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Quem insiste no papel da educação como forma de minorar os problemas ambientais não entendeu completamente a tragédia. É verdade que a imposição de normas de conduta em crianças em idade impressionável contribui para que elas se comportem de uma determinada maneira. Só que os pais e educadores bem sucedidos, isto é, aqueles que chegam mais depressa à posição de educar alguém são os que colocam os seus próprios interesses acima dos interesses da comunidade. Por isso, não devemos esperar que as regras que protegem os commons prevaleçam. Devemos, no entanto, esperar que a hipocrisia prevaleça. Devemos esperar uma contradição entre o comportamento ostentado e o comportamento privado. E as crianças, por muito impressionáveis que sejam, são muito mais sensíveis aos exemplos do que aos sermões. Aliás, devemos esperar que perante um exemplo de hipocrisia, as crianças impressionáveis aprendam a ser hipócritas.
Também não devemos esperar que os que atingem a idade da razão compreendam a racionalidade das normas interiorizadas. Em primeiro lugar, porque as normas interiorizadas que protegem os commons não são racionais. Essa é a grande lição da tragédia. Nos commons, o comportamento egoísta é o único comportamento racional porque quem se comporta altruisticamente contribui mais para o bem estar dos egoístas do que para a preservação dos commons. Em segundo lugar porque, mesmo que as normas fossem racionais, os indivíduos têm um grande incentivo para as ignorar.
Promover a razão pode levar a que alguns compreendam a tragédia. Mas a maior parte dos indivíduos têm um incentivo muito grande para não a entender. Ou para a entender, mas para fingir que ela não se aplica ao seu caso específico, mas aos outros. E quem compreende a tragédia não está necessariamente disposto a viver numa sociedade em que a cooperação é incentivada através da penalização do egoísmo. Em primeiro lugar porque quem compreende realmente a tragédia sabe que a penalização do egoísmo não é a melhor solução. E em segundo lugar, mesmo que a penalização do egoísmo fosse a melhor solução, a maior parte das pessoas continuaria a ter um incentivo para defender a penalização dos outros, mas não a sua própria.
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