14.2.05

A essência do guterrismo

Da entrevista a José Sócrates:

Pergunta: Mas isso também tem a ver com o ciclo económico que se estava viver...

Sócrates: Ah, o ciclo económico. O mérito de um Governo tem a ver com aquilo que é o crescimento económico de um país - foi aliás esse o critério que Cavaco Silva definiu para si próprio. Isto é: nós podemos explicar o falhanço económico de um Governo quando a situação internacional o justifica. Quando nós estamos tão mal quanto os outros, isso é compreensível. E ninguém estaria a apontar o dedo ao Governo se nós tivessemos tido um crescimento igual à média europeia. Não, nós comportámo-nos pior que todos os outros. Nestes três anos, a economia portuguesa teve o pior desempenho da União Europeia a 15. No Governo de António Guterres nós sempre tivemos um desempenho melhor que os outros. Nessa altura, aproximámo-nos; agora regredimos relativamente à Europa. Isto deve-se à situação internacional, mas isso só explica uma parte; o resto explica-se pelas políticas económicas negativas.


O que Sócrates não explica, e isso é que é o essencial, é que os governos Guterres tiveram uma performance melhor que a média dos 15 à custa de estímulos ao consumo. Esse estímulo ao consumo reduziu a poupança, criou endividamento, e criou actividades económicas insustentáveis porque incompatíveis com os recursos disponíveis a longo prazo e com as preferências dos consumidores. Os governos Guterres desincentivaram o investimento e incentivaram investimentos errados. E foi por isso que no período seguinte Portugal teve uma recessão maior que os restantes países europeus. As pessoas tiveram que parar de consumir e começar a poupar. E os empresários tiveram que reestruturar as suas actividades para adequá-las aos recursos disponíveis e às preferências dos consumidores.

Mas Sócrates parece que não percebeu isto e agora promete mais do mesmo.