, é certo, com a extinção do malfadado Conselho da Revolução, em 1982. Porque, os verdadeiros heróis do 25 de Novembro souberam honradamente regressar aos seus postos, deixando o poder político à sociedade civil, como deve ser feito. Bem-hajam, pois, trinta e um anos depois.
Farto de aturar os desvarios e os desmandos dos capitalistas portugueses, o brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante supremo do COPCON, o zeloso Comando Operacional do Continente e, também, Comandante da Região Militar de Lisboa, ordenou a prisão de uns tantos exploradores do bom povo trabalhador, na noite de 13 de Dezembro de 1974.
A medida compreendia-se e era sensata. Os detidos conspiravam contra a boa ordem revolucionária e, cobardemente, sabotavam a economia nacional. Eles que, donos de fábricas, bancos e empresas, invejosos e arrogantes, não eram capazes de tolerar as oportunidades criadas pela nova ordem estabelecida e pelo regime democrático e popular instaurado. Vai daí, antes que causasse mais mossa à economia nacional, o brigadeiro engavetou-os sem apelo nem agravo. E sem que lhes fosse dito porquê, obviamente. Ao tempo, a palavra de um revolucionário ainda tinha valor. E se Otelo dizia que aqueles verdugos queriam mal à economia, ao povo e à pátria, estava o assunto encerrado, encerrando os cavalheiros em lugar conveniente.
Uns dias mais tarde, passado já o Natal e o Ano Novo, em meados do primeiro mês do ano seguinte, o governo patriótico do coronel Gonçalves iniciou, paulatina e sensatamente, como era seu timbre e feitio, uma ordeira vaga de nacionalizações. Pois, se os grandes capitalistas conspiravam contra a economia nacional, o povo e a pátria, a pátria e o povo que lhes ficasse com os bancos, as seguradoras e as empresas em geral. Assim foi feito, a bem da Nação, com os notáveis resultados de que todos ainda hoje beneficiamos.
Nesse compasso de tempo e após a tentativa golpista do errático general Spínola, o general Costa Gomes ascendera à mais alta magistratura da Nação. Estávamos a 30 de Setembro de 1974 e o velho general do binóculo enredara-se num bizarro golpismo anti-democrático, que envolvia maiorias silenciosas, touradas e apupadelas públicas ao Sr. Primeiro-Ministro Gonçalves. Coisas que não se fazem, caem mal às nações civilizadas e não se podem tolerar. Vai daí, uns meses mais tarde, nos idos do 11 de Março de 75, novo golpe. O homem não se cansava de golpear deslealmente os seus camaradas de armas que, esgotada a tolerância, lhe deram guia de marcha e o deixaram abalar para Madrid.
Estava, pois, reposta a ordem democrática e o Estado de Direito: Costa Gomes, Presidente, Vasco Gonçalves, Primeiro-Ministro e Otelo, Grande Comandante. A Salvação Pública vinha a caminho pela mão deste fascinante Comité e, para Otelo, apreciador das boas tradições, deveria ter começo no Campo Pequeno.
Assim se reuniram, de forma expedita, as condições ideais para concretizar os três «D?s» de Abril: «Democratizar», «Descolonizar» e «Desenvolver». Este último fora cumprido com a prisão do grande capital e as nacionalizações. O primeiro, asseguradíssimo pelas ilustres autoridades do Estado. Faltava «Descolonizar». Foi do que se tratou, expeditamente também, a partir daí, com os resultados que todos conhecemos. Libertado Moçambique em 25 de Junho de 75, resolvida a Guiné em 10 de Setembro, restava Angola, tornada independente dois meses depois, a 11 de Novembro.
A partir de então, misteriosamente, o empenho pessoal do Dr. Álvaro Cunhal pelo rectângulo pareceu ter esmorecido. Ainda tolerou o cerco da «Constituinte» em 12 de Novembro, onde, de resto, os senhores deputados da sua bancada tiveram um comportamento democraticamente exemplar, mas já não era a mesma coisa. Os ventos da história sopravam mais suaves. O Dr. Cunhal não estava, de facto, fadado para apparatchik regional do Império Soviético. Ele fora um dos mais fiéis intérpretes e executores do internacionalismo proletário e, um dia, o seu mérito seria reconhecido na fraternidade universal que o Grande Império instauraria na Ásia, na Europa, em África e na América. A Oceânia, onde há mais cangurus que operários, podia esperar e o nosso pequeno rectângulo era já uma insignificância na marcha socialista da humanidade.
Até que no dia 25 de Novembro de 1975, um grupo de desordeiros depôs pela violência das armas o regime e a ordem instituídos. Fascistas e golpistas ligados a Spínola (já a banhos no Rio) e ao MDLP, como Jaime Neves, Tomé Pinto, Ramalho Eanes, Vasco da Rocha Vieira e Loureiro dos Santos, depuseram as autoridades legitimamente constituídas e destruíram o sonho cubano português. Otelo bem avisara que, tivesse um pouco mais de cultura e seria o nosso Fidel de Castro. Dois dias depois foi corrido das suas altas funções, o que não deixou de ser merecida punição: para a próxima, que se aplique mais nos estudos!
Falando, agora, seriamente, é a estes e a outros homens que, faz hoje trinta anos arriscaram as suas vidas, que devemos a liberdade. Ela teria, certamente, vindo mais tarde ou mais cedo. Mas, não fossem eles, Portugal não teria escapado a um banho de sangue a que hoje ainda estaríamos a fazer contas.
