3.10.06

O tal voto em consciência

Parece que a comercialização de direitos de votos não é muito popular. Provavelmente porque se teme que, como disse Fernanda Câncio há 12 anos, o chamado voto em consciência passaria à História. Este argumento tem dois problemas. Em primeiro lugar, pressupõe que as pessoas hoje em dia votam todas em consciência. Em segundo lugar, não tem em grande conta quem vota em consciência.

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Nas últimas eleições o Eng. Sócrates prometeu, entre outras coisas, não subir os impostos, não aumentar a idade da reforma, manter as SCUTS e garantir um rendimento mínimo de 300 euros a todos os reformados. Estaria o Engº Sócrates a apelar à consciência do eleitor? Do género:

««Caro eleitor reformado, a sua pensão é de 250 euros, pois eu ofereço-lhe 50 euros para que vote em consciência em mim. Eu tenho muito respeito pela sua consciência e dou-lhe 50 euros, tá bem?»»


Estas propostas não são, obviamente, originalidades do Eng. Sócrates. São uma consequência do sistema democrático tal qual ele existe. O sistema democrático já permite a venda de votos. Isso é feito todos os dias.

O Engº Sócrates limitou-se a comprar os votos de alguns eleitores prometendo pagar no futuro com dinheiro de todos os contribuintes. Mas claro, meses depois alguns compradores sentiram-se defraudados. Afinal só uma parte do prometido é que foi cumprido. Nada que leve os eleitores mais habituados a estas fraudes a votar em consciência.

Por outro lado, quem diz que a comercialização de votos acabaria com o voto em consciência não tem em grande conta a consciência do eleitor. Se calhar por boas razões, dado que o voto já é correntemente comercializado. Mas se as pessoas só não vendem o voto porque a comercialização não é permitida, em que medida é que se pode dizer que actualmente existe alguém que vota em consciência?