19.5.04
TUDO COMO DANTES NA SELECÇÃO
Tenho ouvido vários comentários elogiosos em relação à independência que Scolari teria demonstrado na sua convocatória de ontem. Dizem que não cedeu a pressões, que decidiu por si, apesar e para além dos clubes.
Estou em completo desacordo. Scolari reincidiu naquilo que os vários seleccionadores das últimas décadas fizeram: dividiu o mal pelas aldeias e convocou jogadores para agradar à plateia.
Acresce que algumas das suas escolhas não têm qualquer justificação futebolística.
Por exemplo, como é possível levar o Tiago à selecção depois da sua pior época de sempre? A ser verdade que Tiago sofre de uma pubalgia, será lícito convocar um jogador nestas condições? Na esperança que se venha a curar durante o estágio e, milagrosamente, recupere a forma de há 2 anos? Ou, no caso de tal não vir a suceder, acabar por convocar em sua substituição o Pedro Mendes mas, então, munido de um pretexto que não poderá desagradar à imensa mole encarnada...
E o coitado do Beto? Que faz aquela lídima confiança de todas as equipas que defrontam o Sporting ao lado de F. Couto, Jorge Andrade e R. Carvalho?
Para mim a resposta é clara e reside no timbre politicamente correcto das convocações de Scolari ? Era necessário que a grande massa benfiquista ficasse satisfeita, fosse como fosse.
Para Scolari e a sobejante escumalha da Praça da Alegria, o povo só estará com a selecção, ainda que esta perca, caso se consiga emprestar um ar de anti-Porto e anti- Pinto da Costa à equipa de todos eles.
Por isso, o melhor guarda-redes português ficou fora das contas das 3 primeiras escolhas.
Por isso, um plantel sem classe como o do Benfica tem uns incríveis 6 jogadores convocados, o mesmo número dos do F. C. Porto.
Por isso, o Sporting também tem direito a ser contentado.
Nada de novo debaixo de sol da nossa selecção. Sempre foi assim. Lembro-me de, em 1982/3/4, Fernando Gomes ser consecutivamente o melhor marcador nacional e europeu, com trinta e tal e quarenta e tal golos, e ser preterido na selecção portuguesa por avançados que tinham terminado a época com 11 e 12 golos?
Recordo que, no Mundial do México de 1986, o Futre que atravessava um momento de forma excepcional ser suplente de velhotes com lugar cativo e dos clubes que interessavam. E que segundo os jornais desportivos de então, o Carlos Manuel nos treinos berrava para os seus apaniguados: ?não passem a bola ao miúdo, não passem a bola ao puto!?
Então perdemos. Aliás, a nossa selecção nunca ganhou coisa nenhuma a não ser lendas inconsequentes e duvidosas ?vitórias? morais.
Temo que tudo esteja a ser encaminhado como dantes (quartel-general em Abrantes?). Oxalá me engane.