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Mas se assim é, se o capitalismo é assim tão mau para o ambiente porque é que os maiores problemas ambientais se encontram em países não capitalistas? Como explicar a água infestada de colera dos países do terceiro mundo ou a atmosfera irrespirável das cidades industriais do tempo da antiga União Soviética?
A destruíção do mar Aral na antiga União Soviética deve ser um mistério para alguns ambientalistas. Na URSS o lucro tinha sido abolido e tudo era decidido pelo estado. Mesmo assim, entre 1960 e 1990 o Mar de Aral perdeu metade da sua área. Algumas aldeias de pescadores ficaram a quilómetros do mar. O que é que aconteceu se não havia lucro?
Na antiga URSS a economia era totalmente controlada pelo estado, o que implicava que toda a actividade económica estava sujeita às preferências dos planificadores dos ministérios e dos comissários políticos. As preferências do consumidor não se podiam manifestar, excepto por meios políticos através da hieraquia do partido comunistata.
Ora, os burocratas do partido não podiam ter muitas prioridades. Eles não tinham nem a informação, nem os meios para atingir um número variado de objectivos. E por isso escolhiam apenas os objectivos que consideravam mais importantes. Neste caso, o que eles acharam mais importante foi produzir tanto algodão quanto possível e submeteram a este objectivo todos os outros. Para isso, precisaram de desviar os principais rios que alimentavam o mar de Aral para irrigarem os campos de algodão do sul desértico da antiga URSS.
O algodão era considerado pelos planificadores como uma espécie de «ouro branco». Era portanto aquilo a que hoje chamamos um desígnio nacional. Os estatistas adoram desígnios nacionais porque eles viabilizam o planeamento. Cá também temos o nosso «petróleo verde». É por causa dessa ideia do petróleo verde que Portugal está cheio de eucaliptos. E é por causa dessa ideia que Portugal tem uma floresta sobredimensionada que arde todos os anos.
A destruíção do mar de Aral só foi possível precisamente porque a URSS era tudo menos um país capitalista. A origem de todo o problema está na sobrevalorização do algodão em relação a outros bens que os consumidores normalmente valorizam como o peixe, a água e o ambiente. Numa economia de mercado, nenhuma empresa se lembraria de produzir algodão no deserto pelo simples facto de o projecto não ser rentável. Numa economia de mercado, as empresas investiriam na indústria da pesca e no turismo do mar de Aral e nunca se lembrariam sequer de reúnir investimentos para desviar dois rios.
O sistema político da antiga URSS também foi importante para a destruição do Mar de Aral. Numa democracia liberal, o governo nunca conseguiria desviar dois rios para irrigar campos de algodão por duas razões fundamentais:
1. Tal desvio violaria os direitos de propriedade de todos os que viviam à volta do mar de Aral
2. A decisão não resisitiria ao escrutínio da imprensa e dos eleitores
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