20.12.07

Economistas de Todo o Mundo, Uni-Vos.

Em finais de 2007, não faltam por aí portugueses bem formados que defendem intransigentemente a inexistência de qualquer relação entre desemprego e salário mínimo. As razões não são científicas, económicas, empíricas ou de pura lógica. São mais do género “o salário mínimo não provoca desemprego porque, porra, fascistas, o que é que têm a ver, o Luxemburgo, o Stiglitz e não e não.”

Nestes debates, não vale a pena argumentar com a teoria económica. A economia nada prova. Apenas sugere. E sugere quase sempre uns despautérios incompreensíveis, afastados da realidade. Restam algumas excepções, uns últimos paraísos onde é possível encontrar alguma economia em que se pode confiar. Por exemplo, podemos ler os economistas do Ladrão de Bicicletas, que têm substituído o afamado Eugénio Rosa no top das citações feitas pelos grandes paladinos da luta contra o neoliberalismo selvagem originado no capitalismo depradador sem-coração. ###

Devemos dar-lhes algum valor. Na verdade, os Ladrões de Bicicletas defendem políticas económicas já bastante testadas e com resultados consistentes e completamente reprodutíveis, ao longo de várias décadas. Querem resultados empíricos incontestáveis? Recorrendo a uma lista publicada no Kontratempos, Angola, Afeganistão, Albânia, Alemanha Oriental, Arménia, Azerbaijão, Bielorússia, Bulgária, Cambodja, Cazaquistão, Checoslováquia, China, Congo, Coreia do Norte, Cuba, Eslovénia, Eslováquia, Estónia, Etiópia, Geórgia, Hungria, Iémen, Jugoslávia, Laos, Letónia, Líbia, Lituânia, Moçambique, Moldávia, Mongólia, Polónia, Quirgistão, Roménia, Rússia, Sudão, Tajiquistão, Turquemenistão, Ucrânia, Uzbequistão e Vietnam conseguiram, todos eles, sem excepção, grandes sucessos económicos pela aplicação de políticas e teorias que os bons e os justos pretendem agora trazer para Portugal.

Pronto, eu sei, há sempre um hábito de explicar que não é bem assim e de tentar denegrir o sucesso, explicar que aconteceram desvios na aplicação das teorias, nem sempre se pode confiar no homem e nas suas imperfeições e que o que se defende agora não tem nada a ver com o que se defendia antes de se defender o que se defende agora. Apenas se pretende um estado interventivo, proteccionismo económico, nacionalização dos principais meios de produção, por exemplo. Coisas destas. Nos exemplos apresentados, havia apenas estado interventivo, proteccionismo económico, a nacionalização dos principais meios de produção, e homens imperfeitos. As diferenças saltam à vista.

Outros argumentos, são mais impositivos. João Pinto e Castro, que tem umas teorias imaginativas e inovadoras sobre seis ou sete coisas e que sabe sempre que os outros nunca sabem nada do que estão a falar, perorou de cátedra sobre o gráfico que relaciona desemprego e salário mínimo, diagnosticando o postador:

“Afinal, ele é apenas uma vítima inocente da forma inaceitável como a teoria económica é ensinada um pouco por todo o mundo, sem referência (ou com escassa referência) aos factos que pretende explicar.”
Ora aí está. Os professores de economia, grandes néscios que nada percebem do mundo que os rodeia, vão para as aulas e, inaceitavelmente, ensinam aos alunos conceitos irreferenciados. Os infelizes, incapazes de perceber o logro, fiam-se no que lhes contam e dá nisto. Gente que acredita em coisas tão absurdas como procura, oferta, equilíbrios, preços, impacto das políticas de salário mínimo no desemprego como outros acreditam em reiki, macumbas ou fantasmas. Imagino que o João Pinto e Castro tenha uma melhor ideia para o ensino de economia, nas universidades. Entregá-lo a poetas, sociólogos ou especialistas em marketing com uma visão do mundo referenciada talvez seja a solução mais adequada.

Talvez seja esse tipo de novel-economia referenciada e ensinada por não-economistas que dá origem a axiomas do género "sem salários mínimos os patrões só descansam quando pagarem zero" ou das frequentes alusões ao "regresso à escravatura", argumentos tão repetidos e duradouros que demonstram incontestavelmente que a aliança entre cretinice e ignorância é perene e inquebrável.

E depois de todo este debate, ainda não percebo porque é que ninguém tira as devidas ilações desta crença de ausência de ligação entre políticas de salários mínimos e desemprego. Se o salário mínimo não tem influência no desemprego, não haverá grandes motivos para não impor salários mais altos. Daniel, o que me dizes a um salário mínimo de, sei lá… 1000 euros? 2000? O céu é o limite.