6.6.04
REAGAN
Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que Ronald Reagan ganhou as eleições para Presidente dos Estados Unidos da América. Era, então, ainda muito jovem, e impressionou-me o receio que meu Pai, que não era homem de temores fáceis, manifestou pela sua vitória.
Na altura vivia-se com medo de coisas reais e concretas: do comunismo, de uma invasão soviética da Europa Ocidental, de uma terceira guerra mundial com efeitos desvastadores ou mesmo fatais. As pessoas sabiam que, na História da Humanidade, nunca nenhum arsenal militar ficara a ganhar poeira por muito tempo, e tinham medo que Reagan, um republicano com fama de duro, levasse longe demais a sua inflexibilidade perante o «Império do Mal», e a acabasse por provocar.
Todos sabemos que, felizmente, não foi isso que sucedeu.
Graças a uma exemplar condução dos interesses do Ocidente e, porque não dizê-lo, do Mundo, Ronald Reagan conseguiu enredar o bloco soviético nas suas próprias contradições e levou-o a uma implosão pacífica. Foi inflexível com os inflexíveis do Kremlin, e ganhou. Deu a mão a Gorbatchov convicto de que outra Rússia poderia emergir, e estava certo. Com a sua acção determinada a nomenklatura compreendeu que haviam terminado os dias de fragilidade americana, os «vietnames» quotidianos do plantador de amendoins e que, por isso, só lhe restava abrandar, até talvez, mudar. À «Queda do Muro», em 89, seguiu-se a libertação definitiva da Polónia, da Hungria, da Checoslováquia, da Jugoslávia, da Roménia. Pouco mais de um ano depois, a Lituânia, a Letónia e a Estónia davam início à extinção da própria URSS. E o Mundo assistiu, espantado e comovido, à eclosão da liberdade onde ela estava proíbida.
Ao contrário do que Marx previra, fora afinal o socialismo científicamente aplicado, e não o capitalismo, que caíra como um vulgar baralho de cartas. O comunismo soviético era um sistema perverso, contrário à natureza humana e ao espírito livre, um verdadeiro «Império do Mal», como Reagan, o homem que lhe pôs fim, justamente lhe chamou.
No dia da morte do Presidente Ronald Reagan é um pouco da nossa alma que parte também. Ela marca o início do fim físico anunciado de uma notável geração de dirigentes, em que têm também lugar a Srª Thatcher e João Paulo II, a quem a Humanidade deve o que nunca saberá avaliar, nem poderá alguma vez retribuir.
Se é certo que na morte todos nos igualamos, na memória e na gratidão dos vivos nem todos os que partem têm o mesmo lugar. O de Ronald Reagan, de hoje em diante, para mim, será sempre um dos primeiros.