21.5.07

Uma razão para ler hoje o DN

Mário Bettencourt Resendes:

SABER RESISTIR AOS "GOVERNOS DE SALVAÇÃO"
A arquitecta Helena Roseta manifestou a sua satisfação perante a possibilidade de a governação intercalar da Câmara Municipal de Lisboa, a eleger a 15 de Julho, integrar os primeiros nomes de várias listas, concluindo que assim ficaria garantida uma vereação «de qualidade». Peço licença para discordar. Sempre tive dúvidas sobre a eficácia de executivos de espectro ideológico muito alargado e nem sequer uma aparente situação de emergência no município da capital me parece justificar esse tipo de equipa de «salvação da cidade». ###
É verdade, todavia, que os vencedores parecem quase sempre ceder a uma tendência irrepremível para, na generosidade da vitória, abrirem os braços aos perdedores e dar a possibilidade do regresso ao «bom caminho». E não faltam aqueles que lá vão, na convicção de uma urgência que reclamaria a participação de «todos os homens e mulheres de boa vontade». O resultado desses exercícios de política ecuménica é, por norma, um fracasso e a apetência consensual acaba por ficar pelo caminho quando, nas questões estratégicas, é preciso confrontar opções. É óbvio que há, um pouco por toda a Lisboa, problemas triviais, que não causarão polémica na câmara. Não se está a ver, por exemplo, José Sá Fernandes e Telmo Correia, se forem eleitos, discordarem sobre a necessidade de tapar os buracos das ruas da cidade ou sobre outras evidências passíveis de recolher vontades unânimes. No entanto, se a situação da câmara configura problemas com a dimensão de gravidade que tem vindo a público, o combate às dificuldades dificilmente reunirá consensos. Será que Ruben de Carvalho e Fernando Negrão, se eleitos, estarão de acordo sobre a forma de solucionar a questão dos milhares de trabalhadores que estão a recibo verde? E fará sentido imaginar que as principais listas concorrentes apresentarão ideias gerais sobre a cidade passíveis de conciliação prática? Não é preciso ser profeta para prever que o futuro presidente da Câmara de Lisboa não alcançará uma maioria absoluta, capaz de garantir um processo de decisão eficaz e expedito. Precisará, portanto, de empenhar talentos fortes de negociação política. Mas uma coisa é fazer isso a partir de uma equipa coesa e que partilha um projecto, outra seria deixar a acção executiva nas mãos de uma espécie de «salada-russa política». Como nota final sobre este imbróglio autárquico, recomenda-se à governadora civil de Lisboa umas férias prolongadas - no mínimo. Depois do erro grave em que incorreu, mandaria o bom senso e um certo sentido de pudor político que a senhora se abstivesse, pelo menos durante algum tempo, de manifestações políticas públicas. Pois bem, decidiu aparecer numa cerimónia de apoio à candidatura de António Costa. Francamente...