Com a simplicidade dos justos a que desde sempre nos habituou, o Dr. Manuel Monteiro, líder do PND, propôs o fim da participação de Portugal nos Acordos de Schengen e a reposição das fronteiras territoriais portuguesas para, como ele diz, impedir que o país continue a ser um refúgio de gente desqualificada que nos tem impiedosamente invadido a coberto dessa nefasta instituição. Esta posição é um inevitável corolário do princípio da soberania nacional que a União Europeia terá vindo a pôr em causa e que, diga-se em abono da verdade, Monteiro não o esconde, ele entende ser necessário defender, ao que se percebe, repondo o seu status anterior à adesão.
Estas, são posições próximas de uma direita clássica, inspiradas por um conservadorismo tradicionalista que vê hoje, como via antigamente, os sinais da modernidade como males do mundo. Como no passado e, em Portugal, num passado não muito longínquo, a industrialização era inimiga das «verdadeiras tradições nacionais», porque desprezava a ligação entre a aristocracia do campo e o bom povo que nele sadiamente trabalhava, numa visão romântica e pouco rigorosa da História, que levava alguns ingénuos a exaltarem o mundo medieval e a diabolizarem o seu tempo. Como com Salazar, que advogava o «orgulhosamente sós». Como Guénon e Evola, que diagnosticaram a crise do mundo moderno e que contra ele se revoltaram.
Hoje, como sempre, existe uma direita que não vive bem com o seu tempo e que julga que ser conservadora é aspirar à sua imagem mítica do passado. Que vê no mundo em que vive o triunfo da matéria sobre o espírito, do dinheiro ? o vil metal - e da burguesia comercial, sobre a nobreza do desprendimento da verdadeira «aristocracia intelectual». Verdadeiramente, a diferença entre esta direita e a esquerda socialista é insignificante, seja nos pressupostos, seja na medida das consequências que decorreriam para o mundo e os homens se lhes fosse possível aplicar, aos homens e ao mundo, as suas ideias. Também ela é, por origem histórica e definição conceptual, adversária das sociedades em que vive, da ideia de continuidade que transportam, preferindo remeter-se à utopia dos tempos que hão-de chegar, inversão simétrica dessa outra utopia que é a dos tempos que partiram.
É certo que o Dr. Monteiro não terá eventualmente a consciência plena da família política e doutrinária a que verdadeiramente pertence. Ele está, pura e simplesmente, a tentar arrecadar alguns milhares de votos que o façam chegar a S. Bento e, como terá ouvido dizer que por essa Europa fora o discurso contra a União Europeia os rende, resolveu entrar por aí. Por isso, não se lhe põem à sua consciência política questões como, por exemplo, em que posição ficaria Portugal na União, caso avançasse pelos caminhos que propõe. Ou, se Portugal deve regressar ao mercantilismo de fronteiras fechadas e virar costas à livre-circulação e à liberdade comercial dos 25 países comunitários. E se essa é a melhor maneira de defender aquilo a que chama «soberania nacional», conceito que deveria também tornar um pouco mais conciso, para que todos pudéssemos perceber do que está a falar.
O mesmo já se não passa, porém, com os liberais que se reclamam contra a União Europeia e, sobretudo, os que defendem que ela é uma construção socialista. Também lhes parecem bem as propostas do Dr. Monteiro? Acham que «isto» da integração comunitária se pode fazer «a la carte», no fim de contas, de forma dirigista e que, por exemplo, poderíamos manter a liberdade de comércio com zelosos soldados da GNR a cuidarem nas fronteiras da nossa preciosa soberania, enquanto nos espiolhavam os passaportes e vasculhavam as malas dos carros à procura de garrafas de wisky? Pensam, também, que a liberdade de circulação definitivamente consagrada em Schengen é nociva à liberdade individual e que a Europa deve prescindir dela?
