11.11.06
bicões
Então, o que é um «bicão»? Em Portugal talvez uma forma simpática de designar um passaroco qualquer. No Brasil é o nome pelo qual os «penetras» são conhecidos.
O fenómeno tem enorme dimensão em São Paulo, ao ponto da Veja São Paulo lhe ter dado destaque de capa na edição desta semana. As coisas passam-se assim: existem, todas as noites, na capital paulista dezenas de festas, e há, todas as noites, dezenas de penetras profissionais não convidados que as tentam invadir. As técnicas vão da simulação de convites, à entrada no meio de empregados e músicos (técnica do «cavalo de Tróia»), até à falsa declaração de identidade, sendo as de jornalista e de político as mais utilizadas. Uma vez detectados, há reacções para todos os gostos: os mais sóbrios saem sem resistência, enquanto que os mais audazes recorrem ao clássico «você sabe com quem está a falar?» (técnica «peito de pombo») e fazem um chinfrim tal que a melhor opção é deixá-los sossegados. Os objectivos também variam: comer e beber do bom e do melhor (há festas que custam para cima de 1 200 reais por convidado), estar com famosos ou saciar um instinto de pura e simples penetrice. Também existem nichos de mercado e especializações. Marcus Martinez, um vendedor de colchões,### especializou-se na São Paulo Fashion Week, à qual só se acede por convite especialíssimo. Martinez já assistiu aos desfiles na primeira fila, lugares reservados e muito procurados. Adriana B. prefere os casamentos onde gosta de ir dançar com o namorado de ocasião. Peito de Pombo (nome desconhecido) privilegia ambientes culturais, exposições e vernissages. Se convidado a sair faz barulho e pode até demandar judicialmente os organizadores da festa, por ofensas e danos morais. Há já indemnizações pagas que chegaram a 5 000 reais, fazendo da actividade um bom negócio. Mas o rei consagrado é, sem dúvida, Waldo Barreto Júnior, conhecido pelo bicão Focca, que é penetra desde os 15 anos de idade. Dá preferência a festas de famosos e políticos, colecciona fotografias tiradas com eles (tem mais de 2.000) e, até hoje, nenhuma porta lhe foi vedada. São dele as três fotografias editadas neste «post», na companhia de Lula, Alckmin e Gisele Bundchen. Não há dúvida que, com a excepção da fotografia com Lula, o homem destoa um bocado. A cara aparvalhada de Alckmin e o à-vontade do penetra dão para perceber a arte do artista. Em Portugal, onde somos mais humanistas, já o tínhamos incorporado definitivamente no jet-set e feito dele uma personalidade. Há muitos que por aí andam com menos talento e com um percurso mais acidentado.