Suspeita-se que a administração do BCP se portou mal. Terá feito maus negócios, com amigos e familiares. A suspeita foi suficiente para a administração ter perdido parte da confiança dos accionistas e as acções baixaram. Os donos do banco ficaram a perder e podem substituir a administração por uma em que confiem mais e recuperar o valor perdido. Ou então terão que ter explicações convincentes da actual gestão com prova feita de boa gerência.
Os donos também podem vender as suas acções e nunca mais investir um cêntimo em empresas ligadas a estas pessoas. Ou podem comprar acções e apostar na recuperação dos títulos.
Os donos, chamados accionistas, podem ir mais longe. Se avaliam a gestão como danosa e estão convencidos que a administração não respeitou o dever de diligência, o dever de cuidado ou o dever da lealdade, podem processá-la. Podem até pedir indemnizações.###
Se há accionistas que sentem que a administração não usou o dever de imparcialidade e beneficiou uns a prejuízo de outros, queixam-se. Foi o que alguns fizeram. A CMVM está lá para garantir que esse dever não é quebrado. Se se provar que a administração não foi imparcial, os administradores podem ser sancionados até ao ponto de serem inibidos de exercer funções na banca.
O Banco de Portugal também pode querer saber se houve acções de administração que ponham em risco a solvabilidade do banco. Está lá para isso, para supervisionar o sistema bancário. Não me parece que tenham muito trabalho neste caso, com um banco que, apesar dos eventuais perdões, apresentou nos últimos 3 anos lucros de 2.000 milhões de euros. Também podem verificar se a legislação bancária foi cumprida e se não foi, actuar em conformidade.
Os clientes do banco que ficaram chateados podem mudar-se. É o que tem de bom a concorrência. Há muitos motivos pelos quais um cliente pode ficar chateado. Não podem é processar o banco porque, que se saiba, não houve nenhum incumprimento contratual.
E também podemos ficar muito preocupados com o sistema, com as instituições, com o prestígio da banca. E podemos opinar, comentar, criticar, aplaudir e fazer manifestações à porta do banco. E podemos, principalmente, agradecer ao BCP por ser um banco privado. Se fosse público, tinha a ver com todos nós. Estavam a ir-nos ao bolso. E isso não podemos admitir. O que nos vale é que a nossa CGD, da qual somos todos accionistas involuntários, é pura e cristalina como as águas do Jordão.