16.2.07

liberalismo clássico vs. liberalismo racionalista

Com a devida vénia, aqui publicamos o comentário do Prof. Doutor José Manuel Moreira, ao «post» «O Estado Virtuoso».

«Estimado Rui,
Considero bastante quetionável a insistência no aconselhamento, mais ainda quando feito em instituições públicas sujeitas às lutas e equívocos de que a campanha do referendo nos deu (má) conta.
Por outro lado, é de admitir que quem considera o aborto um mal em si mesmo, não possa confiar que aquele(a)s - empresário(a)s - que se vão dedicar ao negócio do aborto, levem a sério a eventual necessidade de aconselhar a não o fazer, seja legal ou clandestino. O mesmo para a droga ou outras actividades ilegais mesmo que tornadas legais, isso sim é que seria um absurdo. É por isso aqui admissível e natural a desconfiança da iniciativa privada, julgo que terá que atender que, a par do valor do mercado e do liberalismo, há que considerar também os seus limites. A começar pelos limites morais - ou será que vale tudo? Quanto ao lucro, também não é válido de qualquer maneira, importa considerar como é obtido, daí a necessidade de concorrência, mercado limpo, boa fé etc, Na consideração da moralidade das actuações importa atender, segunda a boa doutrina, a questões como intenção, objecto, circunstâncias e até consequências dos actos.
Já quanto ao Estado como garante da virtude social, tem toda a razão, a virtude - como o talento e a sabedoria - deve estar nas pessoas.
Mas a verdadeira questão não está em liberais de direita ou outros mas em saber distinguir de forma coerente liberalismo clássico e liberalismo racionalista.
Esta é a distinção crucial, e dela vai depender um futuro que nos poupe às loucuras dos mesmos liberais que enxamearam a primeira Répública, e parecem ter multiplicado herdeiros: cheios do mesmo ódio e igual ignorância, ou será tão-só a fatal arrogância de que falava o outro?

Um forte abraço
JMM»