Dos bonzos arvorados em pretorianos tutelares do regime, só mais tarde nos livraríamos, é certo, com a extinção do malfadado Conselho da Revolução, em 1982. Porque, os verdadeiros heróis do 25 de Novembro souberam honradamente regressar aos seus postos, deixando o poder político à sociedade civil, como deve ser feito. Bem-hajam, pois, trinta anos depois.
* Adaptado do texto original publicado no PC.
A medida compreendia-se e era sensata. Os detidos conspiravam contra a boa ordem revolucionária e, cobardemente, sabotavam a economia nacional. Eles que, donos de fábricas, bancos e empresas, invejosos e arrogantes, não eram capazes de tolerar as oportunidades criadas pela nova ordem estabelecida e pelo novíssimo regime democrático e popular. Vai daí, antes que causassem mais mossa à economia nacional, antevendo as muitas dificuldades económicas que a «pesada herança» havia de trazer ao país, o brigadeiro engavetou-os sem apelo nem agravo. E sem que lhes fosse dito porquê, obviamente. Ao tempo, a palavra de um revolucionário ainda tinha valor. E se Otelo dizia que aqueles verdugos queriam mal à economia, ao povo e à pátria, estava o assunto encerrado, encerrando os cavalheiros em lugar conveniente.###
Uns dias mais tarde, passado já o Natal e o Ano Novo, em meados do primeiro mês do ano seguinte, o governo patriótico do coronel Gonçalves iniciou, paulatina e sensatamente, como era seu timbre e feitio, uma ordeira vaga de nacionalizações. Pois, se os grandes capitalistas conspiravam contra a economia nacional, o povo e a pátria, a pátria e o povo que lhes ficassem com os bancos, as seguradoras e as empresas em geral. Assim foi feito, a bem da Nação, com os notáveis resultados de que todos ainda hoje beneficiamos.
Nesse compasso de tempo e após a tentativa golpista do errático general Spínola, o general Costa Gomes ascendera à mais alta magistratura da Nação. Estávamos a 30 de Setembro de 1974 e o velho general do monócolo aristocrático e vaidoso enredara-se num bizarro golpismo anti-democrático, que envolvia maiorias silenciosas, touradas e apupadelas públicas ao Sr. Primeiro-Ministro Gonçalves. Coisas que não se fazem, caem mal às nações civilizadas e não se podem tolerar. Vai daí, uns dias mais tarde, nos idos do 11 de Março de 75, novo golpe. O homem não se cansava de golpear deslealmente os seus camaradas de armas que, esgotada a tolerância, lhe deram guia de marcha e o deixaram abalar para Madrid.
Estava, pois, reposta a ordem democrática e o Estado de Direito: Costa Gomes, Presidente, Vasco Gonçalves, Primeiro-Ministro e Otelo, Grande Comandante. A Salvação Pública vinha a caminho pela mão deste fascinante Comité e, para Otelo, apreciador das boas tradições, a «salvação pública» deveria ter começo no Campo Pequeno.
Assim se reuniram, de forma expedita, as condições ideais para concretizar os três «D?s» de Abril: «Democratizar», «Descolonizar» e «Desenvolver». Este último fora cumprido com a prisão do grande capital e as nacionalizações. O primeiro, asseguradíssimo pelos elevados sentimentos democráticos das ilustres autoridades do Estado. Faltava «Descolonizar». Foi do que se tratou, expeditamente também, a partir daí, com os resultados que todos conhecemos. Libertado Moçambique em 25 de Junho de 75, resolvida a Guiné em 10 de Setembro, restava Angola, tornada independente dois meses depois, a 11 de Novembro.
A partir de então, misteriosamente, o empenho pessoal do Dr. Álvaro Cunhal pelo rectângulo pareceu ter esmorecido. Ainda tolerou o cerco da «Constituinte» em 12 de Novembro, onde, de resto, os senhores deputados da sua bancada tiveram um comportamento democraticamente exemplar, mas já não era a mesma coisa. Os ventos da história sopravam mais suaves. O Dr. Cunhal não estava, de facto, fadado para apparatchik regional do Império Soviético. Ele fora um dos mais fiéis intérpretes e executores do internacionalismo proletário e, um dia, o seu mérito seria reconhecido na fraternidade universal que o Grande Império instauraria na Ásia, na Europa, em África e na América. A Oceânia, onde habitavam mais cangurus do que operários, podia esperar e o nosso pequeno rectângulo era já uma insignificância na marcha socialista da humanidade.
Até que no dia 25 de Novembro de 1975, um grupo de desordeiros depôs pela violência das armas o regime e a ordem instituídos. Fascistas e golpistas ligados a Spínola (já a banhos no Rio) e ao MDLP, como Jaime Neves, Tomé Pinto, Ramalho Eanes, Vasco da Rocha Vieira e Loureiro dos Santos, depuseram as autoridades legitimamente constituídas e destruíram o sonho cubano português. Otelo bem avisara que, tivesse um pouco mais de cultura e seria o nosso «Comnadante», o nosso Fidel. Dois dias depois foi corrido das suas altas funções, o que não deixou de ser merecida punição: para a próxima, que se aplique mais nos estudos!
Falando, agora, seriamente, é a estes e a outros homens que, faz hoje trinta anos arriscaram as suas vidas, que devemos a liberdade. Ela teria, certamente, vindo mais tarde ou mais cedo. Mas, não fossem eles, Portugal não teria escapado a um banho de sangue de que esteve muito próximo e a que hoje ainda estaríamos a fazer contas.
Dos bonzos arvorados em pretorianos tutelares do regime, só mais tarde nos livraríamos, é certo, com a extinção do malfadado Conselho da Revolução, em 1982. Porque, os verdadeiros heróis do 25 de Novembro souberam honradamente regressar aos seus postos, deixando o poder político à sociedade civil, como deve ser feito. Bem-hajam, pois, trinta e um anos depois.
