14.6.04

Um Domingo para esquecer

O de ontem, que me foi especialmente penoso. Desde logo pela vitória do jacobinismo francês sobre a mais velha democracia do mundo. Depois, por este mísero palpite, que só me deu uma reles "terminação".

Mas dos resultados eleitorais, faço uma leitura bem diferente da do meu companheiro CAA: mais do que nunca, ontem verificou-se um voto ideológico que é relevante quando não há projectos alternativos em discussão. Este voto ideológico favorece especialmente o PS, seja o respectivo líder Ferro Rodrigues ou outrém melhor ou pior, com mais ou menos carisma, prestígio ou postura de Estado. Ou seja, os ciclos de baixa do PS são menos pronunciados e, se descontarmos o terramoto de 85 pelo efeito PRD, o trend da sua implantação eleitoral é ascendente no longo prazo. Sintomático disto são os resultados das últimas legislativas, em que seria de esperar uma forte penalização pela irresponsabilidade guterrista e, apesar disso, mesmo com um líder desconhecido, recém nomeado e nada entusiasmante, o PS consegue um espantoso score de quase 38%.

No fundo, temos um País de mentalidade estruturalmente socialista e estatista, que se foi consolidando ao longo destes 30 anos, para o que relevou também o contributo dos vários governos liderados pelo PSD. Esta mentalidade é causa principal de um grande imobilismo e de uma resistência crescente a qualquer mudança que questione os fundamentos dos chamados direitos adquiridos. E isto é preocupante. Em Portugal e em toda a Europa, cujos eleitores penalizam fortemente quem pretenda reformar o sacrossanto modelo social europeu.

Falta talvez uma abordagem diferente (liberal, por exemplo) que implique rupturas com o status quo e que, desde Margaret Thatcher, ninguém na Europa tem coragem de assumir. Se explicada claramente aos eleitores, talvez a abstenção baixasse.