Portas afirmou mais ou menos isto: é fundamental o CDS chegar aos 10% porque, sempre que o terceiro partido atinge uma tal fasquia, dificilmente o vencedor consegue a maioria absoluta; para além disso, uma subida de 2 pontos percentuais permitir-lhe-ia conquistar mais 6 deputados, todos eles roubados ao PS; mencionou os círculos em que tal aconteceria, mas julgo que não foi exaustivo; um dos círculos apontados e de que bem me recordo foi o de Braga onde, segundo Portas, o CDS estaria a 187 votos de eleger o 2º deputado.
Há aqui várias incongruências, decerto deliberadas, eventualmente por ignorância. Vejamos:
- Não existe nenhuma regra que confira ao 3º partido, desde que atinja os 10%, o poder mágico de impedir uma maioria absoluta do vencedor. O nº de votos obtido por este é o principal requisito para lá chegar. Uma votação de 50% dará sempre maioria absoluta, mesmo que o 3º partido obtenha 25%.
- Votações do partido vencedor acima dos 40% podem porém garantir a maioria absoluta, tendo em atenção a lógica do método de Hondt que favorece os partidos mais votados na atribuição de mandatos.
- Tal será tanto mais potenciado quanto menor o número de mandatos por círculo e sobretudo pela distribuição relativa dos partidos concorrentes.
- As votações relativas podem ter extrema relevância, pois quanto maior for a dispersão por vários partidos e o distanciamento do vencedor, tanto mais este será beneficiado.
- Portas afirma ainda que pode roubar votos ao PS em 6 círculos com mais algumas centenas de votos. Isto é o supra-sumo da demagogia, porque está a partir dos resultados das últimas eleições e a pressupor que, com excepção do CDS que cresceria, todos os outros partidos se manteriam constantes. Na realidade, as dinâmicas eleitorais afectarão todos os partidos, inclusivamente as suas posições relativas.
- Acresce ainda que, eventuais ganhos do CDS serão provenientes na sua grande maioria do PSD, o que irá aumentar a dispersão, afastando este do vencedor se for o segundo partido mais votado ou aproximando-o do segundo se for ele o vencedor.
De qualquer forma, nada disto é relevante. Haja ou não maioria absoluta de quem quer que seja, o pântano continuará a alastrar e daqui a 2 anos teremos novas eleições. Esperemos que com protagonistas mais decentes...