Farto de aturar os desvarios e os desmandos dos capitalistas portugueses, o brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho, Comandante supremo do COPCON, o zeloso Comando Operacional do Continente e, também, Comandante da Região Militar de Lisboa, ordenou a prisão de uns tantos exploradores do bom povo trabalhador, na noite de 13 de Dezembro de 1974.
A medida compreendia-se e era sensata. Os detidos conspiravam contra a boa ordem revolucionária e, cobardemente, sabotavam a economia nacional. Eles que, donos de fábricas, bancos e empresas, invejosos e arrogantes, não eram capazes de tolerar as oportunidades criadas pela nova ordem estabelecida e pelo regime democrático e popular instaurado. Vai daí, antes que causasse mais mossa à economia nacional, o brigadeiro engavetou-os sem apelo nem agravo. E sem que lhes fosse dito porquê, obviamente. Ao tempo, a palavra de um revolucionário ainda tinha valor. E se Otelo dizia que aqueles verdugos queriam mal à economia, ao povo e à pátria, estava o assunto encerrado, encerrando os cavalheiros em lugar conveniente.
Uns dias mais tarde, passado já o Natal e o Ano Novo, em meados do primeiro mês do ano seguinte, o governo patriótico do coronel Gonçalves iniciou, paulatina e sensatamente, como era seu timbre e feitio, uma ordeira vaga de nacionalizações. Pois, se os grandes capitalistas conspiravam contra a economia nacional, o povo e a pátria, a pátria e o povo que lhes ficasse com os bancos, as seguradoras e as empresas em geral. Assim foi feito, a bem da Nação, com os notáveis resultados de que todos ainda hoje beneficiamos.
Nesse compasso de tempo e após a tentativa golpista do errático general Spínola, o general Costa Gomes ascendera à mais alta magistratura da Nação. Estávamos a 30 de Setembro de 1974 e o velho general do binóculo enredara-se num bizarro golpismo anti-democrático, que envolvia maiorias silenciosas, touradas e apupadelas públicas ao Sr. Primeiro-Ministro Gonçalves. Coisas que não se fazem, caem mal às nações civilizadas e não se podem tolerar. Vai daí, uns meses mais tarde, nos idos do 11 de Março de 75, novo golpe. O homem não se cansava de golpear deslealmente os seus camaradas de armas que, esgotada a tolerância, lhe deram guia de marcha e o deixaram abalar para Madrid.
Estava, pois, reposta a ordem democrática e o Estado de Direito: Costa Gomes, Presidente, Vasco Gonçalves, Primeiro-Ministro e Otelo, Grande Comandante. A Salvação Pública vinha a caminho pela mão deste fascinante Comité e, para Otelo, apreciador das boas tradições, deveria ter começo no Campo Pequeno.
Assim se reuniram, de forma expedita, as condições ideais para concretizar os três «D?s» de Abril: «Democratizar», «Descolonizar» e «Desenvolver». Este último fora cumprido com a prisão do grande capital e as nacionalizações. O primeiro, asseguradíssimo pelas ilustres autoridades do Estado. Faltava «Descolonizar». Foi do que se tratou, expeditamente também, a partir daí, com os resultados que todos conhecemos. Libertado Moçambique em 25 de Junho de 75, resolvida a Guiné em 10 de Setembro, restava Angola, tornada independente dois meses depois, a 11 de Novembro.
A partir de então, misteriosamente, o empenho pessoal do Dr. Álvaro Cunhal pelo rectângulo pareceu ter esmorecido. Ainda tolerou o cerco da «Constituinte» em 12 de Novembro, onde, de resto, os senhores deputados da sua bancada tiveram um comportamento democraticamente exemplar, mas já não era a mesma coisa. Os ventos da história sopravam mais suaves. O Dr. Cunhal não estava, de facto, fadado para apparatchik regional do Império Soviético. Ele fora um dos mais fiéis intérpretes e executores do internacionalismo proletário e, um dia, o seu mérito seria reconhecido na fraternidade universal que o Grande Império instauraria na Ásia, na Europa, em África e na América. A Oceânia, onde há mais cangurus que operários, podia esperar e o nosso pequeno rectângulo era já uma insignificância na marcha socialista da humanidade.
Até que no dia 25 de Novembro de 1975, um grupo de desordeiros depôs pela violência das armas o regime e a ordem instituídos. Fascistas e golpistas ligados a Spínola (já a banhos no Rio) e ao MDLP, como Jaime Neves, Tomé Pinto, Ramalho Eanes, Vasco da Rocha Vieira e Loureiro dos Santos, depuseram as autoridades legitimamente constituídas e destruíram o sonho cubano português. Otelo bem avisara que, tivesse um pouco mais de cultura e seria o nosso Fidel de Castro. Dois dias depois foi corrido das suas altas funções, o que não deixou de ser merecida punição: para a próxima, que se aplique mais nos estudos!
Falando, agora, seriamente, é a estes e a outros homens que, faz hoje trinta anos arriscaram as suas vidas, que devemos a liberdade. Ela teria, certamente, vindo mais tarde ou mais cedo. Mas, não fossem eles, Portugal não teria escapado a um banho de sangue a que hoje ainda estaríamos a fazer contas.
Dos bonzos arvorados em pretorianos tutelares do regime, só mais tarde nos livraríamos, é certo, com a extinção do malfadado Conselho da Revolução, em 1982. Porque, os verdadeiros heróis do 25 de Novembro souberam honradamente regressar aos seus postos, deixando o poder político à sociedade civil, como deve ser feito. Bem-hajam, pois, trinta anos depois.
