13.9.07

A falácia do râguebi nacional

(...) O râguebi é, em Portugal, uma das modalidades desportivas mais elitistas que existem, a par da vela, da equitação ou do golfe. Uma reportagem há dias publicada numa revista, mostrava como a modalidade sempre esteve tradicionalmente nas mãos de quatro ou cinco «boas famílias» de Cascais ou do Restelo, que se sucedem, de geração em geração, nas poucas equipas de clubes existentes e na Selecção Nacional. E não custa perceber porquê: se a modalidade não tem condições de profissionalização, só quem disponha de outras fontes de rendimento, ou porque é estudante sem necessidades de dinheiro ou porque já está instalado noutra profissão — pode fazer do râguebi o seu «hobby». O que daqui resulta é um círculo vicioso, que não é tão virtuoso quanto por estes dias se tem abundantemente escrito. Se o râguebi fosse uma modalidade popular, jogada nas escolas e clubes de bairro, atrairia mais público e, com ele, transmissões televisivas e patrocinadores. Isso faria nascer jogadores profissionais, fora da elite tradicional e, fatalmente, com um campo de recrutamento alargado, faria nascer melhores jogadores (porque não há nenhuma lei genética que diga que os ricos têm mais jeito para o râguebi do que os pobres…). Ou seja: para evoluir entre nós, o râguebi precisa de uma base de recrutamento que vá muito para além do tradicional e que traga à modalidade jogadores que vivam dela, como profissionais. Mas estes não aparecem porque, tal como está, o râguebi não tem condições para os sustentar. E a diferença seria tão simples quanto isto: com uma Selecção composta essencialmente por amadores, ninguém se pode espantar nem exigir que eles não «rebentem» fisicamente nos últimos 15/20 minutos dos jogos; com uma Selecção de profissionais, esse facto já não seria aceitável, porque esses teriam tido todas as condições de treino e preparação que os outros não têm.
Uma última advertência: já sei, por experiência própria, que, nestas coisas de unanimismos patrióticos, quem destoa do coro acrítico de elogios, passa logo à categoria de mau português. Para que fique claro, então: não destoo dos elogios ao esforço e generosidade dos homens da nossa Selecção de râguebi. Digo apenas que o tão louvado estatuto de amadores é, todavia, o reflexo e a causa da não evolução da modalidade.
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