16.9.07

Só nos faltava a estética!

Na sequência das declarações de Maria José Nogueira Pinto sobre as lojas chinesas, Miguel Sousa Tavares desenvolve no Expresso uma espécie de critério estético para determinar quais lojas poderão funcionar nas zonas históricas:

«O problema das 'lojas chinesas' não está apenas na concorrência desleal que fazem, trabalhando em famílias organizadas, sem horários nem direitos sociais, e vendendo a metade do preço produtos fabricados na China em regime de 'dumping social', que Jerónimo de Sousa imagina ser a versão actualizada do comunismo. De facto, para o peditório dos pasmados 'comerciantes tradicionais' da Baixa, já demos de mais e sempre em vão. Eles não querem, não sabem e não irão nunca reciclar-se.
O problema também não está na nacionalidade dos donos, mas sim nas próprias lojas. O problema é que as 'lojas chinesas' são feias por fora e por dentro, com um aspecto sujo e degradado, e praticando um tipo de comércio de século XIX para cidades feias, sujas e degradadas. Se queremos recuperar e ressuscitar a Baixa, é óbvio que elas estão a mais ali. Se uma cidade não tem o poder de determinar que tipo de estabelecimentos quer e tolera nas suas zonas históricas, porque com isso pode atingir interesses de uma comunidade cuja cultura e hábitos são um enxerto estranho no seu meio, então mais vale dizer que prescindimos de qualquer política de defesa de valores culturais próprios. E, se temos de nos conformar com o 'estilo chinês' do pequeno comércio, então também teremos de aceitar passivamente as tabancas portuguesas com balcões de zinco, luzes de néon, cadeiras de plástico e toldos da 'Olá'.»

http://expresso.clix.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/116692

Deus nos livre de viver numa cidade que "tem o poder de determinar que tipo de estabelecimentos quer e tolera nas suas zonas históricas!" Aliás nada haverá de mais histórico na zona histórica do que uma taberna. Mas nesta visão da cidade não há tabernas. Há clubes de vinhos. Não há snack bar manhoso. Só confeitaria. Não existem mercearias. Só clubes do gourmet. Malas de imitação nem pensar. Só peles genuínas. Charutos.... O povinho ou simplesmente quem tiver gostos diversos pode ir viver para os subúrbios. Ou fazer de bonequinho de fundo. Como nos postais de antigamente.
O 'estilo chinês' e as tabancas portuguesas com balcões de zinco são o que sobraram numa Baixa desertificada por décadas do mais amalucado intervencionismo estatal