* Adaptado do texto original publicado no PC.
Sócrates e Zapatero a 20 Km de Olivenz(ç)a
Post bilingü(u)e.
Calle (Rua) de Olivenz(ç)a ###
Iglesia (Igreja), vista del(do) castillo (castelo)
Barrio (Bairro) de Olivenz(ç)a
Poz(ç)o en(m) Olivenz(ç)a
Calle (Rua) de Olivenz(ç)a ###
Iglesia (Igreja), vista del(do) castillo (castelo)
Barrio (Bairro) de Olivenz(ç)a
Poz(ç)o en(m) Olivenz(ç)a
Leitura recomendada
Should Scientific Societies Issue Position Statements?
Official statements celebrate group think and conformity. They effectively demote members who disagree with some or all of the statement to second-class status within their profession, regardless of the quality of their own individual work or their reasons for disagreement. And they create divisions and alienation within the profession. Having issued a party line, it cannot be a surprise that partisanship emerges, with all its potential for polarization and resentment.
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Official statements also legitimate the appeal to authority as a form of argumentation. By issuing a position statement, they encourage outside commentators to buttress their position by appeal to the ?Expert Statement?, rather than by appeal to evidence. The official statement thereby supplies a fallacious rhetorical device to one side in a political debate.
Também os jornalistas
Aparentemente vai acabar e, por isso, também eles se manifestam nas ruas.
Mas os jornalistas - também os jornalistas - tinham até agora um subsistema privativo de saúde pago pelo Estado e à margem do SNS - o que, na prática, significa melhor do que o SNS.
Mas que credibilidade, que isenção, poderemos nós esperar assim dos jornalistas?
Regras que não interessam a ninguém
No país em que se regulamenta a economia até ao mais ínfimo pormenor não existe uma regra que defina o prazo de validade de um referendo. O que é extraordinário tendo em conta que o jogo económico requer o mútuo acordo entre as partes enquanto o jogo político implica a submissão da parte derrotada à vontade da parte vencedora. A regulamentação do jogo político justifa-se muito mais do que a regulamentação do jogo económico. Mas então porque é que o jogo político não é regulamentado? Porque todos julgam poder tirar vantagem política da indefenição legal. Uma facção espera repetir o referendo tão rápido quanto possível enquanto a outra espera conseguir adiá-lo tanto tempo quanto possível.
Sábado
Estou a pensar escrever um post sobre técnicas de desinfecção em hospitais. Ou então, sobre fusão nuclear. Não percebo nada destes assuntos, é verdade. Mas hoje, no Público, um tipo que nunca deve ter posto os pés numa empresa assina um artigo sobre a mentalidade mediocre prevalecente no mundo empresarial. Parece que os empresários não agem como o Doutor Elísio Estanque, sociólogo de Coimbra, acha que é melhor. Os empresários não sabem gerir empresas. É preciso mudar isto. Ora, sinto-me tão habilitado para escrever sobre medicina como o Doutor Elíseo para escrever sobre o que escreveu.
Hoje, o Público tem outra novidade. Li todo o artigo de São José Almeida e garanto que não há nenhuma referência às políticas neo-liberais de Sócrates. Ainda vou ler outra vez, para confirmar.
Há aí um blogue que fala sobre o país mais rico da América Latina. Se houver tempo, logo se escreve sobre o porquê de milhões de chilenos viverem hoje em democracia e mais prósperos do que viviam antes dos Chicago Boys terem invertido o caminho para a miséria que o Chile experimentou durante alguns meses.
Por agora, não chove e faz sol.
Hoje, o Público tem outra novidade. Li todo o artigo de São José Almeida e garanto que não há nenhuma referência às políticas neo-liberais de Sócrates. Ainda vou ler outra vez, para confirmar.
Há aí um blogue que fala sobre o país mais rico da América Latina. Se houver tempo, logo se escreve sobre o porquê de milhões de chilenos viverem hoje em democracia e mais prósperos do que viviam antes dos Chicago Boys terem invertido o caminho para a miséria que o Chile experimentou durante alguns meses.
Por agora, não chove e faz sol.
Para não ser importunado cada um corta o que pode
«Monge budista corta o próprio pénis por atrapalhar a meditação
Um tailandês de 35 anos cortou o próprio pénis por causa de uma inoportuna erecção que lhe atrapalhou a oração. O monge budista recusou que lhe fosse reimplantado o membro decepado. (...) Transportado para o hospital local, o homem foi assistido pelos médicos que, no entanto, não puderam coser o membro, uma vez que o monge decidiu que não voltaria a ver a sua meditação interrompida por uma erecção. »
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Default.aspx
«Governo dá poder à ERC para censurar televisões
Nova Lei da TV permite ao regulador interromper programas em directo
O anteprojecto de Proposta de Lei de Televisão propõe novas regras para os operadores. O Governo quer introduzir novos 'limites à liberdade de programação»'e confere à ERC o poder de, em caso de incumprimento, 'ordenar a suspensão imediata da emissão'.»
http://semanal.expresso.clix.pt/capa/default.asp
Um tailandês de 35 anos cortou o próprio pénis por causa de uma inoportuna erecção que lhe atrapalhou a oração. O monge budista recusou que lhe fosse reimplantado o membro decepado. (...) Transportado para o hospital local, o homem foi assistido pelos médicos que, no entanto, não puderam coser o membro, uma vez que o monge decidiu que não voltaria a ver a sua meditação interrompida por uma erecção. »
http://sol.sapo.pt/PaginaInicial/Default.aspx
«Governo dá poder à ERC para censurar televisões
Nova Lei da TV permite ao regulador interromper programas em directo
O anteprojecto de Proposta de Lei de Televisão propõe novas regras para os operadores. O Governo quer introduzir novos 'limites à liberdade de programação»'e confere à ERC o poder de, em caso de incumprimento, 'ordenar a suspensão imediata da emissão'.»
http://semanal.expresso.clix.pt/capa/default.asp
24.11.06
Coisas que se compreendem.....
