8.11.06
guerra
Eu tenho e mantenho um velho e inultrapassável conflito com o meu colega e amigo LR, que só se poderá agudizar. O LR afirma que não há melhor gastronomia do que a brasileira. Eu digo que não há gastronomia brasileira. O LR jura inultrapassáveis os vatapás, os bóbós e as moquecas baianas. Eu garanto que todas juntas não valem um cozido à portuguesa. O LR, num requinte de inultrapassável malvadez, encheu, em Agosto passado, o Blasfémias de fotografias alusivas à sua paixão. De uma senhora enrugada e feiosa que ele diz ser «a melhor cozinheira do mundo», de um estamine de praia que ele proclama «o melhor restaurante do mundo» e, no meio do delírio, até da retrete da tasca, provavelmente, «a melhor retrete do mundo». Eu penso que o LR só pode estar a meter-se comigo. Não acredito que ele esteja seriamente convencido do que diz, e creio que pretende somente torturar-me, agora, à distância, à distância imensa que vai de um robalo escalado ou de um pargo assado no forno ao «churrasquinho» e às moquecas. Mas, mesmo nas minhas mais sórdidas ideias de vingança, não lhe desejaria os males que aqui tenho passdo em São Paulo, desde há uma semana. Ando com o estômago às voltas e já comprei todo o tipo de pastilhas para a digestão. Mas juro que se o LR me volta a falar na «gastronomia» dos vatapás, o obrigo a ingerir, numa só refeição, o abominável «churrasquinho», um rodízio de pizzas, um «hamburgão ná prómóção!» e um festival completo de sushi sashimi. Tudo regado a guaranás, chopes, fantas de frutos silvestres e inomináveis zurrapas a que dão sacrilegamente o nome de «vinho». E, como prenda de consolação, leva ainda uma visita à famigerada retrete, intimamente guiada pela famosa «cozinheira».