13.11.06

Quem Constrói os Robots? (*)

"Economic progress, in capitalist society, means turmoil." (Schumpeter)

Todas as velhas tecnologias tiveram a sua idade da beleza suprema. Velho, antes de ser velho foi novo. E o novo sempre amedrontou. Os aquedutos ameaçavam mandar por água abaixo as carreiras dos aguadeiros, a maravilha do automóvel era a desgraça dos criadores de cavalos, o comboio trucidou o negócio das diligências, o avião afundou o transporte naval, a televisão iriaa calar a rádio, a máquina de calcular empoeirou as tábuas de logaritmos, o processador de texto riscou do mercado a máquina de escrever, o e-mail enviou para o passado a carta de amor, os telemóveis simbolizam os maus tempos dos produtores de fio de cobre, a folha de cálculo destruiu as carreiras dos analistas financeiros de outrora, as máquinas digitais estão a condenar todas as "one hour photo" deste planeta.###
E porque os computadores já computam há algumas décadas, pergunta-se onde param esses milhões de desempregados que o silício condenou a esse desemprego final. Superma incongruência: não só não existe, como são justamente as indústrias de novas tecnologias que mais gente empregam. Afinal, alguém tem que construir os robots.

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A Maria lavava a roupa à mão. A Maria comprou uma máquina de lavar roupa. A roupa continua a ser lavada e a Maria fica livre para "produzir" o que desejar que acrescente valor para ela própria. Ler, descansar, ver uma novela, pintar uma obra-prima, fazer bolos para vender, escrever um blogue. Quando o robot substitui a Maria, o valor para a sociedade aumenta. À riqueza que a Maria criava anteriormente ao transformar roupa suja em roupa lavada, adiciona-se a riqueza adicional que a Maria vai criar.

Quando os trabalhos mais duros passam a ser executados por máquinas, a sociedade enriquece. À riqueza que não deixa de ser criada, junta-se o valor criado pelos trabalhadores livres para outras actividades. No longo prazo todos ganham. No curto prazo, há um problema friccional de trabalho, porque a redistribuição de riqueza não é imediata. Esse problema já foi sentido na pele por aguadeiros, ferreiros, correeiros, copistas, arqueiros, caçadores, carregadores, fiandeiras, ladrões de diligências, programadores de Cobol, e por todos os trabalhadores de todas as fábricas que ao longo de todos os tempos conheceram a obsolescência.

(*) Adaptado de um texto publicado originalmente noutro blogue.