A agora (finalmente) conhecida deputada comunista Luisa Mesquita confessa ao Público as razões porque não pretende acatar a ordem de substituição do seu partido: «[comunicaram-lhe] que em Setembro devia regressar à minha vida profissional e académica» ou seja, ao lugar de professora do ensino secundário que ocupava antes de suspender a actividade, em 1995. «Mas não é aos 57 anos que se regressa à vida académica», enfatizou.».
De facto..... Embora se deva alertar desde já que o ensino secundário terá pouco que ver com essa tal de «vida académica». O que poderá, caso seja surpresa, piorar anda mais as suas perspectivas pessoais. Apesar dos subsídios de integração e demais pensões parlamentares, a sua recusa é uma reacção humana.....
De facto..... Embora se deva alertar desde já que o ensino secundário terá pouco que ver com essa tal de «vida académica». O que poderá, caso seja surpresa, piorar anda mais as suas perspectivas pessoais. Apesar dos subsídios de integração e demais pensões parlamentares, a sua recusa é uma reacção humana.....
todos os outros
Numa sociedade onde um dos principais traços de carácter dos seus cidadãos é o individualismo do menino-mimado, o Estado acabará por se tornar, a prazo, a instituição central da vida humana - e uma instituição razoavelmente despótica.###
O menino-mimado possui, em geral, uma ideia elevada de si próprio e não reconhece limites aos seus méritos, às suas capacidades e aos seus talentos. Para ele, a vida só está bem quando ele está bem, irrespectivamente da situação em que se encontram todos os outros. Ele é o credor permanente da sociedade, todos lhe devem e ninguém lhe paga.
Tendo chegado ao mundo e observado à sua volta um acervo considerável de bens e riqueza material, ele nunca se interroga sobre os segredos que a tornaram possível. Para ele, a criação de riqueza é um dado. O grande problema da vida consiste em como distribuí-la.
Olhando em redor, ele vai descobrir que muitos dos seus concidadãos possuem mais do que ele - cidadãos a quem ele não reconhece méritos particulares, certamente que não iguais aos seus - e isso alimenta-lhe o ressentimento. A inveja passa a ser um traço distintivo das sociedades onde prevalece o individualismo do menino-mimado.
E se muitos dos seus concidadãos possuem mais do que ele, só pode haver uma razão: eles apropriaram-se indevidamente da parte que lhe pertence. Tudo aquilo que ele não tem e julga que deveria ter é o resultado directo da desonestidade dos outros, da ganância dos outros, da falta de escrúpulos dos outros.
Por isso, na sociedade onde prevalece o individualismo do menino-mimado todo o diálogo social se torna, a prazo, impossível: ninguém gosta de ninguém (excepto de si próprio), todos desconfiam de todos (excepto de si próprios), todos se abusam uns aos outros (excepto a si próprios) tornando a vida em sociedade uma experiência deprimente.
Nesta sociedade, as pessoas, por vezes, associam-se, não para prosseguirem fins comunitários, mas para realizarem interesses económicos os mais imediatos ou para se defenderem das agressões de outros grupos igualmente organizados. A sociedade onde prevalece o individualismo do menino-mimado torna-se, a prazo, uma sociedade balcanizada e em conflito permanente.
Para repôr a justiça na distribuição da riqueza e a ordem na sociedade, o único caminho possível é o apelo à autoridade. Por isso, nas sociedades onde prevalece o individualismo do menino-mimado os cidadãos tendem a ser estatistas. Na realidade, o Estado passa a ser o tema central das suas vidas e a conquista de alguma posição na hierarquia do Estado a sua maior ambição.
Hoje, uns cidadãos reclamam a acção do Estado para conter a falta de escrúpulos e os alegados abusos das empresas e dos empresários - a classe que, pelo seu estatuto económico, é o alvo preferencial do seu ressentimento - e, nessa reclamação, estão prontos a subscrever todas as medidas do Estado, mesmo aquelas que atropelam direitos de cidadania essenciais, desde que não sejam os deles.
Amanhã, outros cidadãos, uns de cada vez, reclamam a acção do Estado para preencher cada um dos espaços da vida social que são deixados vazios pelo seu egoísmo radical - na saúde, na educação, na assistência aos pobres, no desemprego, na reforma, nos cuidados do ambiente -, e também aqui todas as medidas são válidas e podem até afectar interesses legítimos de outros cidadãos, desde que não afectem os deles.
No limite, a sociedade onde prevalece o individualismo do menino-mimado conduz a um Estado autoritário, plenamente discricionário, omnipresente, sufocante de toda a iniciativa humana. Porém, este estatismo, apesar da sua retórica por vezes socialista, não possui qualquer espírito de solidariedade e menos ainda de comunidade. Pelo contrário, ele é o resultado de um individualismo radical - o individualismo do menino-mimado - onde, em última instância, o Estado é visto como um instrumento através do qual cada um espera poder viver à custa de todos os outros, e irrespectivamente daquilo que aconteça a todos os outros.
OTISMO - ou a perigosa e contagiosa doença do poder
Mário Lino nega que construção do aeroporto da Ota vá exceder a previsão de custos.
