13.10.07

O prémio político do IPCC II

Notável esta passagem do editorial de José Manuel Fernandes no Público:

A atribuição do Nobel da Paz aos cientistas do Painel Intergovernamental não merece discussão. Ao longo das últimas décadas eles lograram acumular toda a evidência necessária para sustentar, sem contestação, que há 90% de probabilidades de a subida na temperatura média do planeta. Trata-se de um enorme feito [...]


É notável por vários motivos. Primeiro porque o feito que José Manuel Fernandes atribui ao IPCC é impossível. Não existe nenhuma teoria científica que permita sustentar a atribuição de probabilidades à origem do aquecimento global. O aquecimento global é um processo deterministico, não é um processo aleatório. Aquele valor de probabilidade mede apenas o grau de confiança que o IPCC tem nas suas conclusões. Reflecte uma opinião do IPCC sobre o seu próprio trabalho. Mas ainda assim uma opinião. Segundo porque o feito que JMF atribui ao IPCC é um feito científico que justificaria um prémio científico mas que não justifica um prémio Nobel da Paz. Em terceiro lugar, está implícita no texto a ideia de que a conclusão a que o IPCC é relevante para a atribuição do prémio. Isto é, o IPCC não está a ser premiado pelo trabalho rigoroso que fez, mas pela conclusão a que chegou. Se, com o mesmo rigor, tivesse chegado à conclusão contrária, não teria recebido o Nobel. O que nos leva a outra questão. Se este prémio premeia a conclusão e não o método, então é, na prática, um incentivo ao inviesamento da ciência a favor de causas políticas.