13.11.07

O Chavez ainda é da família

Ainda Daniel Oliveira sobre Chavez:

não podemos deixar de dizer que Chavez está a transformar a esquerda internacional numa palhaçada.


Eu percebo o Daniel. O Daniel é um prisioneiro da esquerda e sente a obrigação, ou tem mesmo gosto, de defender todos aqueles que fazem parte da família. Se o Daniel considera que Chavez está a transformar a esquerda internacional numa palhaçada é porque ainda o reconhece como um dos seus. Chavez faz parte da família. Daniel sente-se na obrigação de o defender e de o justificar. Se Daniel Oliveira fosse um homem livre poderia simplesmente ignorar o Chavez. Ou poderia divertir-se com o que ele vai fazendo. Mas o Daniel leva isto muito a sério.

Acontece que o Daniel não é um homem livre. Está permanentemente condicionado pela sua pertença à esquerda. Este condicionamento torna qualquer discussão com o Daniel sobre este tema absurda. Não adianta argumentar que o problema da Venezuela é um problema sistémico de progressiva destruição das instituições. Os problemas sistémicos são problemas da ciência política, porque é que o Daniel que é de esquerda haveria de ser sensível a tais coisas? Se não serve para a luta política não interessa. Não adianta chamar à atenção para as semelhanças entre o que se está a passar na Venezuela com o que já se passou noutras democracias que degeneraram em ditaduras. Como a Venezuela segue um caminho de esquerda, o Daniel não vê semelhanças, só vê diferenças. Nem adianta argumentar que o que tornou as democracias ocidentais num lugar decente não foi o voto do povo mas os limites ao poder dos governantes. O Daniel não é sensível a estes argumentos pelo simples facto de esses argumentos não serem de esquerda.

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É interessante a reacção do Daniel aos meus últimos posts. Vem falar do Pinochet. O Daniel acha que se atacar aquilo que ele pensa ser o meu ditador, consegue salvar a face do seu para-ditador. Quando o que está em causa é a lógica do Daniel e a sua ideia absurda de que faz uma grande diferença o facto de Chavez ainda não ser um ditador. É evidente que todos os ditadores antes de o serem ainda não o eram. Mas depois de o serem é tarde demais. É isso que o Daniel não percebe, e por isso não consegue ver nenhuma semelhança entre Hitler de 1932 e o Chavez. No lento caminho para a ditadura, há um ponto a partir do qual ela se torna irreversível. O Daniel está calmamente à espera que isso aconteça na Venezuela para então deixar de sentir necessidade de defender Chavez. Mas como deveria ser evidente, as ditaduras travam-se antes de se tornarem ditaduras e não depois. Quem vai justificando o para-ditador até à última torna-se de certa forma co-responsável pelo resultado final.

Já agora, Daniel, o Mugabe ainda não é um ditador, ou já é um ditador? E se já é um ditador qual foi o preciso momento em que se tornou num ditador? Se não é, o que é que precisa de fazer para poder ser considerado um? E o Chavez? O que é que ele tem que fazer para o Daniel deixar de sentir necessidade de nos lembrar que ele foi eleito? Já vimos que uma assembleia fantoche não chega, que uma constituição ajustada às suas necessidades pessoais não chega, que a concentração do poder legislativo no presidente não chega, que o nepotismo não chega, que a perseguição de opositores não chega, que a violência contra estudantes não chega, que o rearmamento não chega, que uma política externa expansionista não chega, que a constituição de uma milícia de apoio ao seu poder não chega, que a constituição de instituições paralelas ao estado não chega, que o encerramento forçado de televisões não chega, que o ataque ao ensino privado não chega, que a colocação dos programas do ensino ao serviço da revolução não chega, que a nacionalização de empresas não chega. O que é preciso?