Lembrando mais uma histeria de 2005
Mas que é que se passa? Este ano não há gansos patolas? A migração anual das aves foi cancelada? Não morreu nenhum cisne com gripe na Alemanha? Não será necessário recensear outra vez as aves de capoeira? As que foram recenseadas o ano passado não sido já transformadas em churrasco? Lá está, a comunicação social anda distraída com o aquecimento global e não se preocupa com os riscos verdadeiramente importantes.
O menino-mimado
O individualismo do menino-mimado leva-o, sempre que pode, a apropriar-se de um bem da família que, em princípio, também pertence aos irmãos. Como os irmãos são igualmente mimados, a propriedade comum da família deixa de ser vista como um património destinado a assegurar a sobrevivência e a prosperidade da família, para passar a ser vista como um reservatório de bens de onde cada um tenciona sacar, para seu benefício pessoal, à primeira oportunidade.###
O menino-mimado vive permanentemente infeliz. Se ele não tem mais é porque os irmãos se apropriaram indevidamente do quinhão que lhe pertencia e nesta atitude ele é igualado pelos irmãos que pensam exactamente o mesmo acerca dele. Na família do menino-mimado, os irmãos nunca se entendem, na realidade eles acabam a detestar-se mutuamente porque cada um vê a sua infelicidade como o resultado directo do individualismo safado dos outros.
Sempre descontente com aquilo que lhe cabe, o menino-mimado acaba invariavelmente por apelar à autoridade dos pais para corrigirem aquilo que ele vê como uma flagrante desigualdade da sua situação em relação aos irmãos. Os pais acabarão por ceder perante a insistência permanente. Porém, as medidas que eles adoptam não podem senão desagradar aos irmãos, também eles meninos-mimados. É agora a vez de os irmãos apelarem à autoridade dos pais para corrigirem a nova situação que eles próprios produziram.
A recorrência deste processo conduz, a prazo, a que a família do menino-mimado seja governada pela autoridade absoluta e inquestionável dos pais. E, mesmo quando o menino-mimado e todos os seus irmãos já se tornaram adultos, os pais não podem senão continuar a olhar para eles como sempre olharam - como eternos meninos-mimados, incapazes de se entenderem e governarem a si próprios.
À medida que o tempo passa, não são apenas os irmãos que deixaram de se suportar uns aos outros. Cada um deles acaba a contestar a autoridade e a sabedoria dos pais, obviamente incapazes de fazerem uma administração eficaz, e uma distribuição justa entre os filhos, do património da família e dos frutos que dele resultam. Para o menino-mimado, a fonte de todas as suas infelicidades deixa agora de incluir somente os irmãos, para passar a incluir também os pais.
Se algum dia fosse ele - pensa o menino-mimado - a administrar os bens da família e a distribuir os seus frutos, tudo seria diferente. Os bens seriam convenientemente administrados e os seus frutos distribuídos justamente entre todos os membros da família. Assim pensam também os irmãos. A luta pelo poder na sucessão aos pais passa a ser a principal preocupação do menino-mimado, e de todos os seus irmãos.
Esse dia acabará por chegar. Porém, tendo sentido ao longo da vida que os pais sempre discriminaram contra ele em favor dos irmãos, a sua primeira prioridade, agora que se encontra em posição de autoridade na administração dos bens da família, não é a de servir a família, mas a de se servir dos bens da família, a qual nunca lhe deu a parte que lhe pertencia.
Os irmãos vão ressentir e, com o tempo, vão organizar-se para o fazer substituir por um outro dentre eles na administração dos bens da família - o qual, obviamente, não irá fazer senão a mesma coisa que fez o anterior. O processo vai repetir-se e, na realidade, só vai parar no dia em que o património da família tenha sido totalmente dissipado e os últimos laços familiares que ainda uniam os irmãos tenham sido totalmente destruídos.
Pelos direitos dos trabalhadores mais velhos
As empresas capitalistas, na sua ânsia pelo lucro, tendem a explorar os seus funcionários mais velhos até ao fim obrigando-os mesmo a desempenhar cargos de extenuantes de grande responsabilidade. De forma muito ardilosa vão aumentado o salário dos trabalhadores mais experientes impedindo-os assim de gozar o seu merecido descanso. Ora, devia haver uma lei que impedisse este tipo de exploração. As empresas deviam ser obrigadas a seguir o exemplo do Partido Comunista Português que, como se tem visto, permite que os seus funcionários mais velhos possam retirar-se com dignidade.
Há coisas fantásticas não há?!
«2006-11-23
DECLARAÇÃO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA , Dr. JOSÉ MAGALHÃES SOBRE RECENTES CRÍTICAS DE UM OPERADOR DE TRANSPORTES AÉREOS EM MATÉRIA DE TRÁFICO DE SERES HUMANOS»###
1 - Uma conhecida empresa de transportes aéreos 'low cost' decidiu criticar publicamente o alerta que fiz em recente seminário sobre o tráfico de seres humanos para um facto inegável,preocupante e carecido de resposta apropriada por parte dos Estados e dos operadores aéreos. Esse facto inegável é o aproveitamento perverso dos chamados ? voos de baixo custo? por promotores de turismo sexual em articulação com redes de tráfico de pessoas sujeitas a escravidão sexual.
