11.11.05

SOARES E CAVACO E CAVACO E CAVACO E CAVACO...

A campanha presidencial do Dr. Mário Soares - toda a campanha presidencial do dr. Mário Soares - gira em torno de um objecto, diríamos, de uma obsessão: o Prof. Aníbal Cavaco Silva. Soares decidiu cometer a «loucura» de se candidatar, em vez de dar lugar, nas suas palavras, «aos mais novos, para evitar que a candidatura de Cavaco fosse um passeio tranquilo nas avenidas da Capital; Soares acha que deve ser eleito porque ele, ao contrário de Cavaco, tem perfil para o cargo; Soares acha-se um humanista e, para ele, Cavaco é um gélido técnico de contas; Cavaco é buliçoso, Soares pacificador; Cavaco não tem cultura e Soares tem muitos livros em casa; Soares resistiu à ditadura, Cavaco tem uma dentadura; Cavaco é o «candidato da esfinge», Soares o candidato da mobilidade; Soares come e bebe bem, Cavaco faz dieta e toma Herbalife.
Esta psicótica propaganda de candidatura repete-se ad nauseum em todos os acto de campanha, nas entrevistas dos mandatários, nos blogues oficiais e oficiosos e, mais grave do que tudo isso, no próprio discurso do candidato.
O que é verdadeiramente espantoso, tratando-se o Dr. Mário Soares de uma velha e astuta raposa política, talvez mesmo a melhor de todas que a III República nos deu. O que se passa, então? Será que confundiram os meios com o fim? Será que ainda não perceberam que, como o bem demonstram as sondagens, cada termo de comparação entre os candidatos só beneficia o adversário? Que a pública revelação da obsessão por Cavaco Silva é uma pública assunção antecipada da derrota?
É evidente que, como ensinam os velhos manuais de Política, esta consiste em traçar uma linha delimitadora entre o «amigo» e o «inimigo», em unir os primeiros e atacar os outros. Só que os estrategas do Dr. Mário Soares estão a esquecer uma coisa e a confundir todas as outras: primeiro, os «amigos» estão desunidos e o Dr. Soares só poderá aspirar a arregimentá-los se passar à segunda volta; segundo, que o «inimigo» se enfrenta realçando o mérito próprio sem nunca citar directamente as qualidades ou os defeitos do «outro». Fazer o inverso disto, é dar palco, luzes e acção, ou seja, neste caso, a vitória, a quem se quer derrotar.
Por mais que o desdigam os estrategas de Soares, esta é a impressão que está a passar para a opinião pública e será provavelmente o motivo decisivo para dar a maioria absoluta ao Prof. Cavaco logo na primeira volta das eleições. Para mais, não falta muito tempo para fazermos a prova desta clarividente evidência.