Numa altura em que se referenda por essa Europa fora a Constituição da União, em antevésperas de isso vir a suceder em Portugal, era bom que clarificássemos o que pensamos sobre o mundo em que vivemos e no que gostaríamos que ele se tornasse, em vez de nos limitarmos a estéreis proclamações de princípios conformadores de um mundo onde, provavelmente, nenhum de nós gostaria de voltar a viver.
Estas, são posições próximas de uma direita clássica, inspiradas por um conservadorismo tradicionalista que vê hoje, como via antigamente, os sinais da modernidade como males do mundo. Como no passado e, em Portugal, num passado não muito longínquo, a industrialização era inimiga das «verdadeiras tradições nacionais», porque desprezava a ligação entre a aristocracia do campo e o bom povo que nele sadiamente trabalhava, numa visão romântica e pouco rigorosa da História, que levava alguns ingénuos a exaltarem o mundo medieval e a diabolizarem o seu tempo. Como com Salazar, que advogava o «orgulhosamente sós». Como Guénon e Evola, que diagnosticaram a crise do mundo moderno e que contra ele se revoltaram.
Hoje, como sempre, existe uma direita que não vive bem com o seu tempo e que julga que ser conservadora é aspirar à sua imagem mítica do passado. Que vê no mundo em que vive o triunfo da matéria sobre o espírito, do dinheiro ? o vil metal - e da burguesia comercial, sobre a nobreza do desprendimento da verdadeira «aristocracia intelectual». Verdadeiramente, a diferença entre esta direita e a esquerda socialista é insignificante, seja nos pressupostos, seja na medida das consequências que decorreriam para o mundo e os homens se lhes fosse possível aplicar, aos homens e ao mundo, as suas ideias. Também ela é, por origem histórica e definição conceptual, adversária das sociedades em que vive, da ideia de continuidade que transportam, preferindo remeter-se à utopia dos tempos que hão-de chegar, inversão simétrica dessa outra utopia que é a dos tempos que partiram.
É certo que o Dr. Monteiro não terá eventualmente a consciência plena da família política e doutrinária a que verdadeiramente pertence. Ele está, pura e simplesmente, a tentar arrecadar alguns milhares de votos que o façam chegar a S. Bento e, como terá ouvido dizer que por essa Europa fora o discurso contra a União Europeia os rende, resolveu entrar por aí. Por isso, não se lhe põem à sua consciência política questões como, por exemplo, em que posição ficaria Portugal na União, caso avançasse pelos caminhos que propõe. Ou, se Portugal deve regressar ao mercantilismo de fronteiras fechadas e virar costas à livre-circulação e à liberdade comercial dos 25 países comunitários. E se essa é a melhor maneira de defender aquilo a que chama «soberania nacional», conceito que deveria também tornar um pouco mais conciso, para que todos pudéssemos perceber do que está a falar.
O mesmo já se não passa, porém, com os liberais que se reclamam contra a União Europeia e, sobretudo, os que defendem que ela é uma construção socialista. Também lhes parecem bem as propostas do Dr. Monteiro? Acham que «isto» da integração comunitária se pode fazer «a la carte», no fim de contas, de forma dirigista e que, por exemplo, poderíamos manter a liberdade de comércio com zelosos soldados da GNR a cuidarem nas fronteiras da nossa preciosa soberania, enquanto nos espiolhavam os passaportes e vasculhavam as malas dos carros à procura de garrafas de wisky? Pensam, também, que a liberdade de circulação definitivamente consagrada em Schengen é nociva à liberdade individual e que a Europa deve prescindir dela?
Numa altura em que se referenda por essa Europa fora a Constituição da União, em antevésperas de isso vir a suceder em Portugal, era bom que clarificássemos o que pensamos sobre o mundo em que vivemos e no que gostaríamos que ele se tornasse, em vez de nos limitarmos a estéreis proclamações de princípios conformadores de um mundo onde, provavelmente, nenhum de nós gostaria de voltar a viver.