2 - A empresa em causa entendeu declarar-me 'mal informado' e declarar-se exemplar, o que puramente decorre de um equívoco, que com todo o gosto teria ajudado a dissipar, se tivesse sido contactado, o que inexplicavelmente não ocorreu. É muito significativo que tenha sido essa empresa a única entidade a reagir dessa forma a um alerta não só inteiramente oportuno como fundado em investigações policiais em curso , ou seja, um alerta bem informado. No seminário realizado em Lisboa assinalei a forma flexível e ágil como as redes de traficantes tiram partido de qualquer inovação tecnológica (vg. a Internet) ou de vantagens como a facilidade crescente com que hoje podemos usar o transporte aéreo. O recente alargamento da União Europeia , conjugado com essas inovações, abriu novos mercados aos traficantes. Cidades como Riga, Praga ou Bratislava tornaram-se subitamente destinos fáceis para o turismo sexual organizado, a baixo custo, abrindo novas possbilidades de actuação a redes de traficantes. Com a próxima adesão da Bulgária e Roménia, organizações criminosas como as que operam nos Balcãs estão a preparar-se para replicar em Sófia e Bucareste os procedimentos que vêm aplicando nos 'novos mercados'. É uma realidade perigosa que merece combate. A EUROPOL, as polícias nacionais, os Governos da EU e a Comissão Europeia acompanham atentamente os usos perversos do transporte aéreo e o seu impacto no modus operandi do crime organizado.
3 - É sobre esse tema que vale a pena dialogar com as transportadoras, mobilizando-as para uma intervenção útil no combate à escravatura sexual. Dispenso qualquer pedido de desculpas, mas apreciaria muito a colaboração activa da empresa que sem razão me criticou.
http://www.mai.gov.pt/main.php
DECLARAÇÃO DO SECRETÁRIO DE ESTADO ADJUNTO E DA ADMINISTRAÇÃO INTERNA , Dr. JOSÉ MAGALHÃES SOBRE RECENTES CRÍTICAS DE UM OPERADOR DE TRANSPORTES AÉREOS EM MATÉRIA DE TRÁFICO DE SERES HUMANOS»###
1 - Uma conhecida empresa de transportes aéreos 'low cost' decidiu criticar publicamente o alerta que fiz em recente seminário sobre o tráfico de seres humanos para um facto inegável,preocupante e carecido de resposta apropriada por parte dos Estados e dos operadores aéreos. Esse facto inegável é o aproveitamento perverso dos chamados ? voos de baixo custo? por promotores de turismo sexual em articulação com redes de tráfico de pessoas sujeitas a escravidão sexual.
2 - A empresa em causa entendeu declarar-me 'mal informado' e declarar-se exemplar, o que puramente decorre de um equívoco, que com todo o gosto teria ajudado a dissipar, se tivesse sido contactado, o que inexplicavelmente não ocorreu. É muito significativo que tenha sido essa empresa a única entidade a reagir dessa forma a um alerta não só inteiramente oportuno como fundado em investigações policiais em curso , ou seja, um alerta bem informado. No seminário realizado em Lisboa assinalei a forma flexível e ágil como as redes de traficantes tiram partido de qualquer inovação tecnológica (vg. a Internet) ou de vantagens como a facilidade crescente com que hoje podemos usar o transporte aéreo. O recente alargamento da União Europeia , conjugado com essas inovações, abriu novos mercados aos traficantes. Cidades como Riga, Praga ou Bratislava tornaram-se subitamente destinos fáceis para o turismo sexual organizado, a baixo custo, abrindo novas possbilidades de actuação a redes de traficantes. Com a próxima adesão da Bulgária e Roménia, organizações criminosas como as que operam nos Balcãs estão a preparar-se para replicar em Sófia e Bucareste os procedimentos que vêm aplicando nos 'novos mercados'. É uma realidade perigosa que merece combate. A EUROPOL, as polícias nacionais, os Governos da EU e a Comissão Europeia acompanham atentamente os usos perversos do transporte aéreo e o seu impacto no modus operandi do crime organizado.
3 - É sobre esse tema que vale a pena dialogar com as transportadoras, mobilizando-as para uma intervenção útil no combate à escravatura sexual. Dispenso qualquer pedido de desculpas, mas apreciaria muito a colaboração activa da empresa que sem razão me criticou.
http://www.mai.gov.pt/main.php
Critérios Editoriais Incompreensíveis
A capa do Público de hoje é um enigma. Fará sentido para um jornal diário de grande informação, comunicar no século XXI a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia? Ou publicar em tipo grande na capa "Os Cães Têm Quatro Patas"? Ou "A Serra da Estrela é mais alta que o Monte da Caparica"? Alguém imagina um título como "A Terra Gira em Torno do Sol"? Títulos incompreensíveis, de tão óbvios. Espera-se sempre que uma notícia informa, ensine, traga algo de novo. Qual teria sido a razão editorial que leva um jornal de referência a escolher como parangona o que já toda a gente sabia?
El Pais: a Voz
«El proceso para el fin del terrorismo
Los partidos admiten con preocupación retrocesos en el proceso para el fin de ETA
El Gobierno comparte la inquietud porque el plan para acabar con el terrorismo "no arranca"»
http://www.elpais.com/
Este título do El Pais de hoje devia ser estudado nas universidades. Não só porque não dizendo mentira alguma também não diz uma única verdade.
Comecemos por perguntar:
a) Quais partidos admitem com preocupação retrocessos no processo que designam como para o fim do terrorismo ou fim da ETA?
b) Todos os partidos apoiaram esse processo? E dentro dos partidos que o apoiaram não houve dúvidas?
c) E que Governo é este que se limita a partilhar inquietações num processo destes? O processo não é liderado pelo Governo?
Na verdade o partido que apostou neste processo foi o PSOE + os socialistas bascos e é o GOverno de Zapatero que obviamente lidera o processo.
