28.12.06

aos olhos do Criador


Sempre que, nos últimos séculos, existiu em Portugal um clima de liberdade política ou democracia, desenvolveu-se também na sociedade um profundo sentimento anti-religioso que se exprimiu frequentemente através de um anti-clericalismo radical.

O sentimento anti-religioso está aí outra vez e é bem visível, por exemplo, nos debates sobre o aborto. Eu estou hoje convencido que este sentimento anti-religioso - que, na sua versão moderna, provavelmente teve origem em Rousseau e na Revolução Francesa - é um grande inimigo da liberdade e da democracia.

A razão é que nunca foi possível - e, na minha opinião, nunca será possível - fundar a democracia em argumento racional, demonstrando a sua superioridade face a qualquer outro regime político alternativo.

Aconteceu assim com Tocqueville, o primeiro e, provavelmente, o maior filósofo da democracia. Quando, nas últimas páginas de "A Democracia na América", se propôs pronunciar julgamento entre a democracia e o ancien régime, ele acabou por pender para o lado da democracia, mas não com base em argumento racional, antes com base em argumento divino: "É natural admitir que não é a prosperidade particular de uns poucos, mas o superior bem-estar de todos, que é mais agradável aos olhos do Criador (...)"