Quem já sentiu a morte de alguém próximo, com toda a probabilidade foi obrigado a experimentar nos outros a simulação de sentimentos e o fingimento de emoções que tanto se costumam alardear nesses momentos.
É assim quando morre alguém - todos compõem um ar entristecido, formal, na melhor das hipóteses, ausente.
Em tese, todos os elogios fúnebres são descomedidos e redundantes. Sobretudo quando está em causa um homem público. Quer-se a sobriedade, mas exige-se o panegírico. Pretende-se o respeito, mas resvala-se na impúdica ostentação de uma perturbação que deveria ser exclusivo dos mais próximos.
Infelizmente, já não estamos em época da requisição de serviços das utilíssimas carpideiras do tempos antigos que arcavam a exibição do desgosto por todos nós.
Hoje as televisões cumprem essa função, para pior. No desfilar dos discursos de condolências dos líderes políticos viu-se de tudo: a dor profunda que se tentava disfarçar; o ar institucional que merece o desaparecimento de uma figura pública; o elogio discreto e honesto.
Mas também existiu a hipocrisia desmedida, o rosto compungido que tresandava a máscara de enterro. A obediência à regra da exposição do sofrimento obrigatório, porque correcto social e politicamente.
Estou a referir-me, directamente, aos olhos aguados do presidente do PP ao falar da morte do Professor. Por momentos, cheguei a recear que o catraio que lhe comentou o óculos e o resto surgisse, também, no écran lavado em lágrimas...