Nem os nacionalistas bascos e muito menos o Batasuna têm razões para estar preocupados. Até agora só ganharam. Quanto ao PP e alguns militantes socialistas como Gotzone Mora desde o início que alertam para que a ETA nunca declarou até agora estar disposta a renunciar à violência.
A ETA/ Batasuna tem declarado sim que chegou a hora de mudar de estratégia e de campo de operações, alargando a conflitualidade a França
O «proceso para el fin del terrorismo» ou «proceso para el fin de ETA» era designado há algumas semanas no El Pais como processo de paz o que implicava que a Espanha estava em guerra e que como é normal nas guerras os dois contendores aceitavam sentar-se para negociar.
Agora o processo mudou de nome nas páginas do El Pais e não por acaso. Do EL Pais pode dizer-se que é a voz do dono. Às vezes também é o dono da voz. E não raramente é a Voz no que respeita ao PSOE
Los partidos admiten con preocupación retrocesos en el proceso para el fin de ETA
El Gobierno comparte la inquietud porque el plan para acabar con el terrorismo "no arranca"»
http://www.elpais.com/
Este título do El Pais de hoje devia ser estudado nas universidades. Não só porque não dizendo mentira alguma também não diz uma única verdade.
Comecemos por perguntar:
a) Quais partidos admitem com preocupação retrocessos no processo que designam como para o fim do terrorismo ou fim da ETA?
b) Todos os partidos apoiaram esse processo? E dentro dos partidos que o apoiaram não houve dúvidas?
c) E que Governo é este que se limita a partilhar inquietações num processo destes? O processo não é liderado pelo Governo?
Na verdade o partido que apostou neste processo foi o PSOE + os socialistas bascos e é o GOverno de Zapatero que obviamente lidera o processo.
Nem os nacionalistas bascos e muito menos o Batasuna têm razões para estar preocupados. Até agora só ganharam. Quanto ao PP e alguns militantes socialistas como Gotzone Mora desde o início que alertam para que a ETA nunca declarou até agora estar disposta a renunciar à violência.
A ETA/ Batasuna tem declarado sim que chegou a hora de mudar de estratégia e de campo de operações, alargando a conflitualidade a França
O «proceso para el fin del terrorismo» ou «proceso para el fin de ETA» era designado há algumas semanas no El Pais como processo de paz o que implicava que a Espanha estava em guerra e que como é normal nas guerras os dois contendores aceitavam sentar-se para negociar.
Agora o processo mudou de nome nas páginas do El Pais e não por acaso. Do EL Pais pode dizer-se que é a voz do dono. Às vezes também é o dono da voz. E não raramente é a Voz no que respeita ao PSOE
23.11.06
Mais um contrato de adesão com cláusulas abusivas
Ouvi há pouco Jerónimo de Sousa muito desgostoso com a deputada Luisa Mesquita. Luisa Mesquita recusa-se a sair do Parlamento por ordens da direcção do PCP, atitude que Jerónimo de Sousa critica por violar o contrato entre a direcção do PCP e a deputada. Ao que parece cada deputado do PCP assinou um contrato em que se comprometeu a ficar sob as ordens da direcção do PCP. Trata-se claramente de um contrato de adesão com cláusulas abusivas. A parte mais fraca, o candidato a deputado, encontrando-se em estado de necessidade, isto é, a precisar de emprego, e não tendo partidos alternativos que o acolham, não tem outra alternativa senão aceitar o contrato que o PCP lhe impõe. Exige-se a imediata intervenção do governo.
D.R.
Na sequência deste comentário do PedroF, coloco as seguintes questões:
1. Tem algum sentido, um museu, um arquivo, uma biblioteca, reclamarem ou exercerem direitos de autor, (copyright)? Não será contraditório com os objectivos dessas mesmas instituições?
2. De acordo com as regras ainda em vigor, pensadas para realidades analógicas, a utilização do código do youtube (ou outros), sem existir uma apropriação do ficheiro, não será a sua utilização (sem fins comerciais), uma simples citação?
3. Nos casos que tem ocorrido de algum êxito por parte de detentores de direitos de autor contra utilizações/reprodução de cópias digitais não autorizadas, não será que tal resultou apenas da ameaça de processos judiciais com custas milionárias e não tanto da existência de verdadeira razões jurídicas? Ou seja, são actualmente protegidas ou fará sentido proteger nos mesmos termos e com as mesmas restrições do sistema analógico as obras em formato digital?
4. Existe alguma razoabilidade em limitar a reprodução de obras em formato digital sem fins lucrativos? (isto, é desde que quem reproduz não se aproprie da autoria?).
1. Tem algum sentido, um museu, um arquivo, uma biblioteca, reclamarem ou exercerem direitos de autor, (copyright)? Não será contraditório com os objectivos dessas mesmas instituições?
2. De acordo com as regras ainda em vigor, pensadas para realidades analógicas, a utilização do código do youtube (ou outros), sem existir uma apropriação do ficheiro, não será a sua utilização (sem fins comerciais), uma simples citação?
3. Nos casos que tem ocorrido de algum êxito por parte de detentores de direitos de autor contra utilizações/reprodução de cópias digitais não autorizadas, não será que tal resultou apenas da ameaça de processos judiciais com custas milionárias e não tanto da existência de verdadeira razões jurídicas? Ou seja, são actualmente protegidas ou fará sentido proteger nos mesmos termos e com as mesmas restrições do sistema analógico as obras em formato digital?
4. Existe alguma razoabilidade em limitar a reprodução de obras em formato digital sem fins lucrativos? (isto, é desde que quem reproduz não se aproprie da autoria?).
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