18.2.05

Demagogias que pegam

Portas e "frei" Louçã provaram no debate a 5 que sabem utilizar a demagogia de forma eficiente. Este, com a história dos "benefícios fiscais" concedidos à Banca a que Santana só respondeu depois do intervalo de forma trapalhona, aquele com a tese de que o aumento da votação no CDS é a melhor forma de impedir uma maioria absoluta do PS. A história dos "benefícios fiscais", relacionados com o DL 404/90 já foi bem desmistificada no Jaquinzinhos. Eu gostaria agora de desmontar a tese de Portas, que parece ter sido aceite por muito boa gente, incluindo o nosso prezado leitor José Barros.

Portas afirmou mais ou menos isto: é fundamental o CDS chegar aos 10% porque, sempre que o terceiro partido atinge uma tal fasquia, dificilmente o vencedor consegue a maioria absoluta; para além disso, uma subida de 2 pontos percentuais permitir-lhe-ia conquistar mais 6 deputados, todos eles roubados ao PS; mencionou os círculos em que tal aconteceria, mas julgo que não foi exaustivo; um dos círculos apontados e de que bem me recordo foi o de Braga onde, segundo Portas, o CDS estaria a 187 votos de eleger o 2º deputado.

Há aqui várias incongruências, decerto deliberadas, eventualmente por ignorância. Vejamos:

  1. Não existe nenhuma regra que confira ao 3º partido, desde que atinja os 10%, o poder mágico de impedir uma maioria absoluta do vencedor. O nº de votos obtido por este é o principal requisito para lá chegar. Uma votação de 50% dará sempre maioria absoluta, mesmo que o 3º partido obtenha 25%.
  2. Votações do partido vencedor acima dos 40% podem porém garantir a maioria absoluta, tendo em atenção a lógica do método de Hondt que favorece os partidos mais votados na atribuição de mandatos.
  3. Tal será tanto mais potenciado quanto menor o número de mandatos por círculo e sobretudo pela distribuição relativa dos partidos concorrentes.
  4. As votações relativas podem ter extrema relevância, pois quanto maior for a dispersão por vários partidos e o distanciamento do vencedor, tanto mais este será beneficiado.
  5. Portas afirma ainda que pode roubar votos ao PS em 6 círculos com mais algumas centenas de votos. Isto é o supra-sumo da demagogia, porque está a partir dos resultados das últimas eleições e a pressupor que, com excepção do CDS que cresceria, todos os outros partidos se manteriam constantes. Na realidade, as dinâmicas eleitorais afectarão todos os partidos, inclusivamente as suas posições relativas.
  6. Acresce ainda que, eventuais ganhos do CDS serão provenientes na sua grande maioria do PSD, o que irá aumentar a dispersão, afastando este do vencedor se for o segundo partido mais votado ou aproximando-o do segundo se for ele o vencedor.
Por conseguinte, Caro José Barros, a melhor forma de evitar uma hipotética maioria absoluta do PS não é dispersar os votos pelo CDS ou por outros pequenos partidos, mas sim concentrá-los no principal challenger daquele, o PSD. Isto partindo do princípio que o teu principal objectivo é evitar uma maioria absoluta do PS; se pretenderes antes castigar Santana, deverás votar no PS. Conjugar os dois objectivos será difícil.

De qualquer forma, nada disto é relevante. Haja ou não maioria absoluta de quem quer que seja, o pântano continuará a alastrar e daqui a 2 anos teremos novas eleições. Esperemos que com protagonistas mais decentes...