17.11.06

dividir é preciso

O meu amigo Pedro Arroja dizia num comentário a um «post» editado nesta última semana, e que, pela abundância, já não consigo encontrar, que o tema do aborto não devia ser discutido publicamente, porque dividia as pessoas em vez de as juntar. Eu compreendo o que ele diz, mas não posso concordar. Porque, muito francamente, parece-me mais do que necessário de o liberalismo se demarque, de vez, de uma direita que nunca o estimou e que sempre se afastou dele quando esteve no poder. Que o vem fazendo pelo menos há duzentos anos, sendo essa, em minha opinião, uma das principais razões que explica o fracasso permanente do liberalismo português e, já agora, passe a imodéstia, da própria direita quando está a governar o Estado.
Numa altura em que a direita está na oposição e em que, curiosamente, as ideias liberais começam a parecer querer ganhar espaço próprio, o pior que lhes podia suceder era serem novamente confundidas. Confundidas com uma direita que, quando chega ao poder, recusa autorizar a educação sexual nas escolas, por escrúpulo supostamente religioso (a educação sexual que, agora, é «tão necessária» para evitar o flagelo do aborto...). Confundidas com uma direita que, quando chega ao poder, faz notar que Portugal não é a Califórnia. Confundidas com uma direita que, quando chega ao poder, prefere o discurso da intervenção social ao da emancipação liberal. Confundidas com uma direita que, quando chega ao poder, aumenta os impostos em vez de os baixar, ao contrário do que prometera em campanha. Confundidas com uma direita que, quando chega ao poder, faz questão de expressamente dizer que não é liberal.
Não, meu caro Pedro Arroja. Por mim, não só acho útil, como absolutamente necessária, esta higiénica separação de águas. Para que as liberdades que, na oposição, todos dizemos defender, não se transformem em «impraticabilidades de Estado», quando nele se instala a direita. Porque, gestão por gestão, a mim, tanto me faz que seja o Eng. José Sócrates a gerir o Estado, como os Drs. Barroso e Lopes. Se calhar, como você, até sou capaz de preferir o primeiro. Pelo menos, não fico com a sensação de